São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ERIKA PALOMINO

EDUCAÇÃO ELETRÔNICA FORMA PRIMEIRA TURMA NO BRASIL

Então, o Skol Beats 2. O evento do último sábado superou as expectativas de público e teve mais de 20 mil pessoas. Mas nem é a quantidade que importa aqui, mas a qualidade. É a primeira geração eletrônica, o povo que se educou durante os anos 90 e agora está aí, prontinho.
Misturando todo mundo, o evento conseguiu criar bons momentos nas quatro tendas, mesmo sem nenhum medalhão internacional badalado pela mídia mainstream, valorizou a figura do DJ brasileiro, incentivou as produções nacionais e promoveu a legítima integração entre a cena made in Brazil e os estrangeiros. Certamente os caras que passaram por aqui estão reconhecendo o talento dos brasileiros.
Qual foi melhor, o primeiro ou o segundo? Ainda que a apresentação histórica de Green Velvet no SB1 esteja em minha cabeça, fechando os olhos, acho que o evento de sábado foi bem mais legal. O DJ Mau Mau deu uma boa definição: o primeiro parecia uma rave e o segundo tinha cara de festival. Isso mesmo. A montagem deste ano ganhou corpo e estrutura, ainda que tenham rolado filas absurdas para comer e beber na alta madrugada, alguma confusão para entrar e o resultado final dos banheiros tenha mandado alguns mais cedo para casa.
Os DJs da tenda drum'n'bass foram os que mais reclamaram do som, mas é verdade que a de house parecia um clube, fechadinha e concisa. Em geral, foi boa a qualidade sonora e da iluminação.
A da tenda tecno era a mais bonita, com uma cabine realmente épica que atingiu seu clímax visual na apresentação do M4J. Eles usaram imagens do grupo Fábrica da Bijari, com suporte de Ruth Slinger, e o sensacional material vai virar videoclipe.
Veio da tenda tecno, também, a grande unanimidade da noite, o DJ canadense Richie Hawtin (Plastikman). Os iniciados já imaginavam o que poderia vir, e ele não decepcionou -ao contrário do arrogante americano Rolando. Hawtin encarnou perfeitamente a figura do DJ de tecno. Sem estrelismos, ele entrou e detonou, misturando tecno pesado (como São Paulo gosta), com tech-house e até o clássico do trance "Metropolis". Quem perdeu está com a mão na cabeça até agora...

A CONSAGRAÇÃO DO DRUM'N'BASS
Agora, em termos de emoção, entretanto, ganhou o momento histórico do set de Patife, em sua consagração em solo brasileiro. O SB2 provou também a força da nação drum'n'bass e valorizou o talento dele, que soube construir seu trabalho sem a sombra de Marky, o que, convenhamos, não é fácil. Patife e o DJ inglês Ray Keith ficaram juntos no palco por cerca de 20 minutos. Enquanto Keith tocava o hit "Terrorist", Patife animava a pista, gritando no microfone. Quando Patife tocou "Levicticus", de Jumping Jack Frost, o povo gritou e pulou muito. "Era minha última música, Bryan Gee preparava-se para entrar no som, e todo aquele vibe fez com que ele enchesse os olhos de lágrimas. Ele entrou no palco, me abraçou muito e me deu uns petelecos na cabeça", conta Patife, emocionado. "Quando eu penso em tudo o que a gente já passou, de onde a gente vem... é muito prazeiroso, é incrível", disse o DJ.

O TEMPO CERTO E O ERRADO
Ainda não deu totalmente certo a estrutura de fazer o povo chegar cedo, e muitos DJs tocaram para pistas mais-ou-menos, caso do Hipp-e (só ele veio) do H-Foundation e John Digweed. Mas, a bem da verdade, ninguém perdeu muito. Uma coisa curiosa que aconteceu foi com Renato Lopes. Ele abriu a pista tecno, tocando para bem pouquinha gente. Só que, como Anderson Noise teve problemas com seu avião e não chegou a tempo, Renato entrou no som novamente e tocou num horário bem mais adequado para seu talento e sua experiência. O flop do festival foi mesmo o DJ Rolando. A piada é que Rolando não rolou. O som foi um saco e fez encher a pista house, onde Roger Sanchez não decepcionou e envolveu todo mundo.

BRASIL A LA BODY & SOUL
A polêmica da noite ficou com Joe Claussell, o DJ do Body & Soul de NY. Muita gente não conseguiu embarcar na sofisticada viagem proposta pelo DJ e teve gente que achou que sua onda com o mixer era defeito no som. Quem entrou na história, entretanto, se sentiu na pista do Vynil, e eu mesma me deixei transportar. Claussell talvez tenha sido o DJ mais receptivo, trocou discos com outros DJs e convidou Felipe Venancio para tocar. Como no B&S, desconcertou o povo com "Is This Love?", do Bob Marley, e mostrou que tinha o público na mão com "You Make Me Feel", do Sylvester. Está apaixonado pelo Brasil. Foi assistir a "Cambaio" e amou, jantou e dançou no Buena Vista, comprou discos, foi para o Rio e agora Salvador.

na noite Ilustrada...
Hoje tem mais uma edição da festa Suuuper, de Mau Mau e George Actv com o DJ inglês Aubrey, da Solid Groove Records, no Lov.e. Audrey também toca no Smart Biz Café da galeria Ouro Fino, a partir das 17h. Hoje tem a festa Estouro, no Stereo, comemorando os aniversários de André Hidalgo, Jorge Morabito, Nenê, Ciça e Bruno Machado. André Juliani volta de NY com discos novos e toca hoje no Pix. Renato Lopes e Mental Gil tocam na Lôca. Alguns clubes abrem nesta segunda-feira, véspera de feriado como o Love e a Lôca. Marky toca no Kintamani.


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha
Internet : www.erikapalomino.com.br E-mail : palomino@uol.com.br



Texto Anterior: Bananada: Festa prepara Goiânia para festival
Próximo Texto: Jazz: Nova Orleans homenageia o "filho" Louis Armstrong
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.