São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Marco Bellocchio filma a intimidade familiar com tensão e olhar sereno

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para quem se acostumou com os últimos filmes de Marco Bellocchio, nos quais se tratava do assassinato de Aldo Moro ou do filho e da mulher esquecidos de Mussolini, "Irmãs Jamais" será sem dúvida uma surpresa.
Estamos numa pequena cidade rural, Bobbio, onde Giorgio se ocupa da sobrinha, enquanto sua irmã, Sara, mãe da menina, tenta se firmar como atriz de teatro.
Ele parece ter Sara na conta de um tanto irresponsável (ao menos atravanca a sua vida, isso é certo). Mas já aí começam a aparecer sinais de que este filme íntimo e familiar (familiar mesmo: a ficha técnica é recheada de vários Bellocchios) não se afasta da obra recente do mestre italiano e mesmo a ilumina.
Pois eram amor e abandono que estavam no centro de "Vincere", assim como as relações íntimas de "Bom Dia, Noite". A tensão inicial entre Giorgio e Sara não desanda em rivalidades tolas. As tensões são parte do afeto e não será ele a recriminar a irmã por buscar a carreira de atriz.
Existe, no entanto, Bobbio, a cidade, as velhas tias, a sobrinha. A perspectiva de vender a propriedade familiar certamente causará transtornos à vida de todos, começando pela menina, que em dado momento Sara quer levar com ela para Milão (uma nova cidade, longe dos amigos).
Se seus filmes recentes, os de mais repercussão, em todo caso, abriam-se a grandes questões da Itália moderna (a insânia atacando as Brigadas Vermelhas, a insânia mussolinista), sempre apontando para uma proximidade entre os níveis público e privado, desta vez Bellocchio faz um longo retorno aos territórios de "De Punhos Cerrados", um dos filmes que tanto marcaram os anos 1960.
Se, desta vez, o país é visto em circunstâncias menos dramáticas do que nos filmes recentes, também o olhar sobre a família se transformou desde "De Punhos Cerrados".
Não existe mais o sentimento de urgência ou mesmo esse lado de rejeição familiar e doença que marcavam aquele filme (e aqueles anos). O fato de ser mais serena não torna a observação de Bellocchio nem menos significativa nem mais enfadonha neste filme em que as várias histórias que se encaixam foram filmadas ao longo de quase dez anos.
"Irmãs Jamais" pode ser uma pequena produção, mas não é um filme menor.

IRMÃS JAMAIS
DIREÇÃO Marco Bellocchio
PRODUÇÃO Itália, 2010
QUANDO hoje, às 22h, no Reserva Cultural; amanhã, às 16h, no Cine Livraria Cultura; e dias 29, às 15h40, no Espaço Unibanco; 31, às 15h, na Cinemateca; e 3, às 20h40, no Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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