|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Festival de Amsterdã mostra a metamorfose do documentário
INEKE HOLTWIJK
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE AMSTERDÃ
O Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, considerado a vitrine do documentário
criativo no mundo, apresentará
até o seu encerramento, neste domingo, 270 obras de 53 países,
que revelam a metamorfose por
que passa o gênero.
Graças à câmera mais leve e barata, o documentário vive uma revolução semelhante à ocorrida na
metade do século passado, inspirada por grande avanço técnico.
Todos podem se tornar diretor, e
o laptop virou sala de edição. A
câmera grava sem ser percebida
em locais inusitados e, por ser tudo tão barato, é possível filmar situações durante anos.
Em Amsterdã, há desde um diretor que fez um documentário
sobre a avó com mal de Parkinson
(Cameron Pearson, em "Crazy like They Are") a uma cineasta à
procura do homem que a estuprou quando menina (Celesta
Davis, em "Awful Normal").
Para o crítico de cinema e assessor do festival Peter van Bueren, o
documentário "corresponde a
uma necessidade do público, que
quer conhecer do mundo muito
mais do que oferece a televisão
com seus formatos fixos".
O Brasil participa do festival
com cinco trabalhos. O paulista
Walter Morales estréia seu "Preto
contra Branco", sobre um jogo de
futebol anual entre favelados e
seus vizinhos ricos. O mineiro
Cao Guimarães mostra o já premiado no Brasil "A Alma do Osso", sobre um ermitão que vive
numa gruta de Minas Gerais.
Muito aplaudido pelo público
foi "Extremo Sul", de Mônica
Schmiedt, sobre um grupo de jovens que programa escalar uma
montanha no Chile. A diretora
pensou em rodar uma fábula sobre amizade e coragem, mas os alpinistas se desentendem ao pé da
montanha. Ela teve que adaptar
seu roteiro na hora e conseguiu
uma história deliciosa sobre ambições, mentiras e desilusão.
Em Amsterdã, os documentários mais surpreendentes vêm da
China. Um dos destaques é o relato de um homem de mais de 70
anos que leva sua mãe de 90 em
um triciclo numa espécie de "última viagem" através do país. "Triciclo" comprova o que disse, em
Amsterdã, Albert Maysles, um
dos grandes nomes do "cinema
verdade": "Os lugares no mundo
existem só como nomes da geografia até que uma história nos
mostre as pessoas que vivem lá".
Texto Anterior: Cinema: Evento resgata floresta do delírio tropical Próximo Texto: Erika Palomino Índice
|