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Crítica
Obra de Abbas é única no cinema iraniano
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Falar de "cinema iraniano" é,
a rigor, tão absurdo quanto falar do cinema argentino, do
francês, do japonês, do brasileiro. Se existem certas características comuns, há outras que
diferenciam profundamente os
filmes. E mesmo que isso não
apareça com clareza num primeiro momento, aos poucos se
mostra com facilidade.
Se tomarmos "A Maçã" (Futura, 22h, não recomendado a
menores de 12 anos), de Samira
Makhmalbaf, vamos encontrar
algumas características de outros filmes. É um filme entre
garotas (e a infância virou quase marca registrada do cinema
iraniano) e envolve um elemento mínimo. No caso, trata-se de duas gêmeas que vivem
presas em suas casas desde o
nascimento (têm agora 11
anos).
Há em Samira um espírito de
denúncia que por vezes podemos encontrar nos filmes de
seu pai, Mohsen. Mas, à parte
os limites até físicos da ação,
não têm nada com os filmes de
Abbas Kiarostami, por exemplo, que se recusam a denunciar o que quer que seja.
Kiarostami criou uma escola,
uma série de seguidores para
os quais chegou até a escrever
roteiros, sempre com temas
mínimos, quase inexistentes.
No entanto, raramente algum
deles desenvolveu essa qualidade de espelho da obra de Abbas: ele só mostra aquilo que
nós mesmos projetamos na tela. Será ele o grande prosseguidor de Ozu, o japonês? E o Japão o que tem em comum com
o Irã? Cinema, com certeza.
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