São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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CRÍTICA
"La Cenerentola" traz um sonho em alto estilo

da Reportagem Local

Quanto mais complexo o espetáculo, maior a possibilidade de alguma coisa não dar certo. Apesar disso, poucas montagens líricas tiveram recentemente um padrão tão elevado de precisão orquestral e vocal quanto "La Cenerentola", de Rossini, que marca a reabertura do Teatro São Pedro.
O maestro John Neschling, enérgico, obteve dos músicos da Orquestra Sinfônica do Estado uma sonoridade invejável. Não fez concessão de andamento e saiu ganhando em sua aposta.
As madeiras e metais se comportaram de forma impecável. As cordas, um pouco menos seguras, acabaram enquadradas nessa profusão de acordes rápidos ou fraseados em semifusas.
A formação se apresentava em formato reduzido -apenas 38 de seus quase 100 músicos. Mas, recém-reformulada, impõe-se, sem dúvida, como uma boa surpresa.
As principais vozes também foram muitíssimo bem. Ao menos quatro destaques. A mezzo-soprano Francesca Provvisionato (Cinderela) tem beleza de timbre, sutileza dramática e potência vocal.
O barítono Fabio Previati roubou por vezes a cena. O mesmo ocorreu com o também barítono Armando Ariostini. O tenor Fernando Portari, único brasileiro na linha de frente, passeou com excelência pelos anacronismos vocais.
A soprano australiana Bridget Bolliger e a mezzo brasileira Silvia Suss tornaram-se, por contraste, bem menos expressivas. Seus belos timbres eram com frequência cobertos pelos "tutti" dos instrumentos da orquestra.
A montagem do diretor cênico Pier Francesco Maestrini carregou no histriônico. Colocou os Irmãos Marx em cena -Ariostini entrou como Groucho- numa revisão heterodoxa da datação do enredo. Cinderela, que surgiu em livro no século 17, tornou-se personagem do início do século 20.
O preço da heterodoxia é a falta de unanimidade. Os puristas terão detestado. Mas a produção é em outros planos tão próxima da perfeição que o susto cronológico se torna quase desimportante.
Há, por fim, como presença veterana, o próprio Teatro São Pedro, que volta aos bom momentos de 1917, ano de sua inauguração. Tanto quanto a adolescente Cinderela, ele é, arquitetonicamente, um saboroso conto de fadas.
(JBN)
EM

Ópera: "La Cenerentola", de Rossini
Orquestra: Sinfônica do Estado, dir. John Neschling
Onde: Teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171)
Reservas: Ticketeatro (tel. 011/887-3000)
Quando: hoje e dia 31, às 21h; dia 29, às 16h30
Quanto: R$ 15 (R$ 5, dia 29)




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