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CRÍTICA
"La Cenerentola" traz um sonho em alto estilo
da Reportagem Local
Quanto mais complexo o espetáculo, maior a possibilidade de alguma coisa não dar certo. Apesar
disso, poucas montagens líricas tiveram recentemente um padrão
tão elevado de precisão orquestral
e vocal quanto "La Cenerentola",
de Rossini, que marca a reabertura
do Teatro São Pedro.
O maestro John Neschling, enérgico, obteve dos músicos da Orquestra Sinfônica do Estado uma
sonoridade invejável. Não fez concessão de andamento e saiu ganhando em sua aposta.
As madeiras e metais se comportaram de forma impecável. As cordas, um pouco menos seguras,
acabaram enquadradas nessa profusão de acordes rápidos ou fraseados em semifusas.
A formação se apresentava em
formato reduzido -apenas 38 de
seus quase 100 músicos. Mas, recém-reformulada, impõe-se, sem
dúvida, como uma boa surpresa.
As principais vozes também foram muitíssimo bem. Ao menos
quatro destaques. A mezzo-soprano Francesca Provvisionato (Cinderela) tem beleza de timbre, sutileza dramática e potência vocal.
O barítono Fabio Previati roubou por vezes a cena. O mesmo
ocorreu com o também barítono
Armando Ariostini. O tenor Fernando Portari, único brasileiro na
linha de frente, passeou com excelência pelos anacronismos vocais.
A soprano australiana Bridget
Bolliger e a mezzo brasileira Silvia
Suss tornaram-se, por contraste,
bem menos expressivas. Seus belos timbres eram com frequência
cobertos pelos "tutti" dos instrumentos da orquestra.
A montagem do diretor cênico
Pier Francesco Maestrini carregou
no histriônico. Colocou os Irmãos
Marx em cena -Ariostini entrou
como Groucho- numa revisão
heterodoxa da datação do enredo.
Cinderela, que surgiu em livro no
século 17, tornou-se personagem
do início do século 20.
O preço da heterodoxia é a falta
de unanimidade. Os puristas terão
detestado. Mas a produção é em
outros planos tão próxima da perfeição que o susto cronológico se
torna quase desimportante.
Há, por fim, como presença veterana, o próprio Teatro São Pedro, que volta aos bom momentos
de 1917, ano de sua inauguração.
Tanto quanto a adolescente Cinderela, ele é, arquitetonicamente,
um saboroso conto de fadas.
(JBN)
EM
Ópera: "La Cenerentola", de Rossini
Orquestra: Sinfônica do Estado, dir. John
Neschling
Onde: Teatro São Pedro (r. Barra Funda,
171)
Reservas: Ticketeatro (tel. 011/887-3000)
Quando: hoje e dia 31, às 21h; dia 29, às
16h30
Quanto: R$ 15 (R$ 5, dia 29)
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