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MÚSICA
Crítica/"Go Away White" e "4:13 Dream"
Bauhaus e The Cure voltam com as origens do rock gótico
Grupos ingleses, que despontaram nos anos 80, lançam discos
DA REPORTAGEM LOCAL
O
pop voltou às trevas.
Os dois principais nomes do rock gótico,
Bauhaus e The Cure, estão de
volta. Ainda que a notícia soe
como retrocesso, afinal ambos
tiveram seus dias de glória nos
anos 80, os grupos ao menos
cumprem função didática e
mostram de onde os emos, o
metal melódico e toda a turma
que se veste de preto buscaram
inspiração.
O primeiro caso é o mais interessante. O Bauhaus terminou em 1983 e fez alguns shows
de reunião em 1998 e 2005. "Go
Away White" é seu primeiro
disco de inéditas em 25 anos.
O Bauhaus pode ser considerado o criador do rock gótico no
final dos anos 70, já que foi
quem melhor sintetizou a estética "no future" do punk, tanto
no som sombrio quanto no visual carregado, futurista, de cabelos espetados e maquiagem
escura nos olhos -eles estão
em "Fome de Viver" (83), filme
de Tony Scott sobre vampiros.
O bom do novo trabalho é
que eles não tentam recriar sua
sonoridade típica -desesperada, dramática-, bastante envelhecida. "Too Much 21st Century" dá amostras de que o grupo investiu naquilo que tinha
de melhor e atemporal: a voz de
Murphy, que lembra David Bowie; o baixo suingante de David
J e os riffs afiados e encobertos
de efeitos de Daniel Ash. "Adrenalin", pesada e de andamento
mais lento, mostra que o Bauhaus ainda faz sentido.
Mas, em "Saved", as coisas
começam a andar para trás, e
toda a teatralidade caduca do
grupo retorna. Murphy canta
como se estivesse entoando um
mantra, enquanto a sonoridade
minimalista sugere uma jam.
Música "emotiva"
Em entrevista recente à revista inglesa "NME", Robert
Smith, do Cure, disse que a
banda, lá pelos idos de 1981, só
tentava fazer uma música
"emotiva", e não que estivesse
conscientemente criando canções góticas.
No decorrer da década,
Smith levou o gótico às multidões ao estourar com "The
Head on the Door" (1985), que
teve música até em novela da
Globo. Foi quando Smith se
tornou o "rei" dos góticos, virando uma figura folclórica.
Hoje, o Cure se arrasta e é
praticamente um projeto solo
de Smith. O novo disco, "4:13
Dream", parece existir muito
mais pela sobrevida que a banda adquiriu. De Bloc Party e
Rapture a Mogwai, o Cure foi
redescoberto por fãs jovens,
após um quase ostracismo no
começo dos anos 2000.
Concebido inicialmente como a primeira parte de um álbum duplo, "4:13 Dream" reúne
aquelas que seriam as músicas
alegres -as deprês sairão em
outro disco, ainda sem data. É
simbólico que uma das melhores músicas, "Sleep When I'm
Dead", tenha sido composta na
época de "The Head on the
Door". Outra faixa excelente é a
angustiante "Scream", em que
Smith faz valer o título (grito).
Levando em conta que "The
Reasons Why" é uma das mais
animadas, e que a letra versa
sobre suicídio, só resta concluir
que os conceitos de "alegre" e
"triste" de Smith são um tanto
indefinidos.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
GO AWAY WHITE
Artista: Bauhaus
Lançamento: Music Brokers
Quanto: R$ 46
Avaliação: bom
4:13 DREAM
Artista: The Cure
Lançamento: Arsenal/Universal
Quanto: R$ 25
Avaliação: regular
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