São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

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Livro de Maria Rita Kehl reúne crônicas publicadas na mídia

Em prefácio, autora discute o papel de psicanalista ao escrever para a imprensa

DE SÃO PAULO

A psicanalista Maria Rita Kehl lança hoje "18 Crônicas e Mais Algumas", seleção de artigos publicados em jornais, entre eles a Folha, revistas e sites de 2002 a 2010.
No prefácio, a autora discute a função social de seus textos, que muitas vezes caminham na contramão do que esperam os editores. "O que distingue o lugar do psicanalista na imprensa não é o número de vezes que ele se refere a Freud ou a Lacan", escreve, mas "o modo como sua experiência clínica pode ajudá-lo não a explicar, mas escutar o sintoma social".
As 18 crônicas do título foram publicadas no espaço quinzenal que mantinha em "O Estado de S. Paulo" -cancelado depois de "Dois pesos", texto sobre os voto dos beneficiados pelo programa Bolsa Família e o preconceito de alguns setores da classe média em torno da questão. Na ocasião, o jornal disse que a demissão se deveu ao fato de colunistas se revezarem e cumprirem ciclos. "Nunca uma coluna minha foi tão lida. Foi o assunto mais discutido no Twitter. Impactou gente de outros Estados, juventude... Mas, claro, fiquei triste de perder aquele espaço", contou a autora em entrevista em seu consultório, no bairro de Perdizes. Quinzenalmente, ela atende também na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST.
Os textos reunidos em "18 Crônicas..." levantam a voz contra a proibição do aborto ou a especulação imobiliária, mas sobretudo contra a violência social brasileira, a injustiça e o abuso de autoridade -que define como "naturalização da desigualdade". "A elite brasileira sempre foi muito pouco cumpridora de direitos. Somam-se a isso três séculos de escravidão e duas ditaduras, sendo que a última delas encerrou-se sem nenhum tipo de condenação. A Comissão da Verdade hoje não é a que queremos ter."
As críticas se estendem à própria imprensa e à hierarquia que estabelece para os fatos. "A imprensa dá a primeira página, e acho que tem que dar mesmo, para o assassinato de um morador de um bairro de classe média, enquanto muitas outras mortes viram notinhas de rodapé."
Kehl põe o dedo em feridas que acredita que o Brasil ainda não curou, mesmo que o país lhe pareça melhor depois dos oito anos de governo Lula. "Dói a violência inscrita na ordem social brasileira. Dói o jogo cínico da política." (GABRIELA LONGMAN)

18 CRÔNICAS E MAIS ALGUMAS
AUTORA Maria Rita Kehl
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 30 (160 págs.)
LANÇAMENTO hoje, das 18h30 às 20h30 na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, tel. 0/xx/11/3814-5811)


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