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Palavrão brilha em teste para Surfistinha
Candidatas recheiam texto com baixaria e fazem caras e bocas para tentar conquistar o papel da ex-prostituta no cinema
Mesmo sem diretor pedir, atrizes arrancam a roupa na seleção; finalistas terão de ficar de biquíni, e nome da escolhida sai em dezembro
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nathália chega toda de preto,
ofegante, linda e loira. Tira o
sobretudo e arranca às pressas
os fones de ouvido do iPod. De
calça e corpete apertados, 50%
dos seios à mostra, posiciona-se diante dos holofotes, segura
um papel sulfite com seu nome,
idade e altura. Tem dois minutos para convencer os homens
do estúdio de que é a garota
perfeita para fazer o papel de
Bruna Surfistinha no cinema.
"O que você quiser que eu faça vou fazer", avisa a Rodrigo
Pitta, que, sentado em uma daquelas cadeiras de cineastas de
Hollywood, é responsável pelo
processo de seleção de elenco
do filme sobre a ex-prostituta.
"Se mandar dançar, eu danço, tirar a roupa, tiro. Sei tudo
sobre ela, li os livros, ouvi audiolivros [era o que tocava em
seu iPod], entrevistas, freqüentei todas as casas em que ela
trabalhou, fui até no Vintão."
Pitta e Rodrigo Letier, produtor-executivo do longa-metragem, se impressionam. "No
Vintão?" Ela conta que esse
prostíbulo "é toscão, do tipo
fast-food". Por R$ 20, o cara
tem direito a dez minutos.
"O Doce Veneno do Escorpião", o filme, é baseado no
best-seller homônimo, sobre a
história de Raquel Pacheco, garota da classe média alta paulistana que se jogou nos bordéis
como Bruna Surfistinha.
O premiado cineasta Karim
Aïnouz ("O Céu de Suely", "Madame Satã") assina o argumento do roteiro, em parceria com a
escritora Antonia Pellegrino, e
a direção é de Marcus Baldini,
estreante em longas-metragens. As filmagens terão início
em março de 2008, e o lançamento é previsto para 2009.
Nathália Rodrigues, 30, é
uma das 500 já testadas para
interpretar a prostituta no cinema. Por e-mail (elenco.do
ceveneno@tvzero.com.br),
mais de mil já se inscreveram
para esse papel, além dos secundários -outras garotas de
programa, a dona do bordel,
clientes e os pais de Surfistinha. Até dezembro, quando
Baldini define a protagonista,
mais de 2.000 serão testadas.
Apesar das cenas de sexo
(não explícito) que o filme obviamente terá, a fase inicial de
seleção não exige que as candidatas mostrem o corpo. "As
gostosas a gente percebe logo,
mesmo de roupa dá para ver
quem não é caída", brinca Pitta.
Sério, avisa: "A escolhida tem
que saber interpretar esse momento de transformação da
personagem". Mas nas etapas
finais do processo de seleção,
elas terão de ficar de biquíni
diante dos diretores.
"Surfistinha não tem um corpo exuberante, não é linda, era
até gordinha no início. Tem
uma beleza natural, mais gostosinha, brasileira", resume.
Palavrão
A Folha acompanhou uma
série de testes anteontem, em
um estúdio de Pinheiros (zona
oeste de São Paulo). A primeira
etapa era livre; as atrizes poderiam, por exemplo, improvisar
um trecho do livro. Em fila
diante da porta do estúdio,
aguardavam a vez de entrar,
entregar a Pitta sua ficha e se
posicionar diante da câmera.
Tinham no máximo dois minutos para caras, bocas e muito
palavrão. "Mesmo sem a gente
pedir, algumas chegam e vão
arrancando a roupa", conta o
diretor de casting (elenco).
"Adoro trepar, meter, adoro
sexo. Pode ser com homem,
mulher, até cachorro. Gosto de
seduzir todo mundo, meu porteiro, até minha faxineira [...
trechos impublicáveis...] Desde
os 7 anos eu me masturbo",
mandou Mariana Clara, 30,
uma das que se destacaram
-livrou-se do "NO" de Pitta,
que anotou "OK" em sua ficha.
Diferentemente de Nathália,
a linda e loira, Mariana nem leu
o livro de Surfistinha. Na fila do
teste, ouviu um trecho do audiolivro no iPod da colega e se
inspirou na voz da prostituta.
Ela também já fez papel de
cortesã em "Essas Mulheres",
da Record. Nathália teve papéis
pequenos em "Malhação", da
Globo, e novelas da Record.
Até agora, a mais notável já
testada foi Paula Picarelli, que
fez uma lésbica em "Mulheres
Apaixonadas", da Globo, e hoje
apresenta um programa de literatura na TV Cultura.
Além das inscritas, os diretores irão atrás das famosas. Ainda não decidiram se é melhor
uma atriz desconhecida ou
uma Deborah Secco da vida.
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