São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Televisão/Crítica

Sabedoria soa falsa na boca de Stallone

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Rocky Balboa, o velho Rocky, hoje não luta mais. Visita o túmulo da mulher, recebe os clientes em seu restaurante e, sobretudo, é pródigo na distribuição de sabedoria pugilística.
É com o saber de quem esteve lá, nos ringues, que explica ao filho que o mundo é um lugar duro, e que nele bater é menos importante do que saber apanhar. Essa é a pérola de seus ensinamentos, e não seria nada má -pois conectada à mitologia do boxe como "nobre arte"- se estivesse na boca de outro que não Sylvester Stallone. Mas Rocky é ele: força, moçada.
O filme se divide em dois. Na primeira parte, as lições de Rocky: ao filho, à namorada sem graça, ao filho da namorada. Quem passar por perto ouvirá bons conselhos. Mas não acontece nada. Parece filme de Antonioni sem Antonioni.
Depois, a segunda parte: uma luta de boxe entre o atual campeão mundial e Rocky. Trata-se de um combate filosófico: Rocky tem de enfrentar um desafio a mais etc. Mas aí ninguém acredita. Assim como as pílulas de sabedoria soam falsas na boca de Stallone, sua luta seria mais ou menos como se Pelé enfrentasse Ronaldinho.
Ninguém duvida que Pelé era melhor. Mas o tempo não dá moleza a ninguém. Pode-se argumentar que a série foi construída, sempre, sobre o inverossímil. Ok. Mas ao menos no início guardava um elo com o chamado "mundo real". Já "Rocky Balboa" (TC Pipoca, 20h) é quase tão abstrato quanto uma página de Spinoza.


Texto Anterior: Bia Abramo: A propaganda e o mundo irreal
Próximo Texto: Ferreira Gullar: Porque a vida é pouca
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.