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TELEVISÃO
Aspirantes ao estrelato, menos de dez ex-participantes do "reality" estão na TV e a maioria voltou para funções anteriores
Fábrica da fama, BBB não garante carreira
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Pelo quinto ano consecutivo, o
"Big Brother Brasil" despeja no
mercado 14 aspirantes a celebridades, pseudo-artistas que tiveram seus momentos de fama num
dos programas de maior audiência da televisão brasileira.
Na próxima terça-feira, quando
for conhecido o vencedor desta
edição, serão 67 participantes
"formados" pela escola do diretor
J.B. de Oliveira, o Boninho, desde
2001 -quando estreou a atração-, todos com o objetivo de
sair do anonimato para atingir
um mínimo de estrelato. "Hoje,
todo mundo quer seus 15 minutos
de fama para usufruir financeiramente disso", diz o produtor e crítico de TV Gabriel Priolli, 52, presidente da Associação Brasileira
de Televisão Universitária.
No entanto, fama e carreira não
andam, necessariamente, juntas.
E o "Big Brother" está aí para provar isso: dos ex-participantes, a
maioria, para não ficar desempregada, voltou a exercer suas atividades anteriores; outra parcela
tenta, a todo custo, conquistar um
espaço ao sol; e menos de dez continuaram na TV. É o caso de Sabrina Sato, 24, que participou da
terceira edição do programa e,
hoje, integra a trupe do "Pânico",
na rádio e na televisão. "Não vejo
o "Big Brother" como carreira. Eu
tinha consciência de que iria sair e
procurar trabalho, porque não
tem como entrar lá advogado, por
exemplo, e sair ator", diz ela.
"Acho que as pessoas têm uma
idéia errada do que é aparecer na
televisão. No meu caso, desde
criança eu quis trabalhar com comunicação. Lá em Penápolis (SP),
onde nasci, eu fazia um programa
de rádio desde pequena", conta
Sabrina, que sofre o que chama de
"maldição" dos ex-"Big Brothers"
nas mãos dos companheiros de
trabalho, que brincam com sua
origem televisiva. "O Emílio [Zurita, cabeça do "Pânico'] sempre
diz: "Nem a gente conseguiu escapar da maldição dos ex-"Big Brothers", mas eu me divirto"."
Só para o "BBB5", somaram-se
30 mil inscritos. "Vivemos um
momento de evasão de privacidade. As pessoas querem ocupar algum lugar, por menor que seja,
no espaço público. A maioria nem
busca fama, mas um pacote que
lhe será útil se souber trabalhar
depois dela", diz Priolli.
Quem saiu desta edição ainda
não tem planos definidos. No primeiro momento, os eliminados
permanecem à disposição da Globo. E as regras são claras: os participantes têm contrato com a
emissora durante seis meses após
a saída do "reality show" e não
podem se apresentar em outros
canais, tampouco fazer publicidade sem o aval da direção.
Resta, então, aceitar convites
para posar em ensaios fotográficos para revistas, participações
em programas da própria emissora e o rótulo de, para sempre, ser
um ex-"Big Brother".
Fetiche
A quinta edição foi marcada por
recordes de participação do público -por meio de votações na
internet e pelo telefone- e de audiência. A
média das sete semanas iniciais,
se comparada ao mesmo período
dos outros quatro programas, foi
de 51 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 48,5 mil espectadores na Grande São Paulo).
Durante três meses, a atração
fez o público torcer pelos participantes como se estivessem assistindo ao futebol. "O "Big Brother"
está muito bem azeitado. Sua fórmula, com uma edição de telenovela, que dramatiza o programa e
cria antagonismos, foi perfeita. É
uma dramaturgia da realidade,
com tensões entre grupos, reforçando o drama. Com a apuração
da fórmula, ele obtém sucesso e
longevidade", diz Priolli.
Uma pesquisa realizada a partir
dos programas exibidos na Globo
e de material publicado na mídia
estuda o fetichismo do "BB".
Segundo o trabalho, realizado
no Isca (Instituto Superior de
Ciências Aplicadas), de Limeira
(interior de São Paulo) -para a
conclusão do curso de ciências sociais-, o fetiche de observar como vivem os participantes do
programa motiva a grande audiência. "É o que buscam os participantes dos "reality shows'; é o
que querem ver os espectadores.
De acordo com o conceito de
identidade, o espectador tem
mais probabilidade de eleger como alvo de preferência aquele outro que, exposto, mais tenha semelhança consigo mesmo. O espectador quer participar do sonho e do deslumbre", diz o estudo, encabeçado pela estudante
Regiane Batistella, 38.
"Quando o programa começou,
afirmava-se que havia interesse
pela conotação sexual do voyeurismo, mas isso nunca aconteceu.
Muito pelo contrário, o programa
se revelou familiar", afirma Priolli. "Há, sim, uma curiosidade por
observar o que as pessoas fazem
no que é considerado um verdadeiro zoológico humano", completa o produtor.
Na quinta edição do "reality
show", a identificação do público
com os personagens reais criados
pelos participantes foi clara.
Quando a casa se dividiu entre
bem e mal, a cada semana que
passava, era eliminado quem estava contra a corrente. Entre as
maiores votações, a da estudante
carioca Aline obteve recorde de
rejeição, com 95% dos votos. No
mesmo patamar, esteve o médico
paulista Rogério, com 92% de votação.
Os números são os maiores já
registrados pela Endemol, produtora holandesa dona da idéia que
criou o programa, em comparação aos demais países onde o
mesmo formato é realizado.
Por conta da edição final do
"reality", os responsáveis pelo
"Big Brother Brasil" se negaram a
falar com a Folha para apresentar
um balanço sobre a edição.
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