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Estreante no cinema, ator teatral brilha como o matador Peixeira
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Esse é o nome: Milhem Cortaz.
Aos 17 anos, começou a estudar
teatro na Itália, depois de ganhar
algum dinheiro cortando grama
em campos de golfe. Aos 18, voltou para o Brasil, sem largar o teatro. Aos 30, estréia como protagonista no cinema. Ele é o assassino
Peixeira, em "Carandiru".
Mas "Carandiru" é um filme
com 18 papéis principais; muitos
deles interpretados por profissionais bem mais conhecidos que
Cortaz. As circunstâncias sugeriam que seria fácil o espectador
perder Peixeira de vista na tela.
A prática negou a teoria. E o cineasta Hector Babenco percebeu
a revelação ainda enquanto filmava. "Obrigado. Possivelmente não
teremos nada mais emocionante
no meu filme", disse ao ator, depois de rodar sua principal cena
no longa.
Cortaz repetiu-a oito vezes. E
terminou o dia em dúvida sobre a
eficácia de sua atuação. Achou
que, talvez, ela tendesse ao exagero. "Foi a única vez, em todo o filme, em que não sugeri uma emoção. Realmente vivi aquilo", diz.
Conversão
"Aquilo" é a vazão -num choro descontrolado- de sentimentos longamente contidos. Sob chuva, Peixeira, um homem acostumado a matar por gosto e vontade, ajoelha-se aquebrantado diante de um pastor com a Bíblia
em riste, cercado por fiéis que
cantam e gritam louvores a Deus.
Em segundos, o personagem repassa a própria trajetória e decide
mudá-la pela raiz, convertendo-se ao cristianismo. Junto com Peixeira, Cortaz fez, ele também, um
balanço emocional de sua vida
em "Carandiru".
"O processo de seleção começou com 3.000 pessoas. Durante
três meses, eu não sabia se seria
descartado, se faria uma ponta, ou
se teria um bom papel. Foi psicologicamente massacrante", diz.
Na semana que antecedeu o início das filmagens, otimista quanto às suas chances, Cortaz foi chamado para um último teste. Ao
chegar, viu que se enfrentaria com
um ator mais famoso e com um
currículo de personagens no perfil de Peixeira.
"Pensei: ele é muito bom, mas
há três meses eu sou esse cara."
Propôs que Babenco tirasse a teima avaliando seu desempenho na
cena da conversão. Ganhou o papel e pisou no set estufando o peito de orgulho. "Esse cara [Babenco] dirigiu Meryl Streep e Jack Nicholson [em "Ironweed", 1988] e agora está falando ação pra mim."
A fama de excessivo rigor de Babenco com os atores não intimidou Cortaz. "Trabalhei com Antunes [Filho] e com Ulysses Cruz
[que o revelou no teatro em "O
Melhor do Homem", 1993]."
Este ano, será dirigido no teatro
por Marco Ricca ("Num Dia Comum"). No cinema, tem prontos
o principal papel masculino de
"Aurélia Schwarzenêga", de Carlos Reichenbach, e participações
em "Nina", de Heitor Dhalia, e
"Cabra Cega", de Toni Venturi.
Em dezembro, começará a filmar com Flávia Moraes "Aquaria", produção Globo Filmes estrelada por Sandy e Junior. "Sempre quis fazer um filme de aventura. Nesse, vou até andar de avestruz." Seria essa a única razão?
"Aceitei pela grana também. Estão me pagando muito bem."
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