São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Álbum duplo faz passeio pelo choro desde 1870

Disco reúne 28 formações instrumentais distintas para suas 28 composições

CDs têm lançamento simultâneo no Brasil e no Japão e trazem obras de artistas como Pixinguinha e Jacob do Bandolim

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

São 28 faixas com 28 formações instrumentais diferentes. O músico Henrique Cazes quis "fugir da mesmice" e mostrar no CD duplo "Uma História do Choro" a diversidade do gênero. Com produção sua e de Katsunori Tanaka, japonês com muitas passagens pelo Brasil, o disco está sendo lançado aqui e no Japão simultaneamente.
O passeio começa na década de 1870 com "Flor Amorosa", de Joaquim Callado. Leonardo Miranda toca uma flauta de ébano semelhante à que Callado usava. Mas também entram trombone (Zé da Velha), trompete (Silvério Pontes) e percussão (Beto Cazes), que não eram utilizados na época.
"O "Flor Amorosa" resume a idéia do disco. Começa meio formal, só com flauta, cavaquinho e violão, como era naquele tempo, e depois vira uma festa, como são as rodas de choro hoje", diz Cazes, 48, que toca cavaquinho e violão tenor no disco, encabeçando um time de 26 músicos.
O primeiro CD contempla outros pioneiros, como Henrique Alves de Mesquita, Patápio Silva, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazareth.
Foram eles que começaram a dar uma cara brasileira a músicas européias como a polca, a valsa e a habanera.
Essa cara ganhou o nome de choro: primeiramente, uma maneira de tocar; depois, um novo gênero.
Cazes tomou liberdades como misturar o "Tema de Klezmer", tocado por judeus nômades, à polca "Sultana", de Chiquinha Gonzaga.
"Como diz o Tanaka, não tem problema fazer um pouco de fantasia, desde que ela seja convincente. Foram judeus russos, por exemplo, que trouxeram o violão de sete cordas para o Brasil. No choro, é mistura de tudo o que é lado", diz ele, autor do livro "Choro - Do Quintal ao Municipal".

Divisor de águas
Pixinguinha, o nome mais importante da história do choro, fecha o primeiro CD e abre o segundo, representando o papel de divisor de águas, daquele que aglutinou diversas referências (afro, rurais, do teatro de variedades) numa forma musical. "Lamentos" foi escolhido como marco dessa nova fase.
Benedito Lacerda, Abel Ferreira, Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo são outros compositores do segundo CD, que não chega até autores do momento.
"Não dava para fazer um CD triplo. E os contemporâneos têm sido gravados. É um assunto que está mais ou menos coberto", justifica Cazes. O músico e produtor também explica por que faltam nomes importantes num projeto cujo subtítulo, por decisão da gravadora, é "Os maiores solistas da atualidade interpretam clássicos do choro".
"O Hamilton de Holanda é o melhor bandolinista de todos os tempos, mas pode não ser o melhor para tocar "Picadinho à Baiana", do Luperce Miranda. Muita gente boa poderia ter participado, mas escolhemos em função do repertório", afirma ele.


UMA HISTÓRIA DO CHORO
Artistas:
vários
Gravadora: Deckdisc
Quanto: R$ 35, em média


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