São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Crítica

Obra de Abbas é única no cinema iraniano

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Falar de "cinema iraniano" é, a rigor, tão absurdo quanto falar do cinema argentino, do francês, do japonês, do brasileiro. Se existem certas características comuns, há outras que diferenciam profundamente os filmes. E mesmo que isso não apareça com clareza num primeiro momento, aos poucos se mostra com facilidade.
Se tomarmos "A Maçã" (Futura, 22h, não recomendado a menores de 12 anos), de Samira Makhmalbaf, vamos encontrar algumas características de outros filmes. É um filme entre garotas (e a infância virou quase marca registrada do cinema iraniano) e envolve um elemento mínimo. No caso, trata-se de duas gêmeas que vivem presas em suas casas desde o nascimento (têm agora 11 anos).
Há em Samira um espírito de denúncia que por vezes podemos encontrar nos filmes de seu pai, Mohsen. Mas, à parte os limites até físicos da ação, não têm nada com os filmes de Abbas Kiarostami, por exemplo, que se recusam a denunciar o que quer que seja.
Kiarostami criou uma escola, uma série de seguidores para os quais chegou até a escrever roteiros, sempre com temas mínimos, quase inexistentes. No entanto, raramente algum deles desenvolveu essa qualidade de espelho da obra de Abbas: ele só mostra aquilo que nós mesmos projetamos na tela. Será ele o grande prosseguidor de Ozu, o japonês? E o Japão o que tem em comum com o Irã? Cinema, com certeza.


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