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Peça questiona valor do "deus" dinheiro
"Homem sem Rumo", do norueguês Arne Lygre, conta a história de empresário que é pobre do ponto de vista emocional
Com direção de Roberto Alvim e Juliana Galdino e Milhem Cortaz no elenco, montagem entra em cartaz hoje no Sesc Avenida Paulista
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O dinheiro como entidade
suprema dos dias atuais move a
tragédia "Homem sem Rumo",
do norueguês Arne Lygre, escritor e dramaturgo contemporâneo que tem sido encenado
em países como Suécia, Alemanha, Dinamarca e Inglaterra.
Uma montagem que inicia
temporada hoje, no Sesc Avenida Paulista, apresenta Lygre,
até o momento inédito no país,
aos brasileiros.
"Homem sem Rumo" é a
obra-prima do autor que, no
momento, está em cartaz na
Suíça com "Às Vezes É Preciso
um Punhal para Atravessar o
Caminho". Foi garimpada por
Roberto Alvim, diretor da montagem nacional e fundador da
Club Noir -ao lado da atriz Juliana Galdino-, companhia
que tem o objetivo de levar ao
palco somente textos de autores contemporâneos.
Alvim tem o privilégio de encenar os desafios do texto de
Lygre munido de dois importantes atores da nova geração: a
própria Galdino e Marat Descartes (ambos premiados com
o Shell; ela, em 2002, e ele, em
2006). Milhem Cortaz, Lavínia
Pannunzio, Bruno Giordano e
Lígia Yamaguti também integram o elenco.
"Homem sem Rumo" conta a
trajetória de um rico empresário, desde o momento em que
ele decide investir na construção de uma cidade até sua morte, mais de 20 anos depois. Uma
vida afortunada por realizações
materiais monumentais, mas
miserável do ponto de vista
emocional. "A peça faz um raio-X de como a gente se relaciona
com os outros e nós mesmos",
diz Galdino.
A obra aponta para a falta de
sentido do homem contemporâneo e faz uma crítica à valorização extremada do dinheiro
na sociedade de hoje e também
à sua estrutura. "A peça busca
uma linguagem diferente para
o teatro", afirma Descartes.
Estratégias
Lygre se apropria de estratégias dramatúrgicas de Bertolt
Brecht (1898-1956), atualizando-as para uma dinâmica de
signos mais próxima do século
21. Usa a narrativa épica e a teoria do distanciamento para formar uma poética nova.
Em determinados momentos, os personagens se colocam
em terceira pessoa. O recurso,
ao contrário da intenção de
Brecht, aproxima o público da
história. Ao mesmo tempo, o
texto desafia os intérpretes
com quebras de ilusão. "O dramaturgo exige que o ator consiga transitar entre a fábula e a
realidade", completa Galdino.
Alvim afirma ser arriscada a
encenação que escolheu seguir,
na qual rejeita o naturalismo e
aposta num jogo distanciado de
cena. "Mas esta é a única possibilidade que não provoca ruído
entre o que está sendo dito e
visto", diz o diretor.
HOMEM SEM RUMO
Direção: Roberto Alvim
Com: Juliana Galdino, Marat Descartes, Milhem Cortaz, Lavínia Pannunzio,
Bruno Giordano e Lígia Yamaguti
Quando: sex. a dom., às 21h; de hoje
até 16/12
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, Paraíso, 3179- 3700)
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