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crítica
Filme mostra dicção apocalíptica de Jabor
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em seu genial "O Olhar e a
Cena" (Cosacnaify), no capítulo sobre as versões cinematográficas que Arnaldo Jabor fez
da obra de Nelson Rodrigues, o
crítico Ismail Xavier conclui
que ambos, cineasta e escritor,
estão "sintonizados num particular: o gosto pela dicção apocalíptica".
Numa frase, este grande pensador definiu ao certo o grande
diferencial das adaptações desse diretor. Porque, ao meu ver,
enquanto os outros cineastas
fizeram sensacionalismo em cima das escatologias dos personagens de Rodrigues, Jabor
partia deste imaginário para
dialogar sobre a sua cultura, encontrar os sintomas de sua crise (algo, digamos, bastante cinemanovista).
Em comum, na tela e no papel, está o desmoronamento
dos castelos de areia. No caso
de Jabor, o do país arruinado
pela ditadura militar, encruzilhado entre a inocência perdida
e um modelo arcaico, representado pela família.
Em "O Casamento" (Canal
Brasil, 1h20), temos uma imagem inicial de apocalipse: uma
inundação barrenta tomando
as ruas ao som da famosa música de matrimônio. A partir disso, o filme seguirá a agonia de
Sabino (Paulo Porto) com o casamento da filha, Glorinha
(Adriana Pietro). Um longo
flashback nada reparador revelará a paixão tarada deste pai
por sua tenra filhotinha. Uma
narrativa circular, agonizante e
insolúvel, como a roda viva sugerida pela música homônima
de Chico Buarque.
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