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Crítica/"Proibido Proibir"
Jovem trio enfrenta as contradições do Brasil
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Triângulos amorosos em
que dois grandes amigos se apaixonam pela
mesma mulher são recorrentes
no cinema. O caso clássico é
"Jules e Jim", de François
Truffaut. Na filmografia brasileira recente, temos "Cidade
Baixa", de Sérgio Machado, e
agora "Proibido Proibir".
Não é nisso, portanto, que reside a originalidade do filme de
Jorge Durán, e sim no seu enfoque de um dos grandes temas,
se não o único, do cinema nacional: os impasses da classe
média diante das contradições
sociais do país.
Os três protagonistas são estudantes de uma universidade
pública do Rio de Janeiro. Leon
(Alexandre Rodrigues, o Buscapé de "Cidade de Deus") estuda
sociologia. Sua namorada, Letícia (Maria Flor), arquitetura. E
seu amigo e companheiro de
apartamento Paulo (Caio Blat)
faz medicina.
Na hora de colocar à prova os
conhecimentos adquiridos no
campus, cada um deles tem um
rico corpo-a-corpo com a cidade do Rio e, por extensão, com o
Brasil. E os três acabarão envolvidos numa situação crítica
quando o filho de uma paciente
pobre de Paulo é jurado de
morte por policiais corruptos.
"É proibido proibir", como se
sabe, foi um dos slogans da rebelião estudantil de maio de
1968 na França e também título
de uma polêmica canção de
Caetano Veloso. O mote aponta
para a liberdade absoluta, para
a subversão de todas as normas
repressivas.
"Proibido Proibir", o filme,
articula esse desejo transgressivo à necessidade de ação social responsável.
Movidos por esse duplo influxo, os jovens do filme são um
pouco como nós, veteranos,
gostaríamos que todos fossem
(idealizando, talvez, nossa própria juventude perdida): generosos, apaixonados, belos.
Trio talentoso
A trama é muito bem construída, as situações são convincentes e os atores, não apenas o
trio protagonista, defendem
seus personagens com garra,
em especial Caio Blat, que se
afirma como um dos grandes
talentos da nova geração.
Merece destaque também a
maneira como Durán captou a
geografia carioca. Na contramão da maioria dos filmes rodados no Rio, "Proibido Proibir" praticamente passa ao largo da orla da zona sul e dos
morros favelizados, espraiando-se entre o centro e os subúrbios "planos" da zona norte e
destacando (graças à carreira
de Letícia) marcos da arquitetura urbana, como a igreja da
Penha e o edifício Capanema.
O final em aberto, que não
convém revelar aqui, é pleno de
significado afetivo e político,
sobretudo quando, já sobre os
créditos, a voz roufenha de Nelson Cavaquinho canta o clássico samba "Juízo Final".
Chileno radicado no Brasil
desde 1973, Jorge Durán, roteirista de alguns de nossos filmes
mais importantes, retorna à direção duas décadas depois de
seu outro único longa, "A Cor
do Seu Destino" (1986). Cabe
esperar que "Proibido Proibir",
premiado nos festivais de Biarritz e Havana, seja o início de
uma nova e vigorosa fase.
PROIBIDO PROIBIR
Direção: Jorge Durán
Produção: Brasil, 2006
Com: Caio Blat, Maria Flor, Alexandre Rodrigues
Onde: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Sala UOL e circuito
Avaliação: bom
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