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HQ
Edna Lopes quer abrir espaço para autoras mulheres
"Amana" lança olhar feminino sobre as histórias em quadrinhos
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pouquíssimas mulheres no Brasil são conhecidas por suas histórias em quadrinhos. Edna Lopes,
41, quer mudar esse cenário.
Com lançamento previsto para
maio, "Amana - Ao Deus Dará" é
provavelmente a primeira "graphic novel" escrita e desenhada
por uma artista brasileira.
Conta a história de uma menina
órfã, criada pela avó,
que viaja pelo país em
busca de seus pais verdadeiros (provavelmente uma índia e um
branco desconhecido).
No caminho, aproveita para falar de tráfico
de crianças, prostituição infantil e, por que
não, de amizades.
"Acho que falta um
olhar feminino nas histórias em quadrinhos.
Nos EUA tem algumas,
como a Jessica Abe,
mas na Europa e no
Brasil a gente não vê
muito isso. O homem,
mesmo que escreva no
feminino, nunca vai ser
igual à mulher. É legal
que exista essa diferença", defende a autora.
Com formação em
jornalismo e uma queda pelas artes plásticas,
Lopes conta que, até
pouco tempo, "não
sentia muita atração
pelas HQs". "Preferia literatura, Machado de Assis.
Achava quadrinho meio bobo",
lembra ela, que só foi se converter
quando conheceu a coleção de
quadrinhos europeus e underground americana de seu marido,
o músico Ed Motta.
"O livro que mudou a minha vida foi um quadrinho belga, "S.O.S.
Meteoros", de Edgar Pierre Jacobs. Aquelas cores, aqueles desenhos absurdos, em cada página
que você vira tem uma aventura
acontecendo", derrete-se.
Foi assim, influenciada pela nata da arte seqüencial européia e
americana e também pelo livro-reportagem "Meninas da Noite",
de Gilberto Dimenstein, colunista
da Folha, que Lopes resolveu tentar criar a sua própria HQ.
"Comecei a desenhar, queria fazer só para mim, mas o Ed falava
que estava ficando muito bom e
começou a me incentivar. Ficava
meio na paúra, achando que não
ia conseguir. Faltava um gancho",
lembra ela. "Num dia, estava de
bobeira passando um café e, de
repente, a história toda veio à minha cabeça."
A idéia inicial, segundo Lopes,
era fazer uma história de terror
usando uma personagem feminina como protagonista e o Brasil
como cenário. "Queria mostrar as
diferenças que existem neste país.
As gírias, o jeito das pessoas, é tudo completamente diferente de
um Estado para outro", afirma
ela, com conhecimento de causa.
Além de acompanhar há mais
de dez anos as turnês de seu marido, Lopes nasceu em Curitiba,
mudou-se ainda pequena para
Porto Alegre, passou a adolescência e a juventude em São Paulo e,
depois de casar, mudou-se para o
Rio de Janeiro, onde mora hoje.
Apesar de não ser exatamente
autobiográfica, a autora reconhece algumas semelhanças entre sua
vida e a de Amana, personagem
central da "graphic novel". "Sou
uma pessoa que venho de vários
Estados, passei por dificuldades
na infância. Apesar
de ela ser do Norte e
de eu ser do Sul,
Amana tem esse negócio meio nômade
que a minha família
tinha."
Dependendo do
desempenho de sua
heroína nas livrarias,
Lopes pretende, no
futuro, desenhar novas histórias com a
personagem. O destino é São Paulo, que,
neste volume, aparece apenas nas primeiras páginas da história, por intermédio
de um ladrão e de um
pastor evangélico na
estação da Luz.
"Aqueles [que viveu em SP] foram os
anos mais importantes da minha formação. Tem muita coisa
para retratar. Até já
tenho a idéia na minha cabeça", afirma.
E, apesar da paixão
por Machado e outros clássicos da
literatura brasileira, garante: não
vai deixar tão cedo as histórias em
quadrinhos. "Não tenho vontade
de escrever um romance. Mesmo
nas artes plásticas, que achava que
eram o meu lance, sentia que me
faltava alguma coisa, que as histórias em quadrinhos trouxeram.
Casou legal. Sinto que é totalmente esse o meu caminho."
AMANA - AO DEUS DARÁ. Autora: Edna
Lopes. Lançamento: Casa da Palavra.
Quanto: R$ 31 (120 págs.).
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