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MOSTRA BR DE CINEMA
Diretor Richard Linklater fala sobre o processo de criação do filme, com Julie Delpy e Ethan Hawke
"Antes do Pôr-do-Sol" reafirma o provisório
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
É bem possível que "Antes do
Pôr-do-Sol" seja um caso único
no cinema americano recente: a
continuação de um filme independente ("Antes do Amanhecer") que não rendeu milhões de
dólares. O original, de 1995, chegou a ser definido como uma espécie de "Casablanca" da geração
dos anos 90, com com sua história
de amor simples, contada com
diálogos plausíveis, descrevendo
a noite única de amor do americano Jesse (Ethan Hawke) e da francesa Celine (Julie Delpy), de passagem por Viena.
Nove anos depois, Jesse e Celine
voltam a se encontrar em Paris.
Ele, agora, tornou-se um escritor
famoso, e está de passagem pela
cidade para lançar um romance.
Mais maduros, menos idealistas,
mas não menos românticos, eles
terão algumas horas antes do vôo
de volta de Jesse para fazer um balanço de suas vidas até ali.
Na entrevista abaixo, o diretor
Richard Linklater conta detalhes
da realização de "Antes do Pôr-do-Sol", hoje, às 14h, na Sala UOL
(última exibição amanhã) um dos
grandes destaques do último Festival de Berlim.
Folha - É difícil assistir a "Antes
do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-sol" e não pensar nos filmes de
Eric Rohmer. Você gosta da obra
dele? Reconhece a influência?
Richard Linklater - Gosto muito,
mas na verdade acho que Rohmer
nunca faria um filme assim. Suas
tramas são bem mais complexas e
envolvem vários personagens, enquanto esses meus dois filmes
mostram basicamente duas pessoas travando um diálogo que
procuro filmar da forma mais
simples possível, como num documentário. Rohmer faz algo
bem mais sofisticado, apesar de
também parecer simples.
Folha - Como surgiu a idéia desta
continuação?
Linklater - Conversamos sobre
ela ainda enquanto trabalhávamos em "Antes do Amanhecer",
mas esquecemos o assunto por
dois anos. Há sete anos, mais ou
menos, retomamos a idéia porque nos demos conta de que
aquela havia sido uma experiência especial para todos nós, e valeria tentar repeti-la. Julie, Ethan e
eu tivemos uma incrível química
juntos, temos a mesma visão da
vida, o mesmo senso de humor...
Mas não fizemos nada imediatamente porque queríamos esperar
até que os personagens ficassem
um pouco mais velhos.
Folha - O roteiro é assinado por
você e pelos dois atores. Como foi
escrito?
Linklater - Foi bem parecido
com o processo do primeiro filme. Nós nos sentamos em um
quarto de hotel por dois ou três
dias e escrevemos uma sinopse
detalhada da história. Depois, durante mais ou menos um ano, fomos trocando e-mails e faxes. Servi como um condutor, mas foram
eles que me mandaram monólogos e diálogos, cenas e idéias novas, enquanto eu ia compilando e
editando no roteiro. Depois,
quando a Castle Rock confirmou
que produziria o filme, nós nos
encontramos de novo em um hotel de Paris, quando saiu a versão
final. Só filmamos quando tínhamos o texto definitivo nas mãos.
Folha - Então não há nada improvisado, apesar de termos a nítida
impressão?
Linklater - Nada. Tudo o que foi
trabalhado foi escrito, como em
uma peça. E quase nada foi cortado. Evidentemente que a simplicidade é apenas aparente. É muito
difícil obter essa sensação de espontaneidade quando você tem
um texto pronto, e é ainda mais
difícil quando ele é filmado em
planos-seqüência longos. Os atores trabalharam duro. É muito difícil fazer uma cena em que a câmera te acompanha por pouco
mais de dez minutos, sem cortes,
e dizer o texto naturalmente.
Folha - Qual a principal diferença
entre os dois filmes?
Linklater - O primeiro tinha uma
atmosfera onírica, se passava à
noite, os personagens não tinham
qualquer compromisso. Esse foi
bem mais pé-no-chão: os personagens já estão trabalhando, têm
suas vidas, tudo se passa durante
o dia... E não há interações com
outras pessoas.
Folha - Haverá um terceiro filme?
Linklater - A idéia já apareceu,
durante a realização do segundo,
mas ainda é cedo para dizer se vai
acontecer ou não. Julie diz que, se
quisermos filmar cenas de sexo,
precisamos fazer logo! O que é ridículo, pois Julie fica mais bonita
a cada dia. Hoje ela está mais bonita do que no primeiro filme.
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