"Melancholia", premiado em Veneza, será apresentado com dois intervalos

Coluna, músculos e olhos são afetados durante a sessão; alongamento e movimento ajudam a minimizar efeitos sobre o corpo, diz médico

Fotos Divulgação

Cena de 'Melancolia', de Lav Diaz; filmes anteriores do cineasta tinham mais de dez horas

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pense no filme mais longo que você viu neste ano. "Batman - O Cavaleiro das Trevas", de duas horas e meia? Ele é um trailer se comparado a "Melancholia", que passa hoje na Mostra de SP. O filme em preto-e-branco do filipino Lav Diaz tem 480 minutos -oito horas ininterruptas, três "Batman" inteiros mais meia hora de lambuja.
E a duração não é apenas extraordinária: ela também é pouco saudável para a platéia.
"Anatomicamente e biologicamente, [passar] oito horas sentado, para a coluna e o corpo todo, não é a melhor coisa", diz o médico Pablius Braga da Silva, especialista em medicina do esporte, do grupo Fleury.
"Nós somos seres de movimento, a imobilidade não faz parte da nossa genética. O desgaste físico é muito grande, é possível que chegue a uma altura em que as pessoas não agüentem mais."
O filme, então, é mais para atletas do que para cinéfilos?
"Não é nem para atletas, porque a posição não é boa nem para eles. Há uma sobrecarga muito grande da coluna."
Olhos e músculos também sentem os efeitos da longa exposição e imobilidade. Para atenuar o problema, a organização decidiu, de última hora, fazer dois intervalos durante a projeção -mas, até a conclusão desta edição, não tinha decidido de quanto tempo seriam.
O público deve aproveitar a pausa para seguir os conselhos médicos: "É preciso dar uma alongada, soltar o corpo, levantar, mudar de posição. Tirar o calçado, alongar os braços, o pescoço, isso pode ajudar".

Reincidente
Lav Diaz está para os filmes como sua conterrânea Imelda Marcos para os sapatos: não é de regular mixaria. Sua obra anterior, "Death in the Land of Encantos" (2007), tem uma hora a mais do que "Melancholia", e alguns de seus filmes passados -como "Evolution of a Filipino Family", de 2004- têm mais de dez horas.
Além do título, das oito horas e dos R$ 18 do ingresso, a sinopse do filme no site da Mostra (www.mostra.org) não é muito estimulante. "Por que razão há tanta tristeza e tanta loucura no mundo? Felicidade é apenas um conceito? É um processo que existe apenas para medir a dor do homem? Alberta, Julian e Rina lutam para encontrar respostas a estas perguntas", diz o texto.
Nada disso incomodou o júri da seção Horizontes do Festival de Veneza. Por decisão unânime, "Melancholia" ficou com o principal prêmio da mostra paralela do evento italiano, superando, entre outros, "A Erva do Rato", de Julio Bressane.