São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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A arte dos faraós chega ao Brasil

Exposição faz panorama da arte durante 3.000 anos de civilização egípcia

Adriana Zehbrauskas/Folha Imagem
Invólucro da múmia Djed-Khonsu-lu-Ankh (séc. 9 a.C.), da 12ª dinastia, durante montagem da exposição, que será aberta na próxima terça no museu da Faap


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os egípcios acreditavam que quanto mais antiga era uma obra mais perfeita ela seria, pois estava próxima do tempo em que os deuses reinavam sobre a terra.
Se compartilharmos dessa crença, as peças que compõe "A Arte no Egito no Tempo dos Faraós", algumas com mais de 30 mil anos, podem ser consideradas o supra-sumo da criação humana.
Acreditando ou não nessa idéia, é difícil não se deixar seduzir pela mostra que será inaugurada terça na Faap. Afinal, quem não admirava as histórias das pirâmides, múmias e faraós nos tempos escolares e não "viajava" nas imagens dos livros didáticos, muitas reproduções do acervo do museu francês do Louvre.
Pois bem, 56 dessas obras estão na mostra, entre elas, preciosidades como a estátua de Ouser, o primeiro-ministro do faraó Tutmosis 3º, de cerca de 1.500 anos a.C.. "Essa obra é um convite ao diálogo, ela foi feita para que quem a visse recitasse a oração escrita na estátua", conta Geneviève Pierrat-Boneffois, a curadora artística da mostra e conservadora-chefe no departamento de antiguidades egípcias no Louvre.
"Há muitas formas de representar a sociedade egípcia; como a mostra ocorre num museu de artes plásticas, decidimos traçar um panorama da arte na terra dos faraós", explica Pierrat-Boneffois.
Para tanto, foram selecionadas peças do acervo do Louvre (com cerca de 60 mil objetos, de múmias a papiros) de um período de 3.000 anos: entre o séculos 30 a. C. e o início da era cristã.
"Apesar do imenso período, é impressionante como são pequenas as diferenças artísticas, é como se fosse um só estilo", diz a curadora. De fato, é só pensar nas transformações por que a arte passou no século 20, para não deixar de se surpreender com o princípio constante das peças.
Por serem admiradas desde os bancos escolares, essas imagens chegam aqui carregadas de estereótipos. "Esses clichês não são negativos, eles mostram a força dessa cultura", diz Pierrat-Boneffois. A representação da figura humana é o centro da mostra. "Cerca de 80% da arte egípcia era voltada à religião; como o faraó era a representação do divino, é natural que grande parte das obras reflitam essa crença", conta a curadora.
Outro dos destaques da exposição é o invólucro da múmia Djed-Khonsu-Iu-Ankh (séc. 9 a.C.), da 12ª dinastia. Com cinco cores -vermelho, azul, preto, verde e amarelo, que conseguiram sobreviver a 3.000 anos-, o invólucro era a peça intermediária entre a múmia e o sarcófago. As pinturas que envolvem a obra tinham como objetivo proteger o ser humano morto, simbolizado pelas asas desenhadas no invólucro.
A exposição ocupa duas salas da Faap, ambas com encenações que remetem à cultura egípcia. Em uma delas, estão as 56 peças do Louvre. Na outra, foram criadas quatro subdivisões: duas com vídeos educativos sobre o Egito, uma com jogos interativos que reconstituem a época dos faraós e a última -e mais impressionante- é a reconstrução da tumba de Sennedjien (leia o texto ao lado).
As obras nunca passaram por nenhum processo de restauro. "Espero que os visitantes se emocionem com a originalidade das peças", diz a curadora.
Para a realização da mostra, foram necessários três anos de negociações entre o Louvre e a Faap, capitaneadas pela presidente do conselho da instituição, Celita Procópio de Carvalho. Os custos são relativamente baixos, cerca de US$ 150 mil. O Museu de Arte de São Paulo também prepara uma mostra com peças egípcias do acervo do Louvre. Programada para ser aberta em maio, ela já foi transferida para julho.


A ARTE NO EGITO NO TEMPO DOS FARAÓS - Mostra com 56 obras do acervo do museu do Louvre. Curadoria Geral: Christiane Ziegler. Onde: Museu de Arte Brasileira e Salão Cultural da Faap (r. Alagoas, 903, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3662-1662, r. 1.123). Quando: abertura na próxima terça, dia 1º de maio, às 19h; de ter. à sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 13h às 18h. Até 22/ 7. Quanto: grátis.



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