São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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Festival de Amsterdã mostra a metamorfose do documentário

INEKE HOLTWIJK
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE AMSTERDÃ

O Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, considerado a vitrine do documentário criativo no mundo, apresentará até o seu encerramento, neste domingo, 270 obras de 53 países, que revelam a metamorfose por que passa o gênero.
Graças à câmera mais leve e barata, o documentário vive uma revolução semelhante à ocorrida na metade do século passado, inspirada por grande avanço técnico. Todos podem se tornar diretor, e o laptop virou sala de edição. A câmera grava sem ser percebida em locais inusitados e, por ser tudo tão barato, é possível filmar situações durante anos.
Em Amsterdã, há desde um diretor que fez um documentário sobre a avó com mal de Parkinson (Cameron Pearson, em "Crazy like They Are") a uma cineasta à procura do homem que a estuprou quando menina (Celesta Davis, em "Awful Normal").
Para o crítico de cinema e assessor do festival Peter van Bueren, o documentário "corresponde a uma necessidade do público, que quer conhecer do mundo muito mais do que oferece a televisão com seus formatos fixos".
O Brasil participa do festival com cinco trabalhos. O paulista Walter Morales estréia seu "Preto contra Branco", sobre um jogo de futebol anual entre favelados e seus vizinhos ricos. O mineiro Cao Guimarães mostra o já premiado no Brasil "A Alma do Osso", sobre um ermitão que vive numa gruta de Minas Gerais.
Muito aplaudido pelo público foi "Extremo Sul", de Mônica Schmiedt, sobre um grupo de jovens que programa escalar uma montanha no Chile. A diretora pensou em rodar uma fábula sobre amizade e coragem, mas os alpinistas se desentendem ao pé da montanha. Ela teve que adaptar seu roteiro na hora e conseguiu uma história deliciosa sobre ambições, mentiras e desilusão.
Em Amsterdã, os documentários mais surpreendentes vêm da China. Um dos destaques é o relato de um homem de mais de 70 anos que leva sua mãe de 90 em um triciclo numa espécie de "última viagem" através do país. "Triciclo" comprova o que disse, em Amsterdã, Albert Maysles, um dos grandes nomes do "cinema verdade": "Os lugares no mundo existem só como nomes da geografia até que uma história nos mostre as pessoas que vivem lá".


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