São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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CRÍTICA
Estranho, misógino e perturbador

SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada

"E ele disse: "Eu não confio em algo que sangra por uma semana e não morre!'" fala do personagem Chad em "Na Companhia dos Homens"

É estranha a companhia dos homens no final dos anos 90, assim como é estranho, misógino e perturbador "Na Companhia dos Homens", que estréia hoje numa única sala em São Paulo.
O filme foi indicado para a distribuidora brasileira Pandora pela reportagem da Folha no último Festival de Cannes. "Na Companhia dos Homens" é fácil um dos cinco melhores do biênio 97/98.
Mas é mais: compõe -com "Ou Tudo ou Nada", atualmente em cartaz, e "Nil by Mouth", a estréia na direção do ator Gary Oldman ainda inédita por aqui- a possível trilogia fílmica do (acuado?) homem do final do milênio.
(Aliás, torça para que seja comprado e exibido no Brasil "Nil by Mouth" -algo como "Nada pela Boca"-, corajosa e tocante autobiografia do ex-alcoólatra Oldman, em que as mulheres são fortes, os homens são fracos e a platéia se comove do começo ao fim.)
Se o cinema do final dos anos 60 e das décadas de 70 e 80 foi na maior parte do tempo o espelho da reação feminina, a década atual experimenta olhar para outros lados -e o resultado é instigante.
A comparação pode parecer estapafúrdia, mas tem muito de "Seinfeld" nisso. A série de maior sucesso na TV americana estreou com os anos 90 e foi das primeiras a colocar no ar com todas as letras o estranhamento do macho.
São já antológicos os diálogos e tiradas sobre mulher entre Seinfeld e George. Exemplo: "Meus meninos conseguem nadar!", é a reação de George, referindo-se aos espermatozóides, ao ouvir que a namorada está grávida.
Disputa
Por mais que o diretor estreante LaBute negue, fez um filme que trata sim da disputa entre homens e mulheres, ou entre homens e mulher (ou, ainda, entre dois cafajestes como nós e uma surda).
De resto, "Na Companhia" comete exageros propositais, como toda obra-manifesto, e não acrescenta muito ao cinema (lembra os filmes de Mamet), exceto por uma cena, que é pura imagem: Chad obriga um auxiliar a mostrar-lhe o pênis -o que adianta o seu ser maior se o outro tem mais poder?
Assista ao filme, mas preste atenção também à reação das pessoas -vão de risadinhas sem graça à franca reprovação; em Nova York, um homem chegou a ser estapeado na saída do cinema.
Depois de tanto tempo, finalmente um filme provocante.

Filme: Na Companhia de Homens Produção: EUA, 1997 Direção: Neil LaBute Com: Aaron Eckhart, Stacy Edwards, Matt Malloy, Emily Cline, Mark Rector Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 3


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