São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

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DIÁRIO DA CAVERNA

MARCOS DÁVILA

É permitido aplaudir

Sempre achei meio esquisito aplaudir no cinema. Não tem ninguém ali de carne e osso, além do projetista (sem desmerecê-lo, veja bem). Mas às 10h da manhã, cercado de 200 adolescentes, entrei na onda do aplauso -na Mostra vale.
Era uma exibição de "Uma Incrível Aventura", de Debs Gardner Paterson, no Festival da Juventude, que promove sessões gratuitas para alunos do ensino médio.
O filme mostra a saga de um grupo de garotos de Ruanda para ver a Copa do Mundo na África do Sul. Seleção perfeita. Esse "mágico de Oz" africano ganhou palmas para duas cenas no meio da projeção. Plateia de carne, osso e sangue nos olhos. "Gostei disso de apagarem as luzes", disse Laís Silva Anunciação, 15, aluna de uma escola estadual de Carapicuíba. Foi sua primeira vez no cinema.
Outro aclamado, já na programação normal, foi o documentário "Olhe pra Mim de Novo", de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, sobre a mulher que virou Syllvio Lucio. Conquista à primeira vista.
Não resisti e fui ter meu début na telona com "Laranja Mecânica". Tinha segundas intenções: puxar um aplauso no final. Nem precisou. Mais adiante, mesmo com chuva, o singular diretor Manoel de Oliveira e sua "rapariga loura" reúnem 200 pessoas no vão livre do Masp. Termina o filme e... clap... clap... clap... É um grupinho tímido no canto esquerdo do grande guarda-chuva vermelho de Lina Bo.

SINOPSE DO DIA
Consumido pelo cinema, repórter deixa de lavar a louça por dias. Uma baixela desenvolve instintos assassinos. Dos mesmos produtores de "Lavanderia Macabra".

MARCOS DÁVILA, vulgo Peri Pane, está na crise dos quase 40 e, depois de ver "O Futuro", considera adotar um gato. Ele escreve alternadamente com Vanessa Barbara durante a 35ª Mostra de Cinema de São Paulo.


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