São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2011

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Livro revela afinidade de Drummond com a música

Obra reúne cartas do poeta para o compositor Hermínio Bello de Carvalho

Correspondências são complementadas com artigos de jornal, fotos, manuscritos e memorandos

MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

A relação entre o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o compositor e produtor musical Hermínio Bello de Carvalho não pode ser qualificada como estreita.
Eles se encontraram pela primeira vez na década de 1950 e, desde então, tiveram contatos furtivos, quase sempre com uma distância respeitosa entre o jovem compositor e o aclamado poeta.
A troca de correspondência entre os dois, reunidas no livro "Áporo Itabirano", resume-se também a um conjunto restrito de cartas, mais extensas por parte de Carvalho, respondidas por Drummond na forma de bilhetes ou poemas manuscritos.
O próprio compositor reconhece que mais interessante que as cartas é o que está ao redor delas.
De fato, parte da relevância do livro e está em revelar a proximidade de Drummond e de seu grupo com a música.
Para isso, apresenta uma farta documentação que inclui artigos de jornal, fotos, manuscritos e memorandos. Ao "Jornal do Brasil" o poeta disse certa vez : "Bandeira tocava violão e piano.
Sabia tudo sobre violão (...). Murilo [Mendes] era um obcecado. Ouvia Mozart com a cabeça entre as mãos, imóvel, como se meditando profundamente. Mário de Andrade teria sido um grande pianista. Ficou muito abalado com a morte de um irmão, as mãos tornaram-se trêmulas, afetou irremediavelmente sua técnica".
Drummond, por sua vez, era admirador do maxixe. "É a alegria dos corpos, em ritmo lascivo", escreveu em crônica. Também gostava de Paulinho da Viola e Martinho da Vila, e nutria paixão por Cartola. Escreveu no "JB", em 1980: "Cartola sabe sentir com a suavidade dos que amam pela vocação de amar, e se renovam amando".
Os poucos encontros com Carvalho ajudaram a aproximar Drummond da música. Foi o compositor quem apresentou o poeta a Tom Jobim, uma relação que, embora não muito assídua, rendeu também uma interessante correspondência.
Pelas cartas e documentos, vê-se que a participação do poeta foi fundamental para a realização do espetáculo "Mário Trezentos, 350", projeto da Funarte idealizado por Carvalho quando trabalhava no órgão.
O show, que também virou CD, hoje fora de catálogo, comemorava os 90 anos de Mário de Andrade com músicas resgatadas ou compostas pelo escritor paulistano, como "Viola Quebrada".
Dois anos antes de morrer, Drummond enviou a Carvalho um bilhete carinhoso: "Com abraços do octogenário para o menino cinquentenário a quem a gente não se cansa de admirar, pois está sempre surpreendendo com belas coisas".

ÁPORO ITABIRANO

AUTORES Carlos Drummond de Andrade e Hermínio Bello Carvalho
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 130 (368 págs.)


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