RITA LOBO
Colunista da Folha

Em “What’s Cooking”, que estréia hoje, vou falar de lugares, pessoas, restaurantes ou cidades que sejam assunto no cenário da gastronomia mundial ou simplesmente que me façam lembrar de uma boa refeição _afinal, uma das maravilhas de viajar é que a gente só se preocupa em emagrecer na volta. Para começar, escolhi uma cidade que une as duas coisas. Dizer que foi a Londres e não comeu bem, atualmente, é sinal de falta de informação. Não que do dia para a noite a comida inglesa tenha se transformado _“kidney pie” será sempre “kidney pie” e batatas assadas são batatas assadas. Mas não há como negar a evolução gastronômica da capital inglesa nos últimos anos. Minha teoria é que um grupo de ingleses, em um dia chuvoso como outro qualquer, resolveu acabar com essa história de que eles são os piores cozinheiros do mundo e pronto: deu-se início a uma verdadeira revolução. De dez anos para cá, muitos restaurantes bons abriram suas portas. Três, inclusive, hoje são três estrelas do Michelin: Chez Nico at Ninety Park Lane, La Tante Claire e o nada pernóstico The Restaurant, cujo chef, Marco Pierre White, é considerado o “darling” dos jovens londrinos que gostam de comer bem e podem pagar por isso. White é ainda proprietário de três outras casas: o Criterion, lindo, mas abusivamente caro; Mirabelle; e Quo Vadis, comprado por ele recentemente. Conforme os jovens londrinos começaram a trocar os pubs por restaurantes, empresários de outras áreas passaram a enxergar nesse mercado um futuro lucrativo. Sir Terence Conran, arquiteto e dono da rede The Conran Shop, com lojas de móveis de design espalhadas pela Inglaterra, França e Alemanha, foi um dos pioneiros ao abrir em 1993 o megarrestaurante Quaglino’s _aliás muito bem cotado até hoje. O porta-fólio de restaurantes com a assinatura de Sir Conran, pode-se dizer, ficou bem gordinho: Mezzo, La Pont de la Tour, Blue Print Cafe, Cantina del Ponte, The Butlers Wharf e o Bluebird - The King’s Road Gastrodome. Esse é um caso à parte. Há de tudo: bar, restaurante com quase 300 lugares, padaria e confeitaria, cave, take out, uma feira com frutas e hortaliças de dar água na boca, floricultura e uma loja de utensílios para cozinha que dá vontade de chorar. É a Eurodisney dos gourmets. Mas, se você, assim como eu, além dos estrelados e descolados, quando vai à Inglaterra quer mais é comer a “good and old game cookery”, ou a tradicional culinária de caça (tipicamente inglesa), não deixe de ir ao Rules - London’s Oldest Restaurant, que acaba de completar 200 anos de história e prepara o melhor cordeiro que eu já comi.



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