São Paulo, quarta, 27 de janeiro de 1999

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CRÍTICA
Novo disco não cede fácil

especial para a Folha

"Círculo Vicioso", faixa que abre "Câmbio Negro", é exemplo de como X escreve bem. A mensagem antibandidagem traz rimas como estas: "Nessa sua profissão ninguém se aposenta/ Assim como você entrou/ Vários vão querer entrar/ E o caminho mais rápido pra fama é te matar/ Seguindo os seus passos/ Seguindo sua trilha/ Pra atingir você/ Talvez matem sua família".
X é um monstro da macroeconomia. A irônica "Esse É Meu País" ("Criminalidade cai 90%/ Todos têm moradia, ninguém ao relento") e excertos distribuídos por outras faixas ("Pega a manha/ pra aprender a bater, também se apanha") mostram um estilo próprio, universalista e mais metafísico que o habitual. Mas X também incorre em alguns vícios do rap, como falar recorrentemente do "movimento". Pior, desautoriza suas honestas intenções -e aqui já não parece estar sendo irônico- ao repetir o refrão "não confie em ninguém, não".
O produtor Edu K levantou as guitarras e sujou os vocais, criando um ambiente hardcore. Em uma ou duas faixas a banda soa mais black, como na sampleada "Esse É Meu País" e nos sopros de "Pega a Manha". O tom é claustrofóbico e não espanta se os ouvintes chegarem cansados à última faixa: "Gemidos, sussurros, silêncio/ Coração parado/ FINADO".
É difícil descrever o alívio ao chegar ao final das dez faixas -só que o CD, qual o coisa-ruim, não cede assim tão fácil. Este é o parágrafo mais elogioso de toda a página. (PV) ²

Disco: Câmbio Negro Artista: Câmbio Negro Lançamento: Trama Quanto: R$ 18



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