São Paulo, sexta-feira, 27 de março de 2009

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ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

Para Tommy Hilfiger, luxo está fora de moda

Estilista diz que consumidores querem agora "luxo acessível" e que Michelle Obama fez jovens descobrirem que estilo não vem só das roupas caras

O estilista americano Tommy Hilfiger não queria estar na pele do dono de uma marca de luxo neste momento. "Eu não estaria muito feliz", diz ele à Folha. Para o designer, são as marcas de luxo que mais sofrerão os efeitos da depressão econômica mundial. "Eu conheço pessoas muito ricas. Elas já têm bolsas, sapatos, relógios luxuosos e não precisam comprar mais nada.
Além disso, não está na moda comprá-los agora. Começou uma nova época", afirma Hilfiger, em entrevista exclusiva, feita no último mês em Nova York, nos estúdios onde ele acompanhava os preparativos de seu desfile na semana de moda de Nova York.
Um dos principais nomes do "sportswear" americano, Hilfiger, 58, fundou sua marca em 1984. O auge de seus negócios veio na década de 1990, quando suas roupas confortáveis, charmosas e coloridas se tornaram mania nos EUA. Em 2006, após atravessar grave crise financeira, ele vendeu a companhia para o grupo Apax Partners, permanecendo como diretor de criação da grife, que tem 11 lojas no Brasil.

 

FOLHA - Qual foi a maior contribuição dos americanos à moda?
HILFIGER -
Foi o "sportswear". Nós fizemos o mundo se vestir de maneira mais casual. Criamos este look informal que agora está em toda parte.

FOLHA - A moda americana, como a brasileira, foi muito influenciada pela europeia. Esta influência ainda é importante?
HILFIGER -
A Europa já não é o único espelho. Hoje tudo é global, e os países se influenciam mutuamente.

FOLHA - Como o sr. definiria a moda americana hoje?
HILFIGER -
Muito sensível e criativa, mas não louca e desligada da realidade concreta. Está sempre atenta à questão comercial e cada vez mais preocupada com sua inserção no mercado mundial. Hoje, ela é também multicultural.

FOLHA - Sua nova coleção homenageia a Quinta Avenida. Por que escolher uma rua como tema?
HILFIGER -
Estamos abrindo uma grande loja na Quinta Avenida e decidimos homenageá-la. Ela é, provavelmente, a mais famosa rua de compras do mundo. Mesmo com a economia em baixa, as pessoas continuarão frequentando o local, ainda que não queiram mais pagar preços altos. A minha marca está situada abaixo das grifes de luxo. Em 25 anos de existência, sempre buscamos criar algo acessível para as pessoas. Hoje, com a crise, talvez elas não queiram mais gastar US$ 1.000 numa jaqueta italiana ou francesa e prefiram pagar US$ 400 por esta peça em minha loja.

FOLHA - Como a situação econômica está afetando os seus negócios?
HILFIGER -
Estamos mais conscientes dos custos em tudo que fazemos, até no momento de escolhermos um simples botão.

FOLHA - E como a crise afeta a moda em geral, na sua opinião?
HILFIGER -
Penso que as pessoas não estão mais comprando itens de luxo -sejam eles bolsas, sapatos ou roupas. Elas vão pensar duas vezes antes de gastar seu dinheiro com algo caro.

FOLHA - É um momento difícil para os negócios de luxo?
HILFIGER -
Acho que sim.

FOLHA - Se o sr. tivesse uma marca de luxo, o que faria agora?
HILFIGER -
Eu não estaria muito feliz neste momento.

FOLHA - Mas há quem diga que os ricos serão os menos afetados pelos problemas e, por isso, o consumo de luxo não corre perigo.
HILFIGER - Não acredito nisso. Eu conheço pessoas muito ricas. Elas já têm bolsas, sapatos, relógios luxuosos e não precisam comprar mais. Além disso, não está na moda comprá-los agora. Começou uma nova época. As pessoas continuarão querendo luxo, mas um luxo acessível. Acho que a situação está nos obrigando a repensar nossas vidas e a refletir sobre como gastamos nosso dinheiro.

FOLHA - O sr. também considera Michelle Obama um novo ícone da moda, como boa parte da imprensa americana?
HILFIGER -
Não acho que ela seja um ícone fashion, mas penso que tem um bom senso de estilo. Ao vestir roupas de diferentes designers e marcas americanas, ela pode dar credibilidade a eles. Nos últimos anos, as revistas e a mídia de moda difundiram que as jovens americanas deveriam usar roupas caras para parecerem belas. Ao vestir também roupas de preços acessíveis, Michelle Obama tem demonstrado que isso não é verdade.


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