Paródia do gênero tem Drew Barrymore, Jennifer Aniston e Scarlett Johansson

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Ele Não Está Tão a Fim de Você" se alimenta de dois movimentos aparentemente contraditórios. De um lado, o filme quer ser a supercomédia romântica, com um acúmulo de rostos e situações familiares. Primeiro, reuniu um "dream team" de estrelas (da abelha-rainha Drew Barrymore até as aspirantes ao posto Jennifer Aniston, Scarlett Johansson e Jennifer Connelly) e astros do gênero (do decaído Ben Affleck ao ascendente Justin Long).
Depois, fez um pout-pourri dos conflitos essenciais desse tipo de filme -garota rejeitada pelos garotos, garota dedicada ao trabalho e sem tempo para o amor, garota que quer que o namorado a peça em casamento, garota em crise, garota romântica vista como objeto sexual. Por fim, adotou o formato do chamado filme-coral, em que todos os personagens e tramas estão unidos pelos fios invisíveis do destino -como um Robert Altman em que a inteligência foi substituída pela calda de chocolate.
Nesse sentido, "Ele Não Está Tão a Fim..." se parece menos com "Sex and the City", ao qual vem sendo comparado pela crítica, do que com uma versão americana do britânico "Simplesmente Amor", que também fazia um mosaico de conceitos do gênero.
Do outro lado, "Ele Não Está Tão a Fim de Você" tenta ser uma anticomédia romântica, uma desconstrução de elementos essenciais da fórmula, como as ideias de cara-metade ou do casamento como sinônimo de felicidade. Baseada no livro de mesmo nome, a produção tem a pretensão de dissecar o comportamento masculino para que as mulheres parem de criar fantasias. Como diz o título, se um homem rejeita a mulher, é porque não está a fim.
No balanço entre esses dois movimentos, o filme dirigido por Ken Kwapis se sai bem sempre que se assume convencional, graças a um roteiro bem construído e a atores escolados nos clichês da comédia romântica. Mas derrapa quando tenta ser ousado, quando finge contestar as regras do gênero que abraça.
Porque é claro que o filme acaba por defender que a ilusão amorosa não é apenas necessária, como também concretizável. E assim, no final apaziguador, surgem príncipes encantados, declarações de amor e pedidos de casamento.