São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 2004

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LANÇAMENTOS DVD

COLEÇÃO

Caixa lançada pela Continental reúne seis filmes e tem dossiê sobre o cineasta alemão como destaque dos extras

Lang imprime sua lenda e estilo no cinema

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

No "Dossiê Fritz Lang", bônus da caixa lançada pela Continental, os depoimentos de especialistas e amigos do cineasta esbarram sempre em um limite: impossível dar conta de todas as ambigüidades e segredos que fizeram a conturbada história de vida de Lang. Pode-se demonizá-lo ou endeusá-lo, mas não defini-lo. Lang já era uma lenda em vida -o mito que Jean-Luc Godard filmou em "O Desprezo".
Podemos falar de sua enorme influência: "Dr. Mabuse" (suas duas primeiras partes) é um daqueles clássicos em que todo o cinema e sua linguagem parecem dar, de pronto, um passo à frente, como se, no começo dos anos 20, Lang descobrisse, na inexorabilidade de seu estilo, todo o potencial narrativo do cinema. Uma obra-prima da imagem-ação: daí a enorme influência sobre a produção americana. "M, o Vampiro de Dusseldorf" (31), seu primeiro filme falado, foi um marco no cinema sonoro, primoroso pela forma contrapontística com que trabalha a relação imagem/ som.
Mas quais eram as intenções de Lang ao realizá-los? Já perto do fim, o velho diretor dizia: "Todos os meus filmes, eu os realizei como um sonâmbulo". Declaração que remete inevitavelmente ao discurso final do assassino de "M". Há historiadores que vêem neste filme uma obra anti-semita, há os que a vêem antinazista, tudo dependendo para quem se dirigia seu (autocensurado) título original "Os Assassinos Estão entre Nós". Se nos restringirmos à obra, ficamos na constatação de que Lang era um mestre em usar o dispositivo cinematográfico para revelar dispositivos políticos e sociais em sua profundeza.
"Dr. Mabuse" foi o filme que projetou a sombra demoníaca do expressionismo sobre a realidade de crise (o "ovo da serpente") da Alemanha dos anos 20. Hipnótico gênio do crime, Mabuse é descendente da série de tiranos invisíveis do cinema expressionista adaptado, pelo realismo de Lang, à vida moderna. Uma mistura explosiva, um capítulo à parte na história psicológica do cinema alemão, o famoso périplo de Caligari a Hitler traçado por Kracauer. Mas, se protonazismo já é um conceito discutível por si só, no caso de Lang ainda mais: sabe-se que os nazistas adoravam seus filmes, mas não se sabe até que ponto Lang se deixou associar à ascensão nacional-socialista.
Há quem prefira botar a culpa em Thea von Harbou, a mulher e roteirista de Lang, ligada aos nazistas. Depois de fugir da Alemanha nos anos 30, Lang voltou nos 60 para fechar um ciclo, rodando seu primeiro roteiro escrito a quatro mãos com a antiga parceira, um projeto que lhe fora por duas vezes roubado, o de "O Tigre de Bengala" e "Sepulcro Indiano".
O filme, que deveria ser rodado em 1921, no lugar de "A Morte Cansada", resultou para alguns, nos anos 60, numa aventura anacrônica e cafona e, para outros, em sua obra-prima arquitetural.


Dr. Mabuse, o Jogador/Dr. Mabuse, o Inferno do Crime:
    
A Morte Cansada: M, o Vampiro de Dusseldorf:
    
O Tigre de Bengala/Sepulcro Indiano:    
Quanto: Continental; R$ 40, em média (cada DVD)



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