São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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crítica

Filme mostra dicção apocalíptica de Jabor

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em seu genial "O Olhar e a Cena" (Cosacnaify), no capítulo sobre as versões cinematográficas que Arnaldo Jabor fez da obra de Nelson Rodrigues, o crítico Ismail Xavier conclui que ambos, cineasta e escritor, estão "sintonizados num particular: o gosto pela dicção apocalíptica".
Numa frase, este grande pensador definiu ao certo o grande diferencial das adaptações desse diretor. Porque, ao meu ver, enquanto os outros cineastas fizeram sensacionalismo em cima das escatologias dos personagens de Rodrigues, Jabor partia deste imaginário para dialogar sobre a sua cultura, encontrar os sintomas de sua crise (algo, digamos, bastante cinemanovista).
Em comum, na tela e no papel, está o desmoronamento dos castelos de areia. No caso de Jabor, o do país arruinado pela ditadura militar, encruzilhado entre a inocência perdida e um modelo arcaico, representado pela família.
Em "O Casamento" (Canal Brasil, 1h20), temos uma imagem inicial de apocalipse: uma inundação barrenta tomando as ruas ao som da famosa música de matrimônio. A partir disso, o filme seguirá a agonia de Sabino (Paulo Porto) com o casamento da filha, Glorinha (Adriana Pietro). Um longo flashback nada reparador revelará a paixão tarada deste pai por sua tenra filhotinha. Uma narrativa circular, agonizante e insolúvel, como a roda viva sugerida pela música homônima de Chico Buarque.


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