São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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LÍRICA
"Fantasma" reescreve herança no Sesc Ipiranga

Fabiano Accorsi/Folha Imagem
A soprano Rosana Lamossa, que faz Loretta em 'Gianni Schicchi'


JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

"Gianni Schicchi", de Giacomo Puccini (1858-1924), é uma das mais hilariantes peças do repertório lírico. Terá amanhã a primeira das seis récitas no Sesc Ipiranga, em produção de ópera de câmara, ou "pocket opera".
Em lugar do formato tradicional, com orquestra sinfônica e cenários pesados, o palco do pequeno anfiteatro (213 lugares) recebe os cantores acompanhados por piano e por um sexteto de sopros e cordas.
Não chega a ser um gênero inédito. Com a mesma direção musical de Abel Rocha e a direção cênica de Hugo Possolo, o Sesc Ipiranga montou há dois anos uma "Flauta Mágica" de Mozart, com soluções cênicas leves e atraentes.
No mesmo anfiteatro, a primeira experiência ocorreu em 1994, com uma outra ópera de Mozart, "As Bodas de Fígaro". Ao todo, o Sesc Ipiranga já produziu cinco óperas com esse formato.
Em termos de vozes, não haverá surpresa alguma para quem frequenta o Teatro Municipal. Lá estarão Rosana Lamosa, Regina Elena Mesquita, Rubens Medina ou Sandro Bodilon.
A surpresa está em dar aos personagens de "Gianni Schicchi" uma configuração mais engraçada ainda. "Não mudamos uma única nota da partitura, mas Puccini vira de vez em quando um compositor de musical da Broodway, já que esse tipo de teatro se inspirou frequentemente nele", diz Rocha.
A ação não se passa em Florença em 1299, conforme o roteiro original, mas alguns anos depois. "Estamos todos literalmente no inferno por causa da confusão que aprontamos", diz a soprano Lamosa, que faz o papel de Loretta, a filha do personagem-título.
A história é simples e começa no exato momento em que o nobre Buoso Donatti dá seu último suspiro. A família passa a revirar seu palácio em busca do testamento. Ao ser encontrado, o documento traz uma péssima surpresa: a fortuna do morto é inteiramente doada às obras religiosas.
A esperança em reverter a situação está nas mãos do pilantra Giani Schicchi, que se oferece para ocupar o lugar de Buoso em seu leito de moribundo. Um novo testamento é ditado ao notário.
Hugo Possolo, o diretor cênico, foi quem criou os Parlapatões, Patifes e Paspalhões, grupo que misturou o teatro ao circo e obteve como espetáculos algo tão movimentado quanto às comédias de pastelão.
A ópera de Puccini mereceu tratamento idêntico. O libreto original de Giovacchino Forzano foi traduzido para o português. Intervém um jogo dúbio entre personagens e atores. "Deixem a soprano cantar, deixem a soprano cantar", diz o grupo em certo momento.
E então a soprano não é apenas Loretta. Em "O Mio Babbino Caro", trecho obrigatório de qualquer antologia lírica que se preste, Rosana Lamosa se torna ao mesmo tempo uma moradora do inferno e uma atriz no papel da filha de Schicchi.



Ópera: "Gianni Schicchi", de Puccini
Direção: Abel Rocha (musical) e Hugo Possolo (cênica)
Elenco: Rosana Lamosa, Sandro Bodillon, Regina Elena Mesquita, Rubens Medina e outros
Quando: dia 29 às 20h e dias 28, 31, 1º, 3 e 4 às 21h
Onde: Teatro Sesc Ipiranga (rua Bom Pastor, 822, tel. 3344-2000)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (comerciários, estudantes e idosos)



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