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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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Estreante no cinema, ator teatral brilha como o matador Peixeira

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Esse é o nome: Milhem Cortaz. Aos 17 anos, começou a estudar teatro na Itália, depois de ganhar algum dinheiro cortando grama em campos de golfe. Aos 18, voltou para o Brasil, sem largar o teatro. Aos 30, estréia como protagonista no cinema. Ele é o assassino Peixeira, em "Carandiru".
Mas "Carandiru" é um filme com 18 papéis principais; muitos deles interpretados por profissionais bem mais conhecidos que Cortaz. As circunstâncias sugeriam que seria fácil o espectador perder Peixeira de vista na tela.
A prática negou a teoria. E o cineasta Hector Babenco percebeu a revelação ainda enquanto filmava. "Obrigado. Possivelmente não teremos nada mais emocionante no meu filme", disse ao ator, depois de rodar sua principal cena no longa.
Cortaz repetiu-a oito vezes. E terminou o dia em dúvida sobre a eficácia de sua atuação. Achou que, talvez, ela tendesse ao exagero. "Foi a única vez, em todo o filme, em que não sugeri uma emoção. Realmente vivi aquilo", diz.

Conversão
"Aquilo" é a vazão -num choro descontrolado- de sentimentos longamente contidos. Sob chuva, Peixeira, um homem acostumado a matar por gosto e vontade, ajoelha-se aquebrantado diante de um pastor com a Bíblia em riste, cercado por fiéis que cantam e gritam louvores a Deus.
Em segundos, o personagem repassa a própria trajetória e decide mudá-la pela raiz, convertendo-se ao cristianismo. Junto com Peixeira, Cortaz fez, ele também, um balanço emocional de sua vida em "Carandiru".
"O processo de seleção começou com 3.000 pessoas. Durante três meses, eu não sabia se seria descartado, se faria uma ponta, ou se teria um bom papel. Foi psicologicamente massacrante", diz.
Na semana que antecedeu o início das filmagens, otimista quanto às suas chances, Cortaz foi chamado para um último teste. Ao chegar, viu que se enfrentaria com um ator mais famoso e com um currículo de personagens no perfil de Peixeira.
"Pensei: ele é muito bom, mas há três meses eu sou esse cara." Propôs que Babenco tirasse a teima avaliando seu desempenho na cena da conversão. Ganhou o papel e pisou no set estufando o peito de orgulho. "Esse cara [Babenco] dirigiu Meryl Streep e Jack Nicholson [em "Ironweed", 1988] e agora está falando ação pra mim."
A fama de excessivo rigor de Babenco com os atores não intimidou Cortaz. "Trabalhei com Antunes [Filho] e com Ulysses Cruz [que o revelou no teatro em "O Melhor do Homem", 1993]."
Este ano, será dirigido no teatro por Marco Ricca ("Num Dia Comum"). No cinema, tem prontos o principal papel masculino de "Aurélia Schwarzenêga", de Carlos Reichenbach, e participações em "Nina", de Heitor Dhalia, e "Cabra Cega", de Toni Venturi.
Em dezembro, começará a filmar com Flávia Moraes "Aquaria", produção Globo Filmes estrelada por Sandy e Junior. "Sempre quis fazer um filme de aventura. Nesse, vou até andar de avestruz." Seria essa a única razão? "Aceitei pela grana também. Estão me pagando muito bem."


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