São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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ELETRONIKA

Sou malcomportado demais para ser do drum'n'bass, diz Tobin

MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO

Depois de Recife e São Paulo, o DJ e produtor Amon Tobin prossegue com a sua primeira turnê brasileira hoje no Festival Eletronika, em Belo Horizonte, que ainda traz Asian Dub Foundation, Flanger e Patife (veja quadro).
Anteontem no Sesc Pompéia (SP), o DJ tocou com o pulso enfaixado um set por vezes dançante de "drum'n'bass'n'breaks" intenso, difícil, sombrio e psicodélico durante uma hora e meia. Amanhã ele encerra sua turnê na festa Loud!, no Rio.
Tobin é brasileiro e foi morar em Brighton, sul da Inglaterra, há 12 anos, depois de viajar meio mundo com seus pais, depois de ter nascido no Rio há 29 anos.
Apesar disso, ele mal fala português. "Sinto-me mais confortável conversando em inglês", afirmou Tobin. Esta é a segunda vez que o produtor volta ao Brasil e a primeira em que faz shows.
Com três álbuns lançados (além de um, "Adventures in Foam", de 96, sob o codinome Cujo), o anglo-carioca se consolida cada vez mais no underground inglês, principalmente com "Supermodified", seu último disco, de 2000.
O penúltimo, "Permutation" (99), saiu no Brasil pelo selo independente Subsolo, que promete lançar "Supermodified" este ano.
Como ele mesmo diz, "não sou um DJ convencional". O que interessa aqui é fazer de samples (trechos de músicas alheias) notas musicais para canções próprias.
Tobin é um dos melhores engenheiros do "cut-and-paste" (cortar e colar); suas músicas são pequenos edifícios em que os tijolos são os samples encaixados cirurgicamente. "Mas às vezes alguns ficam à mostra", diverte-se.
Jazz, drum'n'bass, trilhas sonoras noir e psicodelismo são algumas matérias-primas de seus álbuns, todos lançados pela inglesa Ninja Tune, gravadora sinônimo de novas sonoridades, de propriedade da dupla Coldcut.
Dias antes de desembarcar no Brasil, Tobin descansava nas Ilhas Cook, fim de mundo paradisíaco, no meio do Pacífico. E a Folha telefonou para lá.

Folha - Você é um produtor de drum'n'bass?
Amon Tobin -
Claro que não. Eu uso coisas de drum'n'bass assim como utilizo de jazz. Mas eu quero fazer minha própria música, não quero fazer parte de uma "cena", entende? Há armadilhas em integrar um "gênero" assim. Quero fazer o que quiser com a música, e não ter de me encaixar em uma definição. É importante para mim ter liberdade no que faço e não ficar pensando: "Oh, espere, isso ainda é drum'n'bass? Devo fazer assim? Está muito lento?". Não sou bem-comportado o suficiente para fazer parte do drum'n'bass.

Folha - É um show para ouvir ou para dançar?
Tobin -
Um pouco dos dois. Espero que as pessoas dancem e se envolvam com a música. Mas eu não sei, é um público completamente novo para mim. Sinceramente não acho que alguém possa conhecer meus discos no Brasil, mas vou fazer o mesmo show que faço em Londres ou Nova York, por exemplo, onde eu conheço o público.

Folha - Durante o seu set, há improvisações de acordo com a reação do público na hora?
Tobin -
Não é uma apresentação convencional de um DJ, no sentido de perceber como a pista está reagindo às músicas. É uma espécie de apresentação de várias músicas que fiz, que se conectam com músicas que gosto. É mais como um show: ou o público está comigo ou não está.

Folha - Você prefere ser chamado de músico ou DJ?
Tobin -
Acho que nenhum dos dois. Eu não me considero um DJ, porque, para se chamar de DJ, é preciso sair e comprar vários discos novos, ficar ligado nas tendências... Não sou nada interessado nisso. Eu toco os discos que adoro, não me importo se são novos ou não. E não sou músico, não toco nenhum instrumento...

Folha - E de quem são esses discos que você adora?
Tobin -
Danny Breaks, T. Power, Funki Porcini, discos antigos de jazz, trilhas sonoras...

Folha - Enquanto você ouve uma música, você já imagina o que se pode fazer com ela? O sample é criado assim?
Tobin -
Na maioria das vezes sim, mas nem sempre. Às vezes algo que eu ouço me motiva, e eu digo: "Ótimo, vou usar isso com aquilo". Em outras vezes, tenho uma idéia bem estruturada do que quero. "Isso é o que quero fazer, o que quero alcançar com esses sons etc." Mas eu acho mais prazeroso quando eu tenho uma idéia consistente do que quero fazer, e o resultado é algo próximo do que imaginei.


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