São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palavrão brilha em teste para Surfistinha

Candidatas recheiam texto com baixaria e fazem caras e bocas para tentar conquistar o papel da ex-prostituta no cinema

Mesmo sem diretor pedir, atrizes arrancam a roupa na seleção; finalistas terão de ficar de biquíni, e nome da escolhida sai em dezembro

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nathália chega toda de preto, ofegante, linda e loira. Tira o sobretudo e arranca às pressas os fones de ouvido do iPod. De calça e corpete apertados, 50% dos seios à mostra, posiciona-se diante dos holofotes, segura um papel sulfite com seu nome, idade e altura. Tem dois minutos para convencer os homens do estúdio de que é a garota perfeita para fazer o papel de Bruna Surfistinha no cinema.
"O que você quiser que eu faça vou fazer", avisa a Rodrigo Pitta, que, sentado em uma daquelas cadeiras de cineastas de Hollywood, é responsável pelo processo de seleção de elenco do filme sobre a ex-prostituta.
"Se mandar dançar, eu danço, tirar a roupa, tiro. Sei tudo sobre ela, li os livros, ouvi audiolivros [era o que tocava em seu iPod], entrevistas, freqüentei todas as casas em que ela trabalhou, fui até no Vintão."
Pitta e Rodrigo Letier, produtor-executivo do longa-metragem, se impressionam. "No Vintão?" Ela conta que esse prostíbulo "é toscão, do tipo fast-food". Por R$ 20, o cara tem direito a dez minutos.
"O Doce Veneno do Escorpião", o filme, é baseado no best-seller homônimo, sobre a história de Raquel Pacheco, garota da classe média alta paulistana que se jogou nos bordéis como Bruna Surfistinha.
O premiado cineasta Karim Aïnouz ("O Céu de Suely", "Madame Satã") assina o argumento do roteiro, em parceria com a escritora Antonia Pellegrino, e a direção é de Marcus Baldini, estreante em longas-metragens. As filmagens terão início em março de 2008, e o lançamento é previsto para 2009.
Nathália Rodrigues, 30, é uma das 500 já testadas para interpretar a prostituta no cinema. Por e-mail (elenco.do ceveneno@tvzero.com.br), mais de mil já se inscreveram para esse papel, além dos secundários -outras garotas de programa, a dona do bordel, clientes e os pais de Surfistinha. Até dezembro, quando Baldini define a protagonista, mais de 2.000 serão testadas.
Apesar das cenas de sexo (não explícito) que o filme obviamente terá, a fase inicial de seleção não exige que as candidatas mostrem o corpo. "As gostosas a gente percebe logo, mesmo de roupa dá para ver quem não é caída", brinca Pitta.
Sério, avisa: "A escolhida tem que saber interpretar esse momento de transformação da personagem". Mas nas etapas finais do processo de seleção, elas terão de ficar de biquíni diante dos diretores.
"Surfistinha não tem um corpo exuberante, não é linda, era até gordinha no início. Tem uma beleza natural, mais gostosinha, brasileira", resume.

Palavrão
A Folha acompanhou uma série de testes anteontem, em um estúdio de Pinheiros (zona oeste de São Paulo). A primeira etapa era livre; as atrizes poderiam, por exemplo, improvisar um trecho do livro. Em fila diante da porta do estúdio, aguardavam a vez de entrar, entregar a Pitta sua ficha e se posicionar diante da câmera.
Tinham no máximo dois minutos para caras, bocas e muito palavrão. "Mesmo sem a gente pedir, algumas chegam e vão arrancando a roupa", conta o diretor de casting (elenco).
"Adoro trepar, meter, adoro sexo. Pode ser com homem, mulher, até cachorro. Gosto de seduzir todo mundo, meu porteiro, até minha faxineira [... trechos impublicáveis...] Desde os 7 anos eu me masturbo", mandou Mariana Clara, 30, uma das que se destacaram -livrou-se do "NO" de Pitta, que anotou "OK" em sua ficha.
Diferentemente de Nathália, a linda e loira, Mariana nem leu o livro de Surfistinha. Na fila do teste, ouviu um trecho do audiolivro no iPod da colega e se inspirou na voz da prostituta.
Ela também já fez papel de cortesã em "Essas Mulheres", da Record. Nathália teve papéis pequenos em "Malhação", da Globo, e novelas da Record.
Até agora, a mais notável já testada foi Paula Picarelli, que fez uma lésbica em "Mulheres Apaixonadas", da Globo, e hoje apresenta um programa de literatura na TV Cultura.
Além das inscritas, os diretores irão atrás das famosas. Ainda não decidiram se é melhor uma atriz desconhecida ou uma Deborah Secco da vida.


Texto Anterior: Crítica/"Renaissance": Desenho noir futurista resiste a clichês
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.