São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Crítica/"Proibido Proibir"

Jovem trio enfrenta as contradições do Brasil

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Triângulos amorosos em que dois grandes amigos se apaixonam pela mesma mulher são recorrentes no cinema. O caso clássico é "Jules e Jim", de François Truffaut. Na filmografia brasileira recente, temos "Cidade Baixa", de Sérgio Machado, e agora "Proibido Proibir".
Não é nisso, portanto, que reside a originalidade do filme de Jorge Durán, e sim no seu enfoque de um dos grandes temas, se não o único, do cinema nacional: os impasses da classe média diante das contradições sociais do país.
Os três protagonistas são estudantes de uma universidade pública do Rio de Janeiro. Leon (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de "Cidade de Deus") estuda sociologia. Sua namorada, Letícia (Maria Flor), arquitetura. E seu amigo e companheiro de apartamento Paulo (Caio Blat) faz medicina.
Na hora de colocar à prova os conhecimentos adquiridos no campus, cada um deles tem um rico corpo-a-corpo com a cidade do Rio e, por extensão, com o Brasil. E os três acabarão envolvidos numa situação crítica quando o filho de uma paciente pobre de Paulo é jurado de morte por policiais corruptos.
"É proibido proibir", como se sabe, foi um dos slogans da rebelião estudantil de maio de 1968 na França e também título de uma polêmica canção de Caetano Veloso. O mote aponta para a liberdade absoluta, para a subversão de todas as normas repressivas.
"Proibido Proibir", o filme, articula esse desejo transgressivo à necessidade de ação social responsável. Movidos por esse duplo influxo, os jovens do filme são um pouco como nós, veteranos, gostaríamos que todos fossem (idealizando, talvez, nossa própria juventude perdida): generosos, apaixonados, belos.

Trio talentoso
A trama é muito bem construída, as situações são convincentes e os atores, não apenas o trio protagonista, defendem seus personagens com garra, em especial Caio Blat, que se afirma como um dos grandes talentos da nova geração.
Merece destaque também a maneira como Durán captou a geografia carioca. Na contramão da maioria dos filmes rodados no Rio, "Proibido Proibir" praticamente passa ao largo da orla da zona sul e dos morros favelizados, espraiando-se entre o centro e os subúrbios "planos" da zona norte e destacando (graças à carreira de Letícia) marcos da arquitetura urbana, como a igreja da Penha e o edifício Capanema.
O final em aberto, que não convém revelar aqui, é pleno de significado afetivo e político, sobretudo quando, já sobre os créditos, a voz roufenha de Nelson Cavaquinho canta o clássico samba "Juízo Final".
Chileno radicado no Brasil desde 1973, Jorge Durán, roteirista de alguns de nossos filmes mais importantes, retorna à direção duas décadas depois de seu outro único longa, "A Cor do Seu Destino" (1986). Cabe esperar que "Proibido Proibir", premiado nos festivais de Biarritz e Havana, seja o início de uma nova e vigorosa fase.


PROIBIDO PROIBIR
Direção:
Jorge Durán
Produção: Brasil, 2006
Com: Caio Blat, Maria Flor, Alexandre Rodrigues
Onde: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Sala UOL e circuito
Avaliação: bom


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