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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Simplesmente Feliz"
Fácil e agradável de ver, filme mostra felicidade perpétua
Longa de Mike Leigh aborda professora que vê apenas o lado positivo da vida
CRÍTICO DA FOLHA
No fabulário de Mike
Leigh há lugar para
quase tudo, sobretudo
no feminino. Existe a mãe
branca com filha negra (ou vice-versa), assim como Vera
Drake e sua estranha profissão.
Elas desfilam em geral por um
mundo remediado, quando não
pobre, de sotaques suburbanos,
de tipos esquisitos.
Assim é com a Poppy (Sally
Hawkins) de "Simplesmente
Feliz", professora primária tremendamente voltada a ver da
vida apenas o que ela pode ter
de positivo. A primeira cena é
sintomática: Poppy deixa sua
bicicleta na calçada e entra em
uma livraria. Ao sair, a bicicleta
não está lá, foi roubada. Conversando com a amiga, ela diz
apenas que a bicicleta deixou o
ninho, ganhou vida própria.
Não vai comprar outra. Vai
aprender a guiar.
Entre o trabalho na escola, os
embalos de fim de semana, a
presença da irmã, Poppy é uma
pessoa disposta a partilhar seu
modo de experimentar o mundo e fazer os outros também felizes. Funciona melhor, pelo
jeito, dentro dos muros da escola, onde as crianças são receptivas a suas maneiras. Menos bem num mundo de adultos neuróticos, como Scott (Eddie Marsan), o instrutor de autoescola.
Água com açúcar
Como as fábulas têm sempre
um caráter normativo, seria o
caso de indagar se o certo nesse
mundo conturbado é procurar
agir como Poppy, aceitando as
coisas como são e tentando
melhorá-las.
Ou antes: será isso de fato
possível fora do âmbito da escola primária ou de certas atitudes religiosas? Eis a questão
que o filme nos lega. Poppy é
uma pessoa tão aberta à vida
que pode se encontrar com um
estranho mendigo, em um local
ermo, sem nenhum medo do
contato com o outro (uma sequência tão mais estranha
quanto poderia ser muito bem
suprimida, do ponto de vista estrito da narrativa).
Fácil e agradável de ver, existe algo de incomodamente água
com açúcar no filme. É como se
a personalidade de Poppy expressasse uma disposição para
a felicidade que não condiz com
o mundo.
Ainda que seja assim, mil vezes é preferível ver essa perpétua felicidade do que as bochechas tristes de Vera Drake -do
longa anterior de Leigh, "O Segredo de Vera Drake". A cena
inicial, com Poppy passeando
na bicicleta, é bela e provavelmente a que melhor sabe expressar o que sua atitude diante
do mundo propõe não de conformismo, mas de liberdade.
(INÁCIO ARAUJO)
SIMPLESMENTE FELIZ
Direção: Mike Leigh
Produção: Reino Unido, 2008
Com: Sally Hawkins, Alexis Zegerman
Onde: em cartaz no Cine Bombril, Reserva Cultural e circuito
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
Avaliação: bom
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