São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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ESTILO
Evento acontece hoje à noite, em São Paulo, somente para convidados
Jô Soares lança charutos, que vivem novo boom

JOSIMAR MELO
Colunista da Folha

Hoje à noite Jô Soares vai ser a estrela de mais um lançamento -mas, desta vez, não de outro livro best seller.
O produto agora é uma linha de charutos, produzidos nas ilhas Canárias com sementes cubanas e rotulados com o nome do apresentador de TV.
Charutos? Não chega a ser uma notícia bizarra, nos dias de hoje, que o nome de um figurão da mídia seja associado a um produto aparentemente tão elitizado.
Na verdade ele faz parte de nossa história há muito tempo. Desde que os europeus chegaram ao continente que chamariam de América, o charuto esteve presente em nosso solo.
Na expedição de Cristóvão Colombo de 1492, que chegou ao continente que ele acreditou ser a ilha do Japão, os primeiros indígenas avistados em Cuba foram considerados semelhantes a "homens-chaminés": portavam bastões fumarentos -e, segundo os relatos de Rodrigo de Jerez, engoliam fumaça e a soltavam pelas ventas.

Livros
Está certo que, se na obra de Machado de Assis do começo do século todos os cavalheiros sacavam com naturalidade seus charutos após o almoço das dez horas da manhã, hoje em dia pode tal gesto pode ser menos natural. Mas não chega a ser estranho que se fume charutos no Brasil de hoje.
O lançamento da marca Jô Soares é um sintoma disso, mas não o único: livros sobre o tema vêm sendo lançados em português -como "O Mundo do Havana", dos venerandos comerciantes suíços Gérard Père et Fils (editora Ática), no ano passado, e o mais recente "O Pequeno Livro do Charuto", de Marvin Shanken (editora DBA).
Este último é um dos símbolos do "revival" da moda charuteira nos Estados Unidos -com automáticos reflexos nesta colônia onde vivemos.
Considerando-se a onda moralista e conservadora que assola os Estados Unidos, Shanken conseguiu um feito prodigioso.
Dono de uma editora de revistas "pecaminosas" como a "Wine Spectator" (que divulga o etílico prazer do vinho), ele lançou em 1992 uma revista voltada para os amantes dos charutos, a "Cigar Aficionado".
Um sucesso escandaloso. A revista não somente atingiu em poucos meses a marca de 400 mil exemplares de venda (em cem países), como também bateu todos os recordes de volume de publicidade (em torno de temas masculinos) ao longo das mais de 400 páginas de cada uma de suas pesadas edições.
Habitual apreciador dos charutos cubanos -os melhores do mundo, quando produzidos no diminuto e miraculoso vale de Vuelta Abajo-, Jô Soares empresta seu nome à divulgação da cultura charuteira dentro de um esquema de marketing que vem de longe.
Os charutos são produzidos por uma empresa americana já habituada a produzir linhas com nomes de personalidades como os astros de Hollywood.
Feitas nas ilhas Canárias, as quatro bitolas (entre elas churchill e robusta) são produzidas com sementes cubanas.
Serão lançadas com grande pompa, hoje à noite, somente para convidados, na cervejaria Jardineira Beer.
E virão acompanhadas de vários outros itens (como cortadores e caixas umidificadas) que ajudam a manter a mística que envolve, como as volutas de fumaça, o hábito cada vez mais disseminado e chique de fumar um bom charuto.

Livro: O Pequeno Livro do Charuto Autor: Marvin R. Shanken Lançamento: DBA Quanto: R$ 39 (208 págs.)


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