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Banda reproduz Beatles na íntegra
Grupo cover em atividade há 27 anos, Beatles4Ever recomeça projeto The Complete Works hoje, em São Bernardo
Com 56 guitarras e uma peruca, Marcus Rampazzo, nosso George Harrison, lidera banda que reencarna o quarteto da Liverpool
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
Reza uma lenda do rock que,
se você se separar da sua mulher e, na divisão do espólio, ela
lhe deixar o "Álbum Branco"
dos Beatles, significa que ela
ainda te ama. Eis uma boa razão, mas não a única, para ficar
atento quando o Beatles 4Ever,
um dos covers mais antigos em
atividade no país -27 anos-,
resolve subir ao palco para tocar o "Álbum Branco".
A outra razão é que o show,
que aconteceu anteontem no
Crowne Plaza, faz parte de um
projeto cartesiano e bizarro: 1)
reproduzir todos os discos dos
Beatles; 2) em ordem cronológica; 3) com as canções na seqüência original em que aparecem nos vinis; 4) um álbum por
mês, totalizando 16 espetáculos, iniciados em janeiro de
2006; 5) nota por nota, sem intervenções interpretativas.
O grande responsável pelo
projeto The Beatles Complete
Works (obra completa dos Beatles) é um professor de música
bem-humorado chamado Marcus Rampazzo. Fundador e
único remanescente original
do Beatles 4Ever, Rampazzo é o
nosso George Harrison.
Rampazzo é um homem modesto e demora mais de meia
hora para revelar seu trunfo:
em 1989, fez chegar ao George
Harrison real uma fita em que
tocava canções do ídolo. Inicialmente, Harrison achou que
fosse ele próprio tocando. Impressionado com a semelhança, gravou uma mensagem de
elogio ao brasileiro, que pode
ser ouvida no site da banda:
www.beatles4ever.com.br.
Além do elogio, Rampazzo
possui um estúdio de gravação
e um museu com 56 guitarras
iguais às do beatle, junto de sua
escola de música na Mooca (tel.
0/xx/11/6604-8090). Tem ainda, aos 52, uma peruca de cabelos naturais. "Tive que fazer no
ano passado para os shows, sabe como é..."
Rampazzo é um homem modesto, mas está cansado. Tem
inúmeras reclamações a respeito do projeto em que se meteu: "Veja só, um músico clássico pode ler partituras. Eu tenho
que decorar os discos nota por
nota e ainda saber as letras. É
injusto". "Nosso Paul anterior
não agüentou. Achou loucura.
O espaço de um mês entre cada
álbum é curto; é cruel."
"Depois que terminar o "Abbey Road", ainda tem os "Past
Masters" [duas coletâneas de
compactos e raridades], os
shows de número 15 e 16. Estou
relutando... Acho que não vou
fazer. Não quero fazer", parece
resolver, de supetão.
Quatro Johns
Rampazzo é um homem modesto e está cansado; por isso,
anda se irritando com Ringo
Starr. Porque, ao contrário dos
Beatles ingleses, no Beatles
4Ever quem manda é George
Harrison e Ringo Starr.
Lennon e McCartney são
marinheiros de primeira viagem, uma vez que a banda já teve quatro Johns e quatro Pauls.
Já nosso Ringo Starr, também
conhecido como Ricardo Felício, está no 4Ever desde os primórdios, ainda que sua atuação
nos distantes anos 80 tenha sido como roadie, carregando
amplificadores e afinando guitarras. Foi dele a concepção do
Complete Works, e nosso Ringo, deve-se dizer, é purista.
Puristas, a bem da verdade,
todos eles são. Rampazzo mostra como: "Vi recentemente na
TV uma apresentação do Paul
McCartney nos EUA. Ele deixou o guitarrista inventar um
solo para "Let It Be". Um solo ridículo! Rolei de ódio no sofá!".
Mas há níveis diferentes de
purismo, e o de George é diferente do de Ringo. "Por causa
do purismo, não é permitido
nos arranjos do Beatles 4Ever
mudarmos sequer uma nota",
brada Rampazzo. "Mas o músico acaba colocando um pouquinho da sua interpretação.
Quando percebemos isso, temos que voltar atrás, matar a
própria personalidade e imitar
o original. É chato; é uma doença", resigna-se.
Informação secreta
Rampazzo é modesto, está
cansado e até se irrita, mas é,
acima de tudo, um homem honesto. Pois olhe só: "Meu solo
preferido no "Álbum Branco" é
o de "Honey Pie". Me lembra
Django Reinhardt e estava louco para tocá-lo ao vivo, mas é aí
que mora o perigo. Fui aos livros e descobri que quem tocou
na gravação foi o John, não o
George. Temos que fazer exatamente como os originais. Por
isso, eu não poderia tocar".
"Então pensei em esconder
essa informação. Porque, veja
bem, o Fabio [Colombini, nosso John] não é tão beatlemaníaco. Se ele tiver um livro dos
Beatles em casa, é muito. Eu tenho mais de cem! Só de discos
piratas, tenho 80! Sem falar nas
minhas guitarras e nos sete pianos e teclados iguais aos dos
Beatles. Enfim, resolvi mentir."
Mas quando chegou a hora da
reunião, você acha que o nosso
George teve coragem? "Não tive. Perguntaram quem tocava o
solo e eu contei...".
Anteontem, portanto, quem
solou lindamente em "Honey
Pie" foi o John. E se você perdeu o "Álbum Branco" (1968) e
outros clássicos, como "Sgt.
Pepper's" (1967), "Revolver"
(1966) e "Rubber Soul" (1965),
há uma boa notícia. A banda
reinicia hoje todo o Complete
Works, agora em São Bernardo
do Campo, com o primeiro disco da banda "Please Please Me"
(1963). O projeto será apresentado mensalmente no Teatro
Lauro Gomes (r. Londrina com
r. Helena Jacquey, Rudge Ramos, tel.: 0/xx/11/4368-3483).
Para além do Complete
Works, O Beatles 4Ever vai
apresentar o "Magical Mistery
Tour" (1967) na Virada Cultural em Sampa, em um palco
montado na Rua Barão de Itapetininga, às 6h da manhã do
próximo dia 6. E tem mais: no
dia 19 de maio, os Beatles brasileiros animam um jantar dançante na churrascaria Costela
Brasileira, em Guarulhos.
Sobre esse assunto tabu,
Rampazzo tem uma frase pronta que mostra que ele não é só
modesto, cansado, irritável e
honesto. A frase prova que
Rampazzo também é um homem realista: "Quando você vê,
está cheirando picanha. É, amigo, o sonho acabou mesmo".
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