|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Televisão/Crítica
Sabedoria soa falsa na boca de Stallone
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Rocky Balboa, o velho Rocky,
hoje não luta mais. Visita o túmulo da mulher, recebe os
clientes em seu restaurante e,
sobretudo, é pródigo na distribuição de sabedoria pugilística.
É com o saber de quem esteve lá, nos ringues, que explica
ao filho que o mundo é um lugar duro, e que nele bater é menos importante do que saber
apanhar. Essa é a pérola de seus
ensinamentos, e não seria nada
má -pois conectada à mitologia do boxe como "nobre arte"- se estivesse na boca de outro que não Sylvester Stallone.
Mas Rocky é ele: força, moçada.
O filme se divide em dois. Na
primeira parte, as lições de
Rocky: ao filho, à namorada
sem graça, ao filho da namorada. Quem passar por perto ouvirá bons conselhos. Mas não
acontece nada. Parece filme de
Antonioni sem Antonioni.
Depois, a segunda parte: uma
luta de boxe entre o atual campeão mundial e Rocky. Trata-se
de um combate filosófico:
Rocky tem de enfrentar um desafio a mais etc. Mas aí ninguém acredita. Assim como as
pílulas de sabedoria soam falsas na boca de Stallone, sua luta
seria mais ou menos como se
Pelé enfrentasse Ronaldinho.
Ninguém duvida que Pelé era
melhor. Mas o tempo não dá
moleza a ninguém. Pode-se argumentar que a série foi construída, sempre, sobre o inverossímil. Ok. Mas ao menos no
início guardava um elo com o
chamado "mundo real". Já
"Rocky Balboa" (TC Pipoca, 20h) é quase tão abstrato quanto uma página de Spinoza.
Texto Anterior: Bia Abramo: A propaganda e o mundo irreal Próximo Texto: Ferreira Gullar: Porque a vida é pouca Índice
|