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DVDS
SUSPENSE
Fábula dirigida por M. Night Shyalaman ganha força na segunda visão
Revisão de "A Vila" ajuda a apreender sua força poética
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE DOMINGO
Será que "A Vila", como os demais filmes do diretor M. Night
Shyalaman, resistem a uma segunda visão?
Apoiados em demasia sobre segredos narrativos que se revelam
quase ao final da trama, será que
os filmes não perdem a graça
quando voltamos a assisti-los?
O que resta de "A Vila" ou de "O
Sexto Sentido", quando já sabemos o que está por trás de cada cena, se temos na mão o segredo das
situações e a chave da história?
Eis a surpresa: "A Vila" (que
acaba de sair em DVD com bônus
convencionais) é melhor ainda da
segunda vez.
Quando revemos o filme, o que
ressalta não são as artimanhas do
espetáculo, mas as suas melhores
qualidades de cinema, de poesia
visual e até mesmo de crítica ao
espetáculo cinematográfico.
É como se existissem dois filmes
em "A Vila", um embutido no outro, este se revelando apenas depois da experiência daquele.
Primeiro, estamos diante de um
filme mainstream, muito fiel às
convenções, interessado em nos
conduzir rapidamente a um território ficcional seguro, convocar o
medo, causar emoções fortes e
provocar surpresa.
Quando assistimos pela segunda vez, descobrimos um outro filme, que, já tendo descortinado o
seu mistério, exige agora muito
mais da atenção, da observação e
da inteligência do espectador.
Revisto, "A Vila" deixa de ser
um filme em que o suspense absorve quase tudo para ser um filme que se abre a formas muito ricas de fabulação. Deixa de ser um
filme que se estrutura a partir do
segredo (final) para ser um filme
que produz a cada momento pequenos mistérios narrativos. Deixa de ter por objetivo causar medo e se torna um filme sobre a
própria construção do medo.
Isso só ocorre porque M. Night
Shyalaman é um dos melhores cineastas americanos da atualidade, com excepcional domínio da
linguagem cinematográfica, uma
imaginação exuberante e uma capacidade única de estimular o inconsciente e o olhar da platéia.
Nascido em Madras, na Índia,
ele foi educado na Filadélfia, num
colégio católico. Na universidade,
estudou cinema. Com 34 anos, já
realizou seis filmes.
O sucesso estrondoso de seu segundo longa-metragem, "O Sexto
Sentido" (1999), garantiu-lhe em
Hollywood uma grande autonomia de criação, o que é raro acontecer na capital do cinema.
Em "A Vila", além da direção,
ele assina a produção, o roteiro e
sabe-se que teve controle do "final
cut", a montagem derradeira do
filme. O seu esforço autoral foi reconhecido pela melhor crítica.
Suas histórias são sempre muito
imaginativas, lembrando a literatura fantástica americana de Edgar Poe a Lovecraft. Quem filmou
até hoje a história de um homem
que não sabe que está morto? Ou
a de uma cidadela do século 18
cercada pelo século 21?
Mas os filmes não param aí.
Além da imaginação, está a investigação moral de Shyalaman. As
suas fantasias questionam a nossa
época, querem saber como nascem e morrem os mitos, as crenças e os medos deste tempo.
De todos os filmes do diretor,
"A Vila" é o mais político, com
suas imagens que evocam a colonização dos EUA. História de
amor e de sacrifício por um lado,
por outro é uma indagação sobre
as chances de sobrevivência do
sonho americano na era Bush.
Otimista no desfecho, no detalhe
e no conjunto é um filme muito
triste, que espalha por cada coisa a
sua poesia melancólica.
A VILA
Direção: M. Night Shyamalan
Com: Sigourney Weaver, William Hurt,
Joaquin Phoenix, Bryce Dallas Howard
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