São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Desenhos de J. Carlos voltam em versão digital

Site reúne edições das revistas "O Malho" e "Para Todos" publicadas de 1922 a 1930

Acervo virtual contém 58 mil páginas, que servem de crônica visual da década de 20; projeto também lançou dois livros sobre o autor


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um precioso arquivo dos costumes e da cultura brasileira nas primeiras décadas do século 20 está ao alcance de alguns cliques na internet desde o fim de março. Abrigado no portal Memória Gráfica Brasileira (memoriagraficabrasileira.org), o site jotacarlos.org permite folhear todas as edições das revistas cariocas "O Malho" e "Para Todos" publicadas entre 1922 e 1930, período em que a direção artística ficou a cargo do cartunista e designer José Carlos de Brito e Cunha, o J. Carlos (1884-1950).
Ao todo, são 58 mil páginas digitalizadas, a partir dos exemplares vindos da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, ou doados por Eduardo Augusto de Brito e Cunha, filho de J. Carlos.
Patrocinado pela Petrobras, o projeto custou R$ 296 mil e foi executado entre 2005 e 2007 pela fotógrafa, professora da PUC-Rio e designer Julieta Sobral e pelo caricaturista Cássio Loredano. Todo o material digitalizado foi doado à Biblioteca Nacional.
A digitalização não teve só o objetivo de preservar o acervo -naturalmente comprometido por conta da curta vida útil do papel jornal, em que boa parte das revistas foi impressa-, mas também o de possibilitar o acesso a seu conteúdo, já que o material somente podia ser visto, com limitações cromáticas, por meio de microfilmes, na Biblioteca Nacional.

Foliões e melindrosas
Também autor de textos para o teatro de revista, letrista de samba e escultor, J. Carlos se tornou célebre pela vasta galeria de personagens que criou, não somente para "O Malho" e "Para Todos", mas também para as revistas "O Tico Tico", "Fon-Fon" e "O Cruzeiro", entre outras. O site traz alguns exemplos desses desenhos de J. Carlos, como políticos, sambistas, foliões e melindrosas.
Segundo Julieta Sobral, o curioso banco de dados das revistas revela também alguns costumes de consumo daqueles nove anos, desde como as pessoas se vestiam e o que comiam até as músicas que ouviam, o que liam e o que viam no teatro ou no cinema.
"Ambas as revistas são uma crônica visual dos anos 20. Mas pode-se dizer que "O Malho" era mais "masculina", porque se voltava mais para a política e o esporte, enquanto a "Para Todos" era mais "feminina", abordando temas como teatro, culinária e moda", diz Sobral, que ressalta, além dos desenhos, a sofisticação da diagramação e da tipografia das revistas.
Todo o acesso ao site é gratuito, para qualquer visitante. No entanto, alguns dos recursos de navegação do banco de dados, como busca por palavras-chave, armazenamento de páginas e anotações, são limitados a usuários cadastrados.

Mais livros
O projeto de recuperação dos trabalhos de J. Carlos foi complementado com o lançamento de dois títulos, já à venda nas livrarias: "O Vidente Míope" (R$ 59; 278 págs.), com organização de Cássio Loredano e texto do historiador e professor Luiz Antonio Simas; e "O Desenhista Invisível" (R$ 52; 200 págs.), com análise de Sobral sobre sua atuação como designer gráfico. Os dois livros foram editados pela Folha Seca.
De acordo com Sobral, em breve outras vertentes do trabalho do artista também serão digitalizadas e virarão livros, como "J. Carlos na Publicidade" e "J. Carlos para Crianças".


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