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CRÍTICA
Ghobadi coloca a vida no caminho das adversidades
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Às vezes o "eixo do mal" desloca-se rapidamente. Para os
americanos de hoje, ele é o Iraque
de Sadam. Para os de alguns anos
atrás, era o Irã, de modo que as
mulheres desfiguradas por bombas químicas de "Exílio no Iraque" não importavam muito para
o país a quem os iranianos denominavam de "o grande Satã".
No meio disso tudo ficam os
curdos. Mais precisamente, eles
ficam na região de fronteira entre
Irã e Iraque. Nenhum dos dois governos se preocupa demais com
seu destino. Nem o dos EUA.
Eles preocupam a Bahman
Ghobadi, diretor de "Tempo de
Embebedar Cavalos", que agora
em "Exílio no Iraque" narra a história do velho músico Mirza, que,
em companhia de dois filhos,
também músicos, parte em busca
de Hanareh, sua ex-mulher, que
estaria agora no lado iraquiano.
O trajeto é, a rigor, um relato da
destruição desse povo. Relato antes de tudo geográfico, pois se trata de uma região gelada e árida.
Essa aridez pode ser duplicada
pela destruição (estamos no momento da guerra Irã-Iraque).
O que temos a ver, em princípio,
são campos de refugiados, aldeias
que se tornaram desertos, órfãos,
assaltantes de estrada. A morte,
em uma palavra. Ao mesmo tempo, há a presença persistente da
vida: casamentos, paqueras etc.
É daí que vem, em boa parte, o
encanto de "Exílio no Iraque", assim como do seco tratamento de
Ghobadi aos dramas que se de-
senrolam aos nossos olhos. Parece tratar-se não só de uma opção
estética (característica, no mais,
do recente cinema iraniano) como da constatação de falta de
tempo para verter lágrimas: em
meio a desgraças que podem ser
tanto pessoais como coletivas, ali
tudo parece ser regido por um sólido instinto de sobrevivência.
E é daí que vem a vitalidade do
filme de Ghobadi. Se a arte da digressão não é tão desenvolvida
quanto em um Kiarostami, por
exemplo, o diretor revela uma
acentuada capacidade de usar o
humor como forma de equilibrar
o relato, evitando que ele se torne
um rosário de desgraças, ou antes,
fazendo com que a própria vida
-e seus acasos- se sobreponha
às muitas adversidades que vitimam os curdos.
Avaliação:
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