São Paulo, domingo, 27 de março de 2011 |
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OPINIÃO Apesar da tutela estatal, seriados são entretenimento de qualidade MAURICIO STYCER ESPECIAL PARA A FOLHA Eis que, por iniciativa do Ministério da Cultura, que impôs uma série de regras e condições, grandes produtoras se envolveram numa gincana para produzir minisséries, um formato consagrado nos EUA, ainda em busca de uma cara no Brasil. "Natália", "Vida de Estagiário" e "Brilhante Futebol Clube" são os três primeiros frutos dessa proposta à realização de seriados destinados aos jovens das classes C, D e E agora exibida com orgulho e pompa pelo governo. Parece legítimo, por demonstrar preocupação com o uso de dinheiro público, mas incomoda ver a produção cultural nascer dirigida por "targets", "briefings" e pesquisas de mercado, destinadas a definir temas, ajustar focos e "corrigir" distorções. Alguém poderá argumentar que a produção das emissoras de TV privadas também é dirigida, no caso, pelas regras do mercado. É fato. Mas essa é a natureza do negócio delas, ainda que sejam concessões públicas. Dirigismo cultural voltado para a criação artística é sempre preocupante, por melhores que sejam as intenções. No caso das três minisséries financiadas pelo MinC, há dois atenuantes a serem observados. Primeiro, o público que assiste à TV aberta no Brasil é majoritariamente das classes C, D e E. Em tese, portanto, a maior parte da produção das principais emissoras do país já é destinada a esse público. Segundo, as três minisséries produzidas sob condições, normas e padrões definidos pelo governo resultaram muito boas e oferecem, de fato, um olhar fresco sobre a maneira de se dirigir aos jovens na televisão. Por trás do incômodo causado pela proposta, esconde-se, de fato, uma produção de temática variada, ótima qualidade técnica e, não menos importante, efetiva habilidade para entreter. "Natália" conta, sem maniqueísmo ou obviedade, a história de uma menina da zona norte carioca, mulata, filha de um pastor rigoroso, às voltas com a possibilidade de virar uma modelo. A julgar pelos três primeiros episódios, a série de Patrícia Corso e André Pellenz cumpre com distinção e honra a missão de divertir sem perder de vista a capacidade de provocar reflexão. O programa olha para os bastidores dos dois universos em questão (igreja evangélica e agência de modelos) sem demonizá-los, mas sem ignorar as suas distorções. Baseado nas tiras de Allan Sieber, cartunista da Folha, "Vida de Estagiário" é uma comédia escrachada, nonsense, ambientada numa agência de publicidade. "Estagiário trabalha como uma mula e ganha como meia mula", observa um amigo do protagonista. Ainda que cumpra o objetivo de refletir, com ótimo humor, sobre uma condição muito comum no universo do jovem, a série de Vitor Brandt também faz gato e sapato do mundo da publicidade, a começar pelo caricato dono da agência, que tem dois cachorros, Duda e Nizan, passando pela sua dupla de criação sem criatividade e pela secretária alucinada. Ambientada na pequena Santa Rita do Sapucaí (MG), "Brilhante FC", de Kiko Ribeiro, Luis Pinheiro e Zaracla, destoa das duas outras produções não apenas pelo universo, como pelo tom, meio piegas, quase documental, com que descreve a vida sem graça de uma turma de meninas e o esforço de montar um time de futebol. Ainda assim, como as outras duas, essa série também cumpre a função de apresentar novos talentos na tela, além de reforçar o caráter de diversidade do projeto. MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL. Texto Anterior: Edital foi baseado em estudos de cientistas políticos Próximo Texto: Programa do Canal Brasil celebra teatro Índice | Comunicar Erros |
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