São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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Em casa com Freyre

Museu da Língua Portuguesa homenageia Gilberto Freyre; montada como uma casa, mostra é visita à obra do autor de "Casa-Grande & Senzala'

Divulgação
Freyre, a mulher, Magdalena, e a filha Sonia Maria, num passeio de gôndola em Veneza, em 1960


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Museu da Língua Portuguesa abre hoje, para convidados, e amanhã para o público, sua terceira exposição temporária. Depois de homenagear Guimarães Rosa e Clarice Lispector, o museu abriga, até o dia 4 de maio de 2008, "Gilberto Freyre - Intérprete do Brasil", seu tributo ao sociólogo e antropólogo brasileiro Gilberto Freyre, morto há 20 anos.
Freyre é autor, entre outros, de "Casa-Grande & Senzala" (1933), que já está em sua 48ª edição. A obra tornou-se um marco na historiografia brasileira, opondo-se ao mero registro cronológico de feitos grandiosos, para se debruçar sobre hábitos nacionais até então vistos como insignificantes, do ponto de vista da interpretação do país, e ainda sua história oral, manuscritos de arquivos públicos e privados etc.
A mostra é uma visita metafórica à "casa", à obra de Freyre. Ela reúne, pela primeira vez em conjunto, 27 pinturas, entre aquarelas e telas a óleo, feitas por Freyre, que retratam temas que lhe eram caros, como a religiosidade, a família e os sobrados. Assinadas apenas com "Gil", as obras não são datadas, mas, segundo a curadora Julia Peregrino, foram feitas durante as décadas de 1940 e 1950.
Peregrino -que já havia feito a curadoria da mostra de Clarice Lispector- divide o trabalho agora com Pedro Vásquez, o cenógrafo André Cortez e a professora Elide Rugai Bastos, da Universidade de Campinas.
"Há recantos que lembram os engenhos, os sobrados, as raízes da obra de Freyre. A idéia é que o espectador viaje na cenografia, conhecendo sua obra ao abrir gavetas, armários etc.", adianta Peregrino.

A visita
Todo o material em exibição pertence à Fundação Gilberto Freyre ou foi garimpado das coleções particulares da família do escritor. Logo à entrada da exposição, um conjunto de paredes divididas ao meio traz frases do autor em vitrines e nichos com seus quadros.
A casa de Freyre no museu abriga ainda cinco criados-mudos com registros de recepções a que ele compareceu na década de 50, em Portugal. Duas malas com seus passaportes. E uma grande mesa, dividida em duas. Numa parte estão livros de receitas dos engenhos, material de pesquisa que usou para os livros "Açúcar" e "Casa-Grande & Senzala". Noutra, 26 correspondências trocadas com, entre outros, o pintor Portinari, o compositor Heitor Villa-Lobos, o educador Anísio Teixeira e o sociólogo Florestan Fernandes.
Dois destaques da mostra são a exibição de documentos originais e a reprodução, em áudio, de trechos dos questionários que Gilberto Freyre fez com brasileiros de ambos os sexos, de diferentes classes sociais, nascidos entre 1850 e 1900, para a escrever outro de seus clássicos, "Ordem & Progresso", de 1959. Os fones estão espalhados em 27 maquetes de sobrados, que novamente remetem à obra do sociólogo.


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