São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"SENTA A PUA!"
Documentário resgata participação brasileira na luta contra o Eixo Pilotos contam histórias de guerra

Filme revê participação do Brasil em guerra

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

O documentário "Senta a Pua!" era um sonho que o diretor Erik de Castro, 29, acalentava desde os 15 anos, quando, fuçando na biblioteca do pai, achou o livro homônimo, escrito por um dos 49 pilotos que participaram da missão brasileira na Itália durante a Segunda Guerra, o brigadeiro Rui Moreira Lima. Mas Castro ainda quer mais: transformar a história em um longa-metragem de ficção e em uma série para a TV.
"Pode ser daqui a cinco ou daqui a 15 anos, mas eu vou fazer. É um projeto de vida", diz o diretor, que, para garantir sua idéia, comprou os direitos de filmagem do livro do brigadeiro e de outras três obras escritas por ex-pilotos que serviram de base para o documentário: o romance "Missão 60", de Fernando Pereyron Mocellin, além de "Missão de Guerra" e de "Avestruzes nos Céus da Itália", de Luís Felipe Perdigão.
O documentário, uma produção independente da "BSB Filmes", empresa de Brasília dirigida pelo irmão de Erik, Christian de Castro, custou cerca de R$600 mil -mais ou menos o dobro do polêmico "Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos", de Marcelo Masagão. A maior dificuldade foi encontrar imagens dos combates, que tiveram de ser garimpadas no Arquivo Nacional de Washington, nos EUA.
"A preservação histórica é uma coisa complicada no Brasil", critica o diretor. "Tanto que há uma movimentação dos pilotos para fazer cópias destes filmes que estão nos EUA, porque há mais imagens sobre a ação dos pilotos brasileiros lá do que aqui."
Ao todo, foram 466 os brasileiros que se deslocaram para a Itália, de outubro de 1944 a maio de 1945, entre pilotos, pessoal em terra e enfermeiras. Nove pilotos morreram durante a ação.
O envio dos aviadores para a guerra, alvo de muitas críticas, é defendido por Castro. "Quando um país se declara em estado de guerra tem que enviar tropas."
Mais do que nas imagens, o documentário está centrado basicamente nos depoimentos dos 11 pilotos ainda vivos -dois deles morreram de 1997, quando o filme começou a ser rodado, para cá. Alguns são tocantes, como a história do aviador Danilo Moura, que saltou de pára-quedas ao ser atingido e cruzou a Itália a pé para voltar à base.
Outros são polêmicos, como o do brigadeiro José Rebelo Meira, que rejeita a versão corrente de que os prisioneiros de guerra eram maltratados pelos alemães. "Isso era feito pela SS (a polícia nazista), não pelas Forças Armadas", diz Meira no filme.
"Esse foi um momento que surpreendeu todo mundo", conta o diretor. "Mas como questionar? Ele não falou sobre algo que tinha lido, e sim do que vivenciou, do que ouviu de seu melhor amigo quando foi aprisionado pelos nazistas." Também polêmica é a crítica à Aeronáutica brasileira pela falta de reposição das aeronaves abatidas. "Isso é fato, eles sabem que aconteceu", afirma o diretor.
Erik de Castro não aceita que o documentário seja criticado por um suposto viés de direita ou ufanista. "Eu busquei o equilíbrio, mostrar que eles foram heróis, mas sem cair para o lado do ufanismo", diz. "Não vejo desta forma, de direita ou de esquerda. Dois deles inclusive foram cassados em 64. E lutaram contra Hitler, a forma de direita mais radical que já existiu."


Texto Anterior: Crítica: Filme retrata homem-dejeto do novo milênio
Próximo Texto: Crítica: A propósito de "Senta a Pua!"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.