São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2000


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Aleijadinho recupera cor em filme mineiro

da Agência Folha, em Belo Horizonte

O escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, considerado o mais importante artista do barroco brasileiro, vai recuperar sua cor no cinema. Ele será vivido pelo ator negro Maurício Gonçalves no filme "O Aleijadinho", de Geraldo Santos Pereira, previsto para estrear em maio.
Na outra cinebiografia do artista já realizada pelo cinema, "Cristo de Lama (A História do Aleijadinho)", uma produção carioca de 68 dirigida por Wilson Silva, ele era interpretado por Geraldo del Rey, um ator branco e de olhos claros. No especial produzido pela TV Globo na década de 70, o ator escolhido foi Stênio Garcia, também branco.
Apesar dos inúmeros pontos que permanecem obscuros sobre a vida de Aleijadinho (1738? -1814), não há dúvida, entre os estudiosos, de que ele era negro.
Para o diretor Geraldo Santos Pereira, 75, Maurício Gonçalves, filho do também ator Milton Gonçalves, se encaixou com perfeição no papel, pois nasceu de um casamento inter-racial- como Aleijadinho, que era filho de um português com uma escrava.
O elenco da produção, cujo orçamento foi de R$ 2,3 milhões, tem mais atores negros no elenco: Ruth de Souza, Maria Ceiça e a mineira Aruana Zambi, entre outros. Nos papéis do pai de Aleijadinho e do poeta Cláudio Manoel da Costa, atuam, respectivamente, Edwin Luisi e Carlos Vereza.
No filme, a vida do artista é narrada em "flashback", a partir do depoimento de sua nora para o historiador Rodrigo Bretas, que serviu de base para o primeiro livro escrito sobre sua vida, ainda no século passado.
"Eu procurei fazer o filme o mais fiel possível, mas não é um documentário. Tem um pouco de ficção", diz Santos Pereira. Em nome da fidelidade, o cineasta não toma partido sobre a causa da doença que provocou a deformação do corpo do artista. Há várias hipóteses levantadas pelos historiadores: lepra, escorbuto, encefalite, sífilis e porfiria (um tipo de alteração do metabolismo).
O cineasta encampa a versão polêmica de assassinato, e não suicídio, do poeta Cláudio Manoel da Costa, durante o processo que incriminou os inconfidentes mineiros. "Sabe-se modernamente que o homem mais rico da capitania, João Rodrigues de Macedo, esteve envolvido com a Inconfidência Mineira e, temendo ser delatado por Cláudio Manoel, preparou seu assassinato", diz.
Geraldo Santos Pereira realizou apenas seis longas em mais de 40 anos de carreira, dois deles com o irmão Renato Santos Pereira, que morreu no ano passado.
"O Aleijadinho" seria o longa de estréia dos irmãos Santos Pereira, na década de 50. Recém-formados em cinema pelo prestigiado Idhec (Institute des Hautes Études Cinématographiques), de Paris, eles trabalhavam como assistentes de direção da Vera Cruz. Na época, o estúdio paulista encomendou um roteiro para filmar a vida do artista.
Os irmãos viajaram para Ouro Preto (MG), onde Aleijadinho viveu a maior parte de sua vida, mas, na volta a São Paulo, a Vera Cruz tinha fechado as portas. Em seu lugar, foi criada outra produtora, mas não havia recursos para uma produção de época.
Eles filmaram então "Rebelião em Vila Rica" (57), uma paráfrase da Inconfidência Mineira no século 20 e primeiro filme brasileiro a usar negativo colorido.
(CARLOS HENRIQUE SANTIAGO)


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