São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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"O melhor é levar as fotos ao limite"

Para Terry Richardson, fazer um trabalho comercial com características ousadas "excita", mas o que é chocante demais "perde a graça"

Fotógrafo recebe centenas de e-mails de pessoas que querem fazer parte de seu universo; moda é diversão e "paga as contas", diz


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Leia, a seguir, a continuação da entrevista com o fotógrafo Terry Richardson. (EVA JOORY)

 

FOLHA - Sua intenção, quando fotografa, é chocar?
TERRY RICHARDSON -
Claro que sim. O mais interessante em um trabalho de publicidade ou editorial de moda é levar as fotos até o limite e, ainda assim, vê-las publicadas. Por isso não trabalho em revistas pornográficas. É tudo tão igual que perde a graça. De nada adianta fazer algo chocante demais e não poder ser publicado. Eu quero que minhas fotos sejam vistas pelo maior número possível de pessoas. O excitante é fazer um trabalho comercial com características ousadas. O segredo está em saber dosar.

FOLHA - Como funciona seu trabalho? As pessoas lhe pedem para ser fotografadas, se oferecem?
RICHARDSON -
Sim, e isso é o mais legal. Tenho um site [terryrichardson.com] no qual recebo centenas de e-mails de gente se oferecendo, casais, garotas, mulheres grávidas, homens, velhos, jovens, todos querendo fazer parte do "universo Terry".

FOLHA - O que o atrai na moda?
RICHARDSON -
É divertido. Gosto de roupas, mas gosto também de mostrar moda sob o meu olhar. É showbusiness. E paga as minhas contas.

FOLHA - Como as pessoas no universo da moda e da publicidade tratam seu trabalho? Eles censuram ou exercem alguma forma de controle?
RICHARDSON -
Sim, eles falam, "não vá longe demais", mas há também aqueles que dizem "achei que fosse ser mais do que isso". Quando faço algo mais romântico, eles querem mais sexo; é engraçado isso. Quero fazer fotos que façam as pessoas parar e olhar, e, com isso, prestar atenção na marca. É muito dinheiro que se gasta para algo tão descartável, um assunto para o qual poucos ligam.

FOLHA - O que o sr. vai mostrar no livro sobre o Rio?
RICHARDSON -
Vou deixar o fator surpresa tomar conta. Não gosto de pensar muito no trabalho com antecedência. Como não conheço as pessoas, deixo acontecer.

FOLHA - O que as pessoas esperam do sr.? O sr. acha que vai conseguir mostrar uma cidade e seus personagens de forma diferente da de outros fotógrafos?
RICHARDSON -
As pessoas não sabem o que esperar de mim. Muitas vezes, ficam com medo de tirar a roupa. Mas o que todos querem é uma interpretação forte, uma imagem poderosa. Quero ser espontâneo, mas fico nervoso com o fator surpresa, se vou conseguir boas imagens. Isso me assusta. Tenho como referência o trabalho incrível do Alair Gomes e o de Shininyoya, um japonês que documentou o Rio nos anos 70.

FOLHA - O sr. já disse que trabalha com emoções. Como isso funciona em uma atmosfera tão sexualmente explícita?
RICHARDSON -
Tento estabelecer uma conexão com o personagem, e isso não é sempre fácil. É o que acontece na moda, porque se trabalha com gente que não se conhece.

FOLHA - De onde vêm suas idéias?
RICHARDSON -
Já foram bastante cinematográficas, mas agora são tiradas do noticiário de jornal. A fotografia documental é inspiradora porque é espontânea. Eu tento ser aberto ao novo. Sou como uma esponja, absorvo tudo o que vejo.


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