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Bienal paralela
Grande mostra off-Bienal, a Paralela será aberta hoje com trabalhos de 61 artistas de 11 galerias em galpão reformado do Liceu de Artes e Ofícios, em SP
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Logo na entrada do galpão
reformado para receber a exposição Paralela, está uma foto do
segundo andar do pavilhão da
Bienal, vazio como ficará durante esta edição da mostra.
É um elo quase irônico entre
a exposição monumental no
Ibirapuera -que, com a crise,
teve sua escala reduzida- e a
reunião de obras de 61 artistas
de 11 galerias paulistanas, que
ocupam este espaço da cidade
até agora vazio -os galeristas
por trás do evento reformaram
os galpões do Liceu de Artes e
Ofícios, construído em 1912 e
desativado desde 1990, que recebe a partir de hoje a mostra.
Mas não é bem o vazio que
ocupa a Paralela, e sim a idéia
de uma ausência como motor, a
influência do espaço sobre o artista. "Eu refuto a idéia de Bienal do Vazio, que é, na verdade,
um gesto muito cheio", afirma
o curador da Paralela, Rodrigo
Moura. "O segundo andar do
pavilhão é o lugar mais importante da arte brasileira no século 20. Deixar aquilo tudo vazio
é um "statement" [afirmação]."
Da mesma forma que, vazios
ou não, as cidades, os prédios e
as paisagens conseguem dar fôlego e sufoco às obras dos artistas na Paralela, principal mostra do circuito off-Bienal, neste
ano em sua quarta edição. E essas obras falam da relação com
a arquitetura, da vida dentro
dos espaços projetados e do que
fazer quando nada mais importa, a festa acaba e a poesia escorre pelo ralo.
Junto da entrada, Renata Lucas instalou um tapete verde,
grande demais para o espaço e,
por isso, enrolado em enormes
ondas aveludadas, que ligam o
lado de fora ao de dentro do galpão, como se anunciassem tudo
que segue como a interpretação
de cada artista desse espaço
cru, seco e sem retoques.
É uma poça viscosa de óleo
negro que reflete, aliás, teto e
paredes do Liceu. Nuno Ramos
esculpiu no chão uma gravura
de Oswaldo Goeldi e encheu de
óleo os vãos em baixo relevo. "O
que é preto no desenho vira
óleo, e o que é branco fica
chão", descreve Ramos. "É um
mundo solar por fora e outro
triste por dentro."
E são as janelas do Liceu objeto de outras duas obras: Lúcia
Koch separa o galpão do edifício anexo reconstruindo padrões e treliças sobre aberturas
que já existiam, enquanto Nicolas Robbio toma imagens dos
vitrais geométricos do prédio e
as projeta justapostas entre
quatro paredes, como se tornasse vivas as "Fotoformas" do
concretista Geraldo de Barros.
Arquitetura íntima
E a vida, de fato, resiste à aridez do galpão. Brígida Baltar
faz um jardim suspenso com
plantas que crescem dentro de
tijolos trazidos de sua própria
casa para uma sala do Liceu que
recebe luz natural. "A gente esquece que o tijolo é terra pura",
lembra a artista. "O trabalho fala dessa coisa viva dentro do espaço, uma arquitetura íntima."
Essa intimidade solitária
também consegue resumir a
obra de Sara Ramo, que arruma
e desarruma objetos de um banheiro, numa alusão ao mesmo
tempo lírica e irônica à rotina
corroída pelo tédio e à falta de
propósito, sensação que se alarga com o passar das horas.
Parece ser a mesma elasticidade temporal que faz do trabalho de Thiago Rocha Pitta uma
obra viva, que se forma diante
do observador: uma calha que
derrama cristais de sal sobre
uma tela, formando manchas
de nuvens e chuva -uma espécie de tempestade abstrata.
Mais literal e estática, Márcia
Xavier monta um paredão com
600 garrafas d'água em plástico
transparente, que separa o galpão da continuação da mostra
num prédio anexo. É um dilúvio interrompido, que serve de
preâmbulo à violência melancólica que fecha a exposição.
Sem água, 2.000 barquinhos
de papel dobrado da artista
Sandra Cinto encalham numa
onda seca sob uma mesa. Na
mesma instalação, um desenho
de ondas do mar esconde a reprodução que a artista fez do
quadro "A Balsa da Medusa",
do romântico francês do século
19 Théodore Géricault, a imagem trágica de cadáveres num
barco em frangalhos.
É a mesma violência, um tanto escondida, é verdade, das
trouxas ensangüentadas de Artur Barrio, aqui mostradas em
48 fotografias e um filme em 16
mm. Na última sala da mostra,
um vídeo de Rivane Neuenschwander mostra formigas que
mastigam pedaços de carpaccio
na forma do mapa-mundi -e o
mundo dos artistas se reconstrói neste espaço paralelo.
PARALELA
Quando: abertura hoje, às 15h; ter. a
sex., das 12h às 18h; sáb. e dom.,
das 10h às 18h; até 7/12
Onde: galpões do Liceu de Artes e
Ofícios (r. João Teodoro, 565, tel. 0/
xx/11/7040-1743); livre
Quanto: entrada franca
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