São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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HQ

Edna Lopes quer abrir espaço para autoras mulheres

"Amana" lança olhar feminino sobre as histórias em quadrinhos

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouquíssimas mulheres no Brasil são conhecidas por suas histórias em quadrinhos. Edna Lopes, 41, quer mudar esse cenário.
Com lançamento previsto para maio, "Amana - Ao Deus Dará" é provavelmente a primeira "graphic novel" escrita e desenhada por uma artista brasileira.
Conta a história de uma menina órfã, criada pela avó, que viaja pelo país em busca de seus pais verdadeiros (provavelmente uma índia e um branco desconhecido).
No caminho, aproveita para falar de tráfico de crianças, prostituição infantil e, por que não, de amizades.
"Acho que falta um olhar feminino nas histórias em quadrinhos. Nos EUA tem algumas, como a Jessica Abe, mas na Europa e no Brasil a gente não vê muito isso. O homem, mesmo que escreva no feminino, nunca vai ser igual à mulher. É legal que exista essa diferença", defende a autora.
Com formação em jornalismo e uma queda pelas artes plásticas, Lopes conta que, até pouco tempo, "não sentia muita atração pelas HQs". "Preferia literatura, Machado de Assis. Achava quadrinho meio bobo", lembra ela, que só foi se converter quando conheceu a coleção de quadrinhos europeus e underground americana de seu marido, o músico Ed Motta.
"O livro que mudou a minha vida foi um quadrinho belga, "S.O.S. Meteoros", de Edgar Pierre Jacobs. Aquelas cores, aqueles desenhos absurdos, em cada página que você vira tem uma aventura acontecendo", derrete-se.
Foi assim, influenciada pela nata da arte seqüencial européia e americana e também pelo livro-reportagem "Meninas da Noite", de Gilberto Dimenstein, colunista da Folha, que Lopes resolveu tentar criar a sua própria HQ.
"Comecei a desenhar, queria fazer só para mim, mas o Ed falava que estava ficando muito bom e começou a me incentivar. Ficava meio na paúra, achando que não ia conseguir. Faltava um gancho", lembra ela. "Num dia, estava de bobeira passando um café e, de repente, a história toda veio à minha cabeça."
A idéia inicial, segundo Lopes, era fazer uma história de terror usando uma personagem feminina como protagonista e o Brasil como cenário. "Queria mostrar as diferenças que existem neste país. As gírias, o jeito das pessoas, é tudo completamente diferente de um Estado para outro", afirma ela, com conhecimento de causa.
Além de acompanhar há mais de dez anos as turnês de seu marido, Lopes nasceu em Curitiba, mudou-se ainda pequena para Porto Alegre, passou a adolescência e a juventude em São Paulo e, depois de casar, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde mora hoje.
Apesar de não ser exatamente autobiográfica, a autora reconhece algumas semelhanças entre sua vida e a de Amana, personagem central da "graphic novel". "Sou uma pessoa que venho de vários Estados, passei por dificuldades na infância. Apesar de ela ser do Norte e de eu ser do Sul, Amana tem esse negócio meio nômade que a minha família tinha."
Dependendo do desempenho de sua heroína nas livrarias, Lopes pretende, no futuro, desenhar novas histórias com a personagem. O destino é São Paulo, que, neste volume, aparece apenas nas primeiras páginas da história, por intermédio de um ladrão e de um pastor evangélico na estação da Luz.
"Aqueles [que viveu em SP] foram os anos mais importantes da minha formação. Tem muita coisa para retratar. Até já tenho a idéia na minha cabeça", afirma.
E, apesar da paixão por Machado e outros clássicos da literatura brasileira, garante: não vai deixar tão cedo as histórias em quadrinhos. "Não tenho vontade de escrever um romance. Mesmo nas artes plásticas, que achava que eram o meu lance, sentia que me faltava alguma coisa, que as histórias em quadrinhos trouxeram. Casou legal. Sinto que é totalmente esse o meu caminho."


AMANA - AO DEUS DARÁ. Autora: Edna Lopes. Lançamento: Casa da Palavra. Quanto: R$ 31 (120 págs.).


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