RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Na comédia romântica "500 Dias com Ela" (2009), há uma cena em que o casal protagonista discute a relação como se estivesse em um pastiche de filme francês dos anos 60: olhares compungidos, longos silêncios cortados por frases solenes, trilha melancólica de piano, preto e branco contrastado.
Ao rever "Trinta Anos Esta Noite" (1963), fica difícil afastar a sensação de que é exatamente esse o tipo de obra que inspirou a ironia do americano. A descrição acima caberia perfeitamente na abertura do trabalho de Louis Malle, em que o protagonista Alain Leroy (Maurice Ronet) fracassa ao tentar fazer sexo com uma amante e refugia-se na autocomiseração.
Baseado no livro "Le Feu Follet" (Pierre Drieu de La Rochelle), o filme acompanha a descida ao inferno de Leroy, que, ao completar 30 anos, deixa sanatório de Versalhes -no qual estava internado por alcoolismo- e vai a Paris reencontrar amigos e amantes em jornada que aprofunda seu desespero.
Visto como um cineasta com gosto pelo escândalo por filmes como "Sopro no Coração", "Pretty Baby" e "Os Amantes", Malle encara aqui o tema nada fácil do suicídio, recorrendo a certos tiques de um certo cinema existencialista -possivelmente um termo redutor, mas que dá conta de uma parcela significativa da produção francesa da época.
Mas o cineasta o faz com tamanha propriedade e delicadeza que torna este filme um dos pontos altos de sua trajetória. De forma que cada gesto, cada silêncio e cada frase, ainda que pomposos aos espectadores de hoje, tenham enorme ressonância. Antes o original francês ao pastiche americano.

TRINTA ANOS ESTA NOITE
DISTRIBUIÇÃO Lume Filmes
QUANTO R$ 49,90
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

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