|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELETRONIKA
Sou malcomportado demais para ser do drum'n'bass, diz Tobin
MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO
Depois de Recife e São Paulo, o
DJ e produtor Amon Tobin prossegue com a sua primeira turnê
brasileira hoje no Festival Eletronika, em Belo Horizonte, que ainda traz Asian Dub Foundation,
Flanger e Patife (veja quadro).
Anteontem no Sesc Pompéia
(SP), o DJ tocou com o pulso enfaixado um set por vezes dançante de "drum'n'bass'n'breaks" intenso, difícil, sombrio e psicodélico durante uma hora e meia.
Amanhã ele encerra sua turnê na
festa Loud!, no Rio.
Tobin é brasileiro e foi morar
em Brighton, sul da Inglaterra, há
12 anos, depois de viajar meio
mundo com seus pais, depois de
ter nascido no Rio há 29 anos.
Apesar disso, ele mal fala português. "Sinto-me mais confortável
conversando em inglês", afirmou
Tobin. Esta é a segunda vez que o
produtor volta ao Brasil e a primeira em que faz shows.
Com três álbuns lançados (além
de um, "Adventures in Foam", de
96, sob o codinome Cujo), o anglo-carioca se consolida cada vez
mais no underground inglês,
principalmente com "Supermodified", seu último disco, de 2000.
O penúltimo, "Permutation"
(99), saiu no Brasil pelo selo independente Subsolo, que promete
lançar "Supermodified" este ano.
Como ele mesmo diz, "não sou
um DJ convencional". O que interessa aqui é fazer de samples (trechos de músicas alheias) notas
musicais para canções próprias.
Tobin é um dos melhores engenheiros do "cut-and-paste" (cortar e colar); suas músicas são pequenos edifícios em que os tijolos
são os samples encaixados cirurgicamente. "Mas às vezes alguns
ficam à mostra", diverte-se.
Jazz, drum'n'bass, trilhas sonoras noir e psicodelismo são algumas matérias-primas de seus álbuns, todos lançados pela inglesa
Ninja Tune, gravadora sinônimo
de novas sonoridades, de propriedade da dupla Coldcut.
Dias antes de desembarcar no
Brasil, Tobin descansava nas Ilhas
Cook, fim de mundo paradisíaco,
no meio do Pacífico. E a Folha telefonou para lá.
Folha - Você é um produtor de
drum'n'bass?
Amon Tobin - Claro que não. Eu
uso coisas de drum'n'bass assim
como utilizo de jazz. Mas eu quero fazer minha própria música,
não quero fazer parte de uma "cena", entende? Há armadilhas em
integrar um "gênero" assim. Quero fazer o que quiser com a música, e não ter de me encaixar em
uma definição. É importante para
mim ter liberdade no que faço e
não ficar pensando: "Oh, espere,
isso ainda é drum'n'bass? Devo
fazer assim? Está muito lento?".
Não sou bem-comportado o suficiente para fazer parte do
drum'n'bass.
Folha - É um show para ouvir ou
para dançar?
Tobin - Um pouco dos dois. Espero que as pessoas dancem e se
envolvam com a música. Mas eu
não sei, é um público completamente novo para mim. Sinceramente não acho que alguém possa conhecer meus discos no Brasil, mas vou fazer o mesmo show
que faço em Londres ou Nova
York, por exemplo, onde eu conheço o público.
Folha - Durante o seu set, há improvisações de acordo com a reação do público na hora?
Tobin - Não é uma apresentação
convencional de um DJ, no sentido de perceber como a pista está
reagindo às músicas. É uma espécie de apresentação de várias músicas que fiz, que se conectam
com músicas que gosto. É mais
como um show: ou o público está
comigo ou não está.
Folha - Você prefere ser chamado
de músico ou DJ?
Tobin - Acho que nenhum dos
dois. Eu não me considero um DJ,
porque, para se chamar de DJ, é
preciso sair e comprar vários discos novos, ficar ligado nas tendências... Não sou nada interessado nisso. Eu toco os discos que
adoro, não me importo se são novos ou não. E não sou músico, não
toco nenhum instrumento...
Folha - E de quem são esses discos
que você adora?
Tobin - Danny Breaks, T. Power,
Funki Porcini, discos antigos de
jazz, trilhas sonoras...
Folha - Enquanto você ouve uma
música, você já imagina o que se
pode fazer com ela? O sample é
criado assim?
Tobin - Na maioria das vezes
sim, mas nem sempre. Às vezes
algo que eu ouço me motiva, e eu
digo: "Ótimo, vou usar isso com
aquilo". Em outras vezes, tenho
uma idéia bem estruturada do
que quero. "Isso é o que quero fazer, o que quero alcançar com esses sons etc." Mas eu acho mais
prazeroso quando eu tenho uma
idéia consistente do que quero fazer, e o resultado é algo próximo
do que imaginei.
Texto Anterior: Projeto deve trazer grupo escocês Mogwai Próximo Texto: Bananada: Festa prepara Goiânia para festival Índice
|