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"SENTA A PUA!"
Documentário resgata participação brasileira na luta contra o Eixo
Pilotos contam histórias de guerra
Filme revê participação do Brasil em guerra
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
O documentário "Senta a Pua!"
era um sonho que o diretor Erik
de Castro, 29, acalentava desde os
15 anos, quando, fuçando na biblioteca do pai, achou o livro homônimo, escrito por um dos 49
pilotos que participaram da missão brasileira na Itália durante a
Segunda Guerra, o brigadeiro Rui
Moreira Lima. Mas Castro ainda
quer mais: transformar a história
em um longa-metragem de ficção
e em uma série para a TV.
"Pode ser daqui a cinco ou daqui a 15 anos, mas eu vou fazer. É
um projeto de vida", diz o diretor,
que, para garantir sua idéia, comprou os direitos de filmagem do
livro do brigadeiro e de outras três
obras escritas por ex-pilotos que
serviram de base para o documentário: o romance "Missão
60", de Fernando Pereyron Mocellin, além de "Missão de Guerra" e
de "Avestruzes nos Céus da Itália", de Luís Felipe Perdigão.
O documentário, uma produção independente da "BSB Filmes", empresa de Brasília dirigida pelo irmão de Erik, Christian
de Castro, custou cerca de R$600
mil -mais ou menos o dobro do
polêmico "Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos", de
Marcelo Masagão. A maior dificuldade foi encontrar imagens
dos combates, que tiveram de ser
garimpadas no Arquivo Nacional
de Washington, nos EUA.
"A preservação histórica é uma
coisa complicada no Brasil", critica o diretor. "Tanto que há uma
movimentação dos pilotos para
fazer cópias destes filmes que estão nos EUA, porque há mais
imagens sobre a ação dos pilotos
brasileiros lá do que aqui."
Ao todo, foram 466 os brasileiros que se deslocaram para a Itália, de outubro de 1944 a maio de
1945, entre pilotos, pessoal em
terra e enfermeiras. Nove pilotos
morreram durante a ação.
O envio dos aviadores para a
guerra, alvo de muitas críticas, é
defendido por Castro. "Quando
um país se declara em estado de
guerra tem que enviar tropas."
Mais do que nas imagens, o documentário está centrado basicamente nos depoimentos dos 11 pilotos ainda vivos -dois deles
morreram de 1997, quando o filme começou a ser rodado, para
cá. Alguns são tocantes, como a
história do aviador Danilo Moura, que saltou de pára-quedas ao
ser atingido e cruzou a Itália a pé
para voltar à base.
Outros são polêmicos, como o
do brigadeiro José Rebelo Meira,
que rejeita a versão corrente de
que os prisioneiros de guerra
eram maltratados pelos alemães.
"Isso era feito pela SS (a polícia
nazista), não pelas Forças Armadas", diz Meira no filme.
"Esse foi um momento que surpreendeu todo mundo", conta o
diretor. "Mas como questionar?
Ele não falou sobre algo que tinha
lido, e sim do que vivenciou, do
que ouviu de seu melhor amigo
quando foi aprisionado pelos nazistas." Também polêmica é a crítica à Aeronáutica brasileira pela
falta de reposição das aeronaves
abatidas. "Isso é fato, eles sabem
que aconteceu", afirma o diretor.
Erik de Castro não aceita que o
documentário seja criticado por
um suposto viés de direita ou ufanista. "Eu busquei o equilíbrio,
mostrar que eles foram heróis,
mas sem cair para o lado do ufanismo", diz. "Não vejo desta forma, de direita ou de esquerda.
Dois deles inclusive foram cassados em 64. E lutaram contra Hitler, a forma de direita mais radical que já existiu."
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