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MÚSICA/LANÇAMENTO
Verdissimo
No centenário da morte do maior compositor italiano de ópera, Brasil recebe poucos discos
IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não vai ter jeito: quem quiser ter
acesso, no Brasil, aos lançamentos
do ano Verdi vai ter que apelar
para importadores ou sites estrangeiros de venda de discos.
Assustadas com a alta do dólar e
com a vendagem baixa dos discos
de música erudita por aqui (historicamente em torno de 1% do
mercado fonográfico), as grandes
gravadoras não têm previsão de
lançar os discos que comemoram,
no exterior, o centenário de morte
do maior compositor italiano de
ópera de todos os tempos. A exceção é a Warner, que coloca dois
discos de Verdi no mercado brasileiro (leia abaixo).
A crise na venda dos clássicos
está longe de ser um fenômeno
brasileiro. Já em 1996 -antes,
portanto, do Napster colocar em
polvorosa a indústria fonográfica- o autor britânico Norman
Lebrecht publicava "When the
Music Stops Managers, Maestros
and the Corporate Murder of
Cla$$ical Music".
Em meio a uma crise geral causada pelo que chamava de "coca-colisação" (leia-se mercantilização) da música, Lebrecht apontava um cenário dos mais sombrios
para os discos clássicos.
Afinal, já há várias gravações
das sinfonias de Beethoven registradas por orquestras excepcionais e regentes de primeiríssima
linha. Estando essas gravações no
formato tecnicamente impecável
do CD, por que voltar a gravá-las?
Callas, Bernstein, Heifetz e Horowitz morreram, mas seus CDs
continuam aí, com qualidade artística fora de série, inibindo novas gravações de um repertório já
registrado de maneira brilhante.
Desde a publicação do livro de
Lebrecht, os fatos só parecem ter
confirmado suas previsões. Quedas nas vendas, fusões, cortes,
não-renovação de contratos, escasso investimento em nomes
"emergentes": os grandes selos
colocaram o pé no freio.
Por isso, o centenário de morte
de Verdi está longe de ter a orgia
de lançamentos do bicentenário
de morte de Mozart, em 1991,
quando, ainda durante a febre do
CD, a Philips produziu uma monumental "Mozart Edition", gravando virtualmente cada nota escrita pelo compositor.
A situação é agravada pelo fato
de Verdi ter sido um compositor
de óperas, justamente a forma
musical mais cara e, portanto,
mais afetada pela política de corte
de custos das gravadoras.
Mas há muita coisa boa saindo
lá fora. Não há como não ficar
com água na boca com o que a
EMI chama de "Verdi Anniversary Box" um pacotão de 30 discos com óperas do compositor,
na leitura literal e vigorosa do regente napolitano Riccardo Muti.
E ainda há espaço para as primeiras gravações pela Philips: Fabio Luisi rege o primeiro registro
completo da ópera "Jérusalem",
enquanto o maestro Riccardo
Chailly é o responsável, na etiqueta Decca, por "Messa Solenne",
disco com cinco obras sacras da
juventude de Verdi que jamais
haviam sido gravadas.
Em torno do cantor pop e dublê
de tenor Andrea Bocelli, a Philips
arregimentou um elenco impecável (Renée Fleming, soprano; Olga Borodina, mezzo-soprano; Ildebrando d'Arcangelo, baixo) para mais uma gravação do "Réquiem", sob a batuta do badalado
Valeri Guerguiev. Já as "Quatro
Peças Sacras" mereceram registro
de Myung-Whun Chung, pela
Deutsche Grammophon.
Curiosamente, maestros da escola de interpretação de música
antiga com instrumentos "de
época" estão sendo chamados a
dar suas visões dos mais conhecidos títulos verdianos.
Pela Philips, John Eliot Gardiner, à frente da sua Orquestra Revolucionária e Romântica, grava
"Falstaff"; e a Teldec tem prevista
uma "Aida" regida por Nikolaus
Harnoncourt.
Só que, como o canto lírico é
uma arte saudosista, as gravadoras também apostam pesado nos
relançamentos. Enquanto o pequeno selo Marston edita um registro de 1912 de "Le Trouvère"
(versão em francês de "Il Trovatore"), a série "Références", da EMI,
traz o tenor Beniamino Gigli
(1890-1957) em "Aida", "Réquiem" e "Un Ballo in Maschera",
enquanto o barítono Tito Gobbi
(1913-1984) brilha em "Simon
Boccanegra" e "Don Carlo".
A boa notícia é que a onda de
gravações históricas permite o
resgate de um antigo nome brasileiro do canto lírico. A Myto coloca no mercado internacional um
registro de 1958 da "Ernani", com
a soprano paulistana Constantina
Araújo (1922-1966), que fez grande carreira internacional em casas
como o Scala, de Milão, o Covent
Garden, de Londres, e a Ópera de
Paris.
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