ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Figura fundamental do cinema experimental, o francês François-Jacques Ossang, 54, tem uma trajetória singular. Ele publicou seus primeiros poemas quando tinha 17 anos.
Três anos depois, fundou uma revista de literatura e sua primeira banda punk.
Começou a dirigir filmes com 26 anos, inaugurando uma estética original que combina cinefilia, visada política e revolta contra a linguagem cinematográfica.
Pouco conhecido em seu próprio país, Ossang dirigiu quatro longas e seis curtas.
Todos os longas e metade dos curtas estão presentes na retrospectiva apresentada pela 34ª Mostra.
Seus personagens estão sempre em movimento, atormentados por alguma estranha busca ou tentando escapar de um presente insuportável. São figuras decadentes, que têm sempre a morte no horizonte.
Com intrigas obscuras e rarefeitas, os filmes de Ossang assaltam o espectador pelo estranhamento.
Mobilizam um caleidoscópio de referências que inclui o filme de gênero, o rock, o cinema mudo, o expressionismo alemão, a pintura, as histórias em quadrinhos.
Um dos destaques da retrospectiva é "Doctor Chance" (1997), um "road movie" poético e alucinante rodado no Chile que segue os passos de um escritor fracassado.
Ele se envolve com uma dançarina e deve fugir de um bando de mafiosos. Sexo, violência, carros e aviões são onipresentes neste filme cheio de alusões ao noir que tem Joe Strummer, vocalista da banda punk The Clash, e Marisa Paredes no elenco.
Outro filme importante é "Dharma Guns" (2010), em que um homem acorda do coma e descobre que ele e a namorada foram cobaias de uma experiência genética.
Como um Orfeu moderno, ele tenta encontrar a moça e trazê-la de volta do inferno.
Entre os curtas, "Vladivostok" (2008) retoma a estética do cinema mudo para falar de um homem que se afoga e reaparece em uma "paradisíaca" cidade, onde trona um busto de Lênin.