São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Peça questiona valor do "deus" dinheiro

"Homem sem Rumo", do norueguês Arne Lygre, conta a história de empresário que é pobre do ponto de vista emocional

Com direção de Roberto Alvim e Juliana Galdino e Milhem Cortaz no elenco, montagem entra em cartaz hoje no Sesc Avenida Paulista

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O dinheiro como entidade suprema dos dias atuais move a tragédia "Homem sem Rumo", do norueguês Arne Lygre, escritor e dramaturgo contemporâneo que tem sido encenado em países como Suécia, Alemanha, Dinamarca e Inglaterra.
Uma montagem que inicia temporada hoje, no Sesc Avenida Paulista, apresenta Lygre, até o momento inédito no país, aos brasileiros.
"Homem sem Rumo" é a obra-prima do autor que, no momento, está em cartaz na Suíça com "Às Vezes É Preciso um Punhal para Atravessar o Caminho". Foi garimpada por Roberto Alvim, diretor da montagem nacional e fundador da Club Noir -ao lado da atriz Juliana Galdino-, companhia que tem o objetivo de levar ao palco somente textos de autores contemporâneos.
Alvim tem o privilégio de encenar os desafios do texto de Lygre munido de dois importantes atores da nova geração: a própria Galdino e Marat Descartes (ambos premiados com o Shell; ela, em 2002, e ele, em 2006). Milhem Cortaz, Lavínia Pannunzio, Bruno Giordano e Lígia Yamaguti também integram o elenco.
"Homem sem Rumo" conta a trajetória de um rico empresário, desde o momento em que ele decide investir na construção de uma cidade até sua morte, mais de 20 anos depois. Uma vida afortunada por realizações materiais monumentais, mas miserável do ponto de vista emocional. "A peça faz um raio-X de como a gente se relaciona com os outros e nós mesmos", diz Galdino.
A obra aponta para a falta de sentido do homem contemporâneo e faz uma crítica à valorização extremada do dinheiro na sociedade de hoje e também à sua estrutura. "A peça busca uma linguagem diferente para o teatro", afirma Descartes.

Estratégias
Lygre se apropria de estratégias dramatúrgicas de Bertolt Brecht (1898-1956), atualizando-as para uma dinâmica de signos mais próxima do século 21. Usa a narrativa épica e a teoria do distanciamento para formar uma poética nova.
Em determinados momentos, os personagens se colocam em terceira pessoa. O recurso, ao contrário da intenção de Brecht, aproxima o público da história. Ao mesmo tempo, o texto desafia os intérpretes com quebras de ilusão. "O dramaturgo exige que o ator consiga transitar entre a fábula e a realidade", completa Galdino.
Alvim afirma ser arriscada a encenação que escolheu seguir, na qual rejeita o naturalismo e aposta num jogo distanciado de cena. "Mas esta é a única possibilidade que não provoca ruído entre o que está sendo dito e visto", diz o diretor.


HOMEM SEM RUMO
Direção:
Roberto Alvim
Com: Juliana Galdino, Marat Descartes, Milhem Cortaz, Lavínia Pannunzio, Bruno Giordano e Lígia Yamaguti
Quando: sex. a dom., às 21h; de hoje até 16/12
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, Paraíso, 3179- 3700)


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