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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Para Tommy Hilfiger, luxo está fora de moda
Estilista diz que consumidores querem agora "luxo acessível" e que Michelle Obama fez jovens descobrirem que estilo não vem só das roupas caras
O estilista americano
Tommy Hilfiger não queria estar na pele do dono de uma
marca de luxo neste momento.
"Eu não estaria muito feliz", diz
ele à Folha. Para o designer,
são as marcas de luxo que mais
sofrerão os efeitos da depressão econômica mundial.
"Eu conheço pessoas muito
ricas. Elas já têm bolsas, sapatos, relógios luxuosos e não
precisam comprar mais nada.
Além disso, não está na moda
comprá-los agora. Começou
uma nova época", afirma Hilfiger, em entrevista exclusiva,
feita no último mês em Nova
York, nos estúdios onde ele
acompanhava os preparativos
de seu desfile na semana de
moda de Nova York.
Um dos principais nomes do
"sportswear" americano, Hilfiger, 58, fundou sua marca em
1984. O auge de seus negócios
veio na década de 1990, quando
suas roupas confortáveis, charmosas e coloridas se tornaram
mania nos EUA. Em 2006,
após atravessar grave crise financeira, ele vendeu a companhia para o grupo Apax Partners, permanecendo como diretor de criação da grife, que
tem 11 lojas no Brasil.
FOLHA - Qual foi a maior contribuição dos americanos à moda?
HILFIGER - Foi o "sportswear".
Nós fizemos o mundo se vestir
de maneira mais casual. Criamos este look informal que
agora está em toda parte.
FOLHA - A moda americana, como
a brasileira, foi muito influenciada
pela europeia. Esta influência ainda
é importante?
HILFIGER - A Europa já não é o
único espelho. Hoje tudo é global, e os países se influenciam
mutuamente.
FOLHA - Como o sr. definiria a moda americana hoje?
HILFIGER - Muito sensível e criativa, mas não louca e desligada
da realidade concreta. Está
sempre atenta à questão comercial e cada vez mais preocupada com sua inserção no mercado mundial. Hoje, ela é também multicultural.
FOLHA - Sua nova coleção homenageia a Quinta Avenida. Por que
escolher uma rua como tema?
HILFIGER - Estamos abrindo
uma grande loja na Quinta Avenida e decidimos homenageá-la. Ela é, provavelmente, a mais
famosa rua de compras do
mundo. Mesmo com a economia em baixa, as pessoas continuarão frequentando o local,
ainda que não queiram mais
pagar preços altos. A minha
marca está situada abaixo das
grifes de luxo. Em 25 anos de
existência, sempre buscamos
criar algo acessível para as pessoas. Hoje, com a crise, talvez
elas não queiram mais gastar
US$ 1.000 numa jaqueta italiana ou francesa e prefiram pagar
US$ 400 por esta peça em minha loja.
FOLHA - Como a situação econômica está afetando os seus negócios?
HILFIGER - Estamos mais conscientes dos custos em tudo que
fazemos, até no momento de
escolhermos um simples botão.
FOLHA - E como a crise afeta a moda em geral, na sua opinião?
HILFIGER - Penso que as pessoas
não estão mais comprando
itens de luxo -sejam eles bolsas, sapatos ou roupas. Elas vão
pensar duas vezes antes de gastar seu dinheiro com algo caro.
FOLHA - É um momento difícil para
os negócios de luxo?
HILFIGER - Acho que sim.
FOLHA - Se o sr. tivesse uma marca
de luxo, o que faria agora?
HILFIGER - Eu não estaria muito
feliz neste momento.
FOLHA - Mas há quem diga que os
ricos serão os menos afetados pelos
problemas e, por isso, o consumo de
luxo não corre perigo.
HILFIGER - Não acredito nisso.
Eu conheço pessoas muito ricas. Elas já têm bolsas, sapatos,
relógios luxuosos e não precisam comprar mais. Além disso,
não está na moda comprá-los
agora. Começou uma nova época. As pessoas continuarão querendo luxo, mas um luxo acessível. Acho que a situação está
nos obrigando a repensar nossas vidas e a refletir sobre como
gastamos nosso dinheiro.
FOLHA - O sr. também considera
Michelle Obama um novo ícone da
moda, como boa parte da imprensa
americana?
HILFIGER - Não acho que ela seja
um ícone fashion, mas penso
que tem um bom senso de estilo. Ao vestir roupas de diferentes designers e marcas americanas, ela pode dar credibilidade a eles. Nos últimos anos, as
revistas e a mídia de moda difundiram que as jovens americanas deveriam usar roupas caras para parecerem belas. Ao
vestir também roupas de preços acessíveis, Michelle Obama
tem demonstrado que isso não
é verdade.
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