São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2005

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POP/ROCK

"Toda Cura para Todo Mal" traz 13 canções inéditas do grupo mineiro

Após via-crúcis, Pato Fu lança álbum com pop mais lapidado

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O oitavo álbum do Pato Fu poderia ter saído pela antiga BMG, pela EMI, pela Warner ou até por um selo independente, sem qualquer vínculo com a major. Porque antes de "Toda Cura para Todo Mal" ganhar a chancela da Sony BMG, o grupo mineiro enfrentou uma verdadeira via-crúcis.
"Saímos da BMG e recebemos o convite do Jorge Davidson para irmos para a EMI", conta John Ulhoa, 39, principal compositor do grupo. Davidson atuou como diretor artístico da BMG durante quase todo o tempo em que o Pato Fu esteve na casa. "Negociamos o novo contrato com a EMI e, com a caneta na mão para assiná-lo, Jorge foi substituído. Até conversamos com a nova direção, mas tudo tinha mudado, era uma outra linha de trabalho."
O grupo procurou então o diretor artístico da Warner. "Começamos a conversar com o Tom Capone, que era um cara com quem já pensávamos em trabalhar. Mas, outra vez, quando estávamos às vésperas de assinar, aconteceu aquela fatalidade." John acrescenta que, após a morte de Capone no ano passado, o grupo ainda ouviu propostas de outras gravadoras até optar pela produção independente.
"Toda Cura" foi inteiramente gravado em Belo Horizonte, no estúdio caseiro de John e Fernanda Takai, sem ajuda de ninguém que não fosse da banda. "Eu fui a cozinheira, o Ricardo [Koctus, baixista], o fotógrafo... Até como roadies trabalhamos", diz Takai, 33, que canta em dez das 13 faixas.
Com o álbum pronto e prestes a encarar o mercado independente, a banda recebeu uma proposta da Sony BMG. A gravadora se responsabilizará pela distribuição e pelo marketing, mas não ficará com as fitas originais nem poderá interferir no ousado plano de divulgação bolado pelos integrantes. "Música de trabalho nunca funcionou para a gente", avalia Takai. "Decidimos rodar um clipe para cada faixa do disco. Todo mês, um clipe novo, dirigido por um diretor diferente, estreará em nosso site [www.patofu.com.br]. Oito já estão prontos."
Nunca a banda havia passado tanto tempo sem lançar um trabalho de canções inéditas. "Ruído Rosa" saiu em 2001 e, de lá para cá, o Pato Fu gravou apenas um "Ao Vivo MTV" (2002). O especial serviu para introduzir um novo músico na formação: o tecladista Lulu Camargo, ex-Karnak. Sua presença é facilmente percebida no belíssimo cravo de "Anormal", faixa que abre o CD.
Em "O que É Isso?" e "Amendoim" podem ser encontradas referências ao nascimento de Nina, primeira filha do casal central. Mas John, autor de todas as músicas, nega ter sido influenciado pelo fato. Sua genialidade aparece em "Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié" (uma declaração de ateísmo em levada Jackson Five), "Simplicidade" (balada rural cantada com voz de robô), "Vida Diet" (soul orquestrado que remete a "Juxtapozed with U", do Super Furry Animals), "Estudar pra Quê?" (pesada provocação para cima da geração internet) e "Agridoce" (homenagem às canções de amor de Roberto e Erasmo Carlos).
O nível de experimentalismo não é dos mais altos em "Toda Cura". Em discos anteriores, o Pato Fu já foi mais instigante. O pop do grupo nunca esteve tão lapidado. Talvez não seja o que se espera de um CD "semi-independente". Mas é das melhores coisas que o rock nacional consegue produzir.


Toda Cura para Todo Mal
    Artista: Pato Fu Lançamento: Sony BMG Quanto: R$ 30, em média


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