São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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MÚSICA

Crítica/"Go Away White" e "4:13 Dream"

Bauhaus e The Cure voltam com as origens do rock gótico

Grupos ingleses, que despontaram nos anos 80, lançam discos

DA REPORTAGEM LOCAL

O pop voltou às trevas.
Os dois principais nomes do rock gótico, Bauhaus e The Cure, estão de volta. Ainda que a notícia soe como retrocesso, afinal ambos tiveram seus dias de glória nos anos 80, os grupos ao menos cumprem função didática e mostram de onde os emos, o metal melódico e toda a turma que se veste de preto buscaram inspiração.
O primeiro caso é o mais interessante. O Bauhaus terminou em 1983 e fez alguns shows de reunião em 1998 e 2005. "Go Away White" é seu primeiro disco de inéditas em 25 anos.
O Bauhaus pode ser considerado o criador do rock gótico no final dos anos 70, já que foi quem melhor sintetizou a estética "no future" do punk, tanto no som sombrio quanto no visual carregado, futurista, de cabelos espetados e maquiagem escura nos olhos -eles estão em "Fome de Viver" (83), filme de Tony Scott sobre vampiros.
O bom do novo trabalho é que eles não tentam recriar sua sonoridade típica -desesperada, dramática-, bastante envelhecida. "Too Much 21st Century" dá amostras de que o grupo investiu naquilo que tinha de melhor e atemporal: a voz de Murphy, que lembra David Bowie; o baixo suingante de David J e os riffs afiados e encobertos de efeitos de Daniel Ash. "Adrenalin", pesada e de andamento mais lento, mostra que o Bauhaus ainda faz sentido.
Mas, em "Saved", as coisas começam a andar para trás, e toda a teatralidade caduca do grupo retorna. Murphy canta como se estivesse entoando um mantra, enquanto a sonoridade minimalista sugere uma jam.

Música "emotiva"
Em entrevista recente à revista inglesa "NME", Robert Smith, do Cure, disse que a banda, lá pelos idos de 1981, só tentava fazer uma música "emotiva", e não que estivesse conscientemente criando canções góticas.
No decorrer da década, Smith levou o gótico às multidões ao estourar com "The Head on the Door" (1985), que teve música até em novela da Globo. Foi quando Smith se tornou o "rei" dos góticos, virando uma figura folclórica.
Hoje, o Cure se arrasta e é praticamente um projeto solo de Smith. O novo disco, "4:13 Dream", parece existir muito mais pela sobrevida que a banda adquiriu. De Bloc Party e Rapture a Mogwai, o Cure foi redescoberto por fãs jovens, após um quase ostracismo no começo dos anos 2000.
Concebido inicialmente como a primeira parte de um álbum duplo, "4:13 Dream" reúne aquelas que seriam as músicas alegres -as deprês sairão em outro disco, ainda sem data. É simbólico que uma das melhores músicas, "Sleep When I'm Dead", tenha sido composta na época de "The Head on the Door". Outra faixa excelente é a angustiante "Scream", em que Smith faz valer o título (grito).
Levando em conta que "The Reasons Why" é uma das mais animadas, e que a letra versa sobre suicídio, só resta concluir que os conceitos de "alegre" e "triste" de Smith são um tanto indefinidos. (BRUNO YUTAKA SAITO)

GO AWAY WHITE
Artista: Bauhaus
Lançamento: Music Brokers
Quanto: R$ 46
Avaliação: bom

4:13 DREAM
Artista: The Cure
Lançamento: Arsenal/Universal
Quanto: R$ 25
Avaliação: regular



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