São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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Zé Celso faz "rito" com peça de Flávio de Carvalho

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Quase 80 anos após a sua estreia, "O Bailado do Deus Morto", peça escrita pelo artista Flávio de Carvalho (1899-1973), volta a ser encenada, desta vez por José Celso Martinez Corrêa e o seu Teatro Oficina.
Na Bienal de São Paulo, aberta ontem para o público, Zé Celso promete ressuscitar no espetáculo, hoje às 15h, o frescor da obra interditada pela polícia quando foi ao palco em 1933, no teatro da Experiência, de Carvalho.
"Vamos fazer a coisa acontecer ali pelas rampas", conta o diretor. "Vai exaltar a mais maravilhosa obra de arte que existe lá, que é o Himalaia do Niemeyer, o suporte que ele dá para a Bienal."
Usando atores negros com máscaras de alumínio, Carvalho narrou em sua primeira versão da peça o nascimento e a morte de um deus entre os humanos. Era um lamento em chave expressionista aliado a uma estética que se pretendia moderna ao mesmo tempo em que retomava cânones futuristas.
Numa inversão do original, Zé Celso diz ter transformado o lamento em exaltação. "Nós transformamos a morte de um deus num entusiasmo", resume. "Será um entusiasmo de várias mortes e renascimentos contínuos."
Mesmo o artista, morto em 1973, deve ressuscitar em cena, interpretado por Zé Celso. Sua mãe, Ophélia de Carvalho, que aparece agonizando na célebre "Série Trágica", desenhos agora no pavilhão, também terá a morte dramatizada na grama do parque.
Do lado de dentro, a peça cria uma espécie de roteiro passando pelas obras da Bienal. Começa com uma atriz entrando pela rampa, trazendo o ator que interpreta Teseu, herói da peça, seguida de um cortejo de seguranças.
Passa depois pela instalação de Nuno Ramos, um viveiro de urubus, e outras obras, como o registro das performances de Carvalho. Atores serão acompanhados de carro de som e projeção.
"Estou fazendo como um rito, uma série de epifanias visuais em pontos fortes", diz Zé Celso. "É o teatro como lugar onde tudo é possível, em que o anarquista é coroado."
Também na tarde de hoje, o artista português Pedro Barateiro, que expõe uma escultura nesta Bienal, fará uma leitura performática.


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