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Comida
Igualzinho ao da vovó
Clássico da cozinha caseira, bolinho de arroz é servido nos bares ao modo tradicional, mas também ganha inovações, incorporando ingredientes como batata e coco
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como as madeleines
de Proust, os bolinhos de arroz
têm a capacidade de puxar o fio
da memória e levar muitos
adultos de volta à infância, direto à casa da avó que fazia de
tudo para agradar, daquela tia
com mãos de fada, ou da mãe,
que, exímia cozinheira (ou
não), sempre será a favorita.
A origem caseira, do aproveitamento da sobra de arroz do
dia anterior e da massa frita às
colheradas, porém, não impediu que os bolinhos chegassem
às cozinhas dos bares.
Mas qual deles tem a receita
mais despretensiosa, tal como a
das avós? A Folha visitou sete
casas paulistanas e fez um ranking dos bolinhos que primam
pela simplicidade, mantendo o
vínculo com a cozinha de casa.
Não é um julgamento de qualidade, mas de semelhança.
Versão elaborada a partir de
uma receita de mãe -no caso, a
da sócia do Ritz Maria Helena
Guimarães-, o bolinho é "o"
clássico da casa. A cada mês, 50
mil unidades são vendidas, em
média -somando-se a demanda dos dois endereços (inclusive os que saem como acompanhamento e no delivery).
"Deu um pouco de trabalho
chegar a essa versão, que [desde 1990] nunca saiu de cartaz.
O da minha mãe não tinha parmesão; no nosso, colocamos. E
ela passava o arroz no espremedor de batatas. No daqui, os
grãos vão inteirinhos", diz Maria Helena. "Bolinho de arroz é
um clássico, igual àqueles filmes que a gente vai, vê e revê."
No Pompéia Bar, a receita
também é familiar. Se o bolinho de bacalhau veio do lado
português do clã, o de arroz
veio do italiano, direto do receituário de Beatriz, a "nonna"
de dona Ofélia Figueiredo, 78,
mãe do proprietário, José Luiz.
"É uma receita simples e saborosa que antigamente todo
mundo fazia, porque quase não
havia esses outros bolinhos
que existem hoje, de queijo, de
camarão, de milho verde."
Dona Olga diz que o segredo
é deixar o arroz cozinhar um
pouquinho mais, para o interior do bolinho ficar molinho, e
caprichar na salsa. "Em casa,
quando sobrava arroz, a gente
já colocava um pouco de leite
para ele amolecer", conta.
Batata e coco
Da mesma forma que a receita varia de avó para avó, de mãe
para mãe, os bolinhos de cada
bar paulistano têm as suas
particularidades e os seus segredos. Se alguns mantêm o
modo caseiro de prepará-los,
outros recorrem à inclusão de
ingredientes impensados,
criando petiscos igualmente
saborosos, porém diferentes.
No Filial, são as mãos, e não a
colher, que dão formato (de
croquete) aos bolinhos empanados com farinha de rosca, receita do cozinheiro Antonio
Ferreira. Além disso, eles levam batata cozida e muito parmesão -tanto que, a cada mordida, puxa-se um fio de queijo.
Ao lado do caldinho de feijão, o
bolinho de arroz é um dos itens
"imexíveis" - cerca de 3.600
unidades são vendidas por mês.
"Não podemos tirá-lo de jeito
nenhum do cardápio", diz Elenice Altman, consultora gastronômica do bar. "Se mudar
um funcionário da cozinha e
ele não seguir direitinho a receita, o público percebe."
O do Astor leva um bocado de
coco ralado. "Já fiz tantos bolinhos de arroz que eu poderia
até escrever um livro. Nunca
um igual ao outro", diz a chef-consultora Ana Soares, que assina a receita do bolinho. "A colheradinha de coco veio de uma
comadre da minha mãe. Deixa
crocante e dá umidade."
Herança cultural
O chef Francisco Rebêlo,
professor de gastronomia da
Universidade Anhembi Morumbi, acredita que o bolinho
de arroz brasileiro pode ter se
originado de uma receita siciliana que também aproveita sobras, mas de risoto (feito com
arroz arbóreo), posteriormente
recheadas com queijo. "O arancino italiano pode ter influenciado de alguma forma este bolinho de arroz nacional", diz.
Por outro lado, Edgard Bueno da Costa, sócio do Astor e
pesquisador da cultura de boteco, atribui a origem do quitute
aos portugueses: "Eu apostaria
que a origem dele é portuguesa,
pela "ascendência" da comida de
bar. É uma extensão da cozinha
caseira, da cozinha da mulher
do dono do bar, que, por sua
vez, está na categoria das receitas nascidas do aproveitando
das sobras", diz. "Tem que lembrar sempre a mãe de fazer arroz para sobrar."
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