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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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FILMES DE HOJE

TV PAGA

Valores corrompidos constroem "O Invasor"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O invasor de "O Invasor" é um personagem que nos é bem familiar: o penetra, aquele que vai aonde não foi chamado.
O personagem concebido por Marçal Aquino, roteirista, e Beto Brant, diretor deste filme, tem essa característica. Alguém que não sabe o seu lugar, pois, sendo um matador, portanto pau-mandado, decide participar das benesses do mundo de seus senhores.
Pode-se imaginar que o Brasil viraria o caos caso esse personagem saísse da ficção para a vida real. Todos os jagunços do país resolveriam invadir a casa-grande, ignorando a divisão de trabalho que os relega à condição de não dito: são os caras que fazem o trabalho sujo, que acabam condenados pela Justiça, cujo nome não é pronunciado nas reuniões familiares. Mas são um pilar de nossa sociedade (ou de nosso atraso, como se preferir).
Bem, pois é essa situação anárquica que "O Invasor" cria, não sem humor, na pessoa do matador Paulo Miklos. O motivo pelo qual Alexandre Borges e Marco Ricca o contratam é ignóbil: querem evitar que um sócio continue a impedi-los de se dedicar a falcatruas. O honesto não é apenas um incômodo, é alguém que deve ser eliminado.
É inútil dizer que estamos diante de um filme moralista, assoberbado com a perda não só de valores como até mesmo de parâmetros. Pois se do ponto de vista de Borges e Ricca existe uma questão de valor, do ponto de vista de Miklos, o invasor, o problema é de ausência de parâmetro.
Já sabemos, em linhas gerais, que sem valores conseguimos viver, desde que haja pedra para construir muros altos. A falta de limite, sua decorrência, pode ser um problema mais complicado: não há muros que possam contê-la. Basta aos matadores e similares descobrir que são iguais a seus senhores em muito mais pontos do que estes gostariam de admitir.


O INVASOR. Quando: hoje, às 22h, no Cinemax.

TV ABERTA

Conflito vira patologia em "Três Máscaras de Eva"

Independence Day
Globo, 12h50.   
(Independence Day). EUA, 96, min. Direção: Roland Emmerich. Com Jeff Goldblum, Bill Pullman, Will Smith. No dia 4 de julho, o Dia da Independência nos EUA, alienígenas invadem a Terra, explodem a Casa Branca, pintam e bordam. Filme paranóico cuja importância maior consiste em ter adivinhado, de certa forma, o 11 de Setembro e sua destruição. O pasmo dos figurantes é igual ao das pessoas do episódio real. Aliens são os árabes, no caso. Mas podemos ser nós, cucarachos, conforme a conveniência. Quem acha que deve se divertir com isso, bem: vai fundo.

Tico-Tico no Fubá
Cultura, 15h30.
  
Brasil, 50, 95 min. Direção: Adolfo Celi. Com Anselmo Duarte, Tônia Carrero, Marisa Prado. Biografia do compositor Zequinha de Abreu (Duarte), de "Tico-Tico no Fubá", tendo como apoio sua vida amorosa, dividida entre sua mulher (Prado) e sua paixão (Carrero). Produção suntuosa da Vera Cruz, com elenco "all star" (na época), prejudicado pelos defeitos crônicos da companhia: roteiro fraco, direção frouxa, diálogos péssimos. Ainda assim, merece ser visto ao menos uma vez na vida. P&B.

Mr. Bean - O Filme
Record, 18h45.
  
(Mr. Bean - The Movie). Inglaterra, 97, 89 min. Direção: Mel Smith. Com Rowan Atkinson, Burt Reynolds. Mr. Bean, famoso tipo da TV britânica, passa ao cinema na condição de funcionário de uma galeria de arte que vai aos EUA cuidar de uma importante transação. E apronta, claro. Mas o personagem no cinema não tem lá grande vigor.

A Hora do Rush
SBT, 22h.
  
(Rush Hour). EUA, 98, 97 min. Direção: Brett Ratner. Com Jackie Chan, Chris Tucker, Elizabeth Pena. O detetive Jackie Chan vai para os EUA, a fim de resolver caso de sequestro de filha de um diplomata chinês. Para seu parceiro, a polícia designa um detetive atrapalhado. À moda de Chan, humor e artes marciais.

Duplo Impacto
Globo, 23h15.
 
(Double Impact). EUA, 91, 109 min. Direção: Sheldon Lettich. Com Jean-Claude van Damme, Geoffrey Lewis. "Os Irmãos Corsos", versão Van Damme. Aqui, bebês gêmeos separados após a morte dos pais (por gângsteres) reencontram-se adultos e fortinhos. Objetivo: vingança.

As Três Máscaras de Eva
Bandeirantes, 0h.
  
(The Three Faces of Eve). EUA, 57, 95 min. Direção: Nunnally Johnson. Com Joanne Woodward, David Wayne, Lee J. Cobb. Um caso de tripla personalidade: os distúrbios emocionais da dona-de-casa Woodward levam-na ao psiquiatra, Cobb, que tenta se entender com as múltiplas personalidades que ela revela e as vidas diferentes que leva. Bem à americana, o que é conflitivo numa personalidade tende a ser visto como patologia. Mas há momentos de interesse a não desprezar, e o filme de Johnson (sobretudo um grande roteirista) deu a Woodward o Oscar de melhor atriz. P&B. Legendado. (IA)


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