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Parati vai receber a avó do "new journalism"
Lilian Ross, autora de "Filme", estará na festa literária, entre 9 e 13 de agosto
A jornalista veterana, que ainda escreve para a seção "Talk of the Town" da "New Yorker", trabalha num livro sobre atores de cinema
Sara Krulwich/New York Times
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Lilian Ross, 79, que participará de mesa com a mexicana Alma Guillermoprieto |
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Lillian Ross começou no jornalismo, nos anos 50,
usava um bloquinho espiral de
7,5 cm por 12,5 cm. E só. Hoje,
super-adaptada aos tempos
modernos, é possível "conversar" com essa simpática senhora de 79 anos por e-mail, ferramenta que ela deve manejar
habilmente, dada a rapidez
com que responde mensagens.
Foi por essa via que Ross falou com a Folha. A escritora virá para a 4ª Flip (Feira Literária Internacional de Parati) e
participará de um projeto ligado à sua editora no Brasil
(Companhia das Letras), mas
que ainda não foi revelado.
Ross é considerada uma das
fundadoras do chamado "new
journalism" (ou romance de
não-ficção), gênero que mistura narrativa jornalística com literária e que teve seu "boom"
ligado à revista norte-americana "The New Yorker". Ross foi
repórter da publicação e, quando tinha 25 anos, produziu para ela uma série de reportagens
que dariam origem a "Filme",
sua obra mais importante. Nela, a jornalista acompanha os
bastidores da filmagem de "A
Glória de um Covarde", de
John Huston, e a maneira cruel
como o filme foi despedaçado
pela máquina hollywoodiana.
A Flip acontece de 9 a 13 de
agosto, em Parati. A programação e as informações sobre os
ingressos ainda não foram divulgadas, mas mais um nome
de peso já está garantido, o argentino Ricardo Piglia (confira
lista abaixo).
FOLHA - Como foi "inventar" o
"new journalism"?
LILIAN ROSS- Quando comecei a
fazer a reportagem para "Filme", fiquei muito envolvida
com as pessoas sobre as quais
estava escrevendo. Eram como
personagens de ficção, e a ação
parecia novelística para mim.
Então escrevi uma carta para
meu editor, dizendo-lhe que
queria escrever a reportagem
como se ela fosse um romance.
Mas só quando o texto foi publicado é que os leitores perceberam o que eu tinha feito, pois
a história os envolveu da mesma maneira como aconteceria
caso se tratasse de um romance. Com o tempo, passaram a
dizer que aquilo era uma inovação em termos de não-ficção.
FOLHA - A sra. conheceu Truman
Capote?
ROSS - Conheci Capote nos
anos 50. Encontrei-o pela primeira vez na casa de Charlie
Chaplin, em Vevey, na Suíça, e
ele imediatamente começou a
me perguntar coisas sobre "a
maneira como eu escrevia", como tinha feito "Filme" e sobre
fazer relatos sobre a realidade
usando um formato ficcional.
Eu tinha descoberto desde
"Portrait of Hemingway"
(1950) que era muito divertido
e interessante usar diálogos,
mostrar a relação entre as pessoas por meio da maneira como
elas conversavam ou agiam.
FOLHA - Considera que ele tenha
sido um seguidor seu?
ROSS - Capote queria fama e
dinheiro. E, com um tanto de
autopromoção e publicidade,
ele passou a dizer que havia inventado o romance de não-ficção. Ele conseguiu o que queria,
fama e dinheiro. Eu sempre estive mais interessada no prazer
de escrever. Nunca pensei no
poder daquilo que estava fazendo. Isso ficou evidente pelos diversos níveis de compreensão e
apreciação dos leitores. Depois
vieram aqueles que se auto-proclamavam seguidores do
"new journalism".
FOLHA - Como eles são?
ROSS - Eles imitam os bons escritores, mas nunca realmente
entendendo ou gostando daquele trabalho. Eles estragaram tudo, porque tomaram liberdade com os fatos, descreveram o que as pessoas "pensaram" etc. Sempre acreditei que
era possível mostrar o que as
pessoas pensavam por suas palavras e ações. Acho que a
maior parte dos que usam jargões como "novelas de não-ficção" ou "new journalism" está
tentando se autopromover.
FOLHA - O que está fazendo agora?
ROSS - Mantenho minha colaboração para a seção "The Talk
of the Town" da "New Yorker"
e estou escrevendo um livro sobre atores que foram únicos para mim. Entre eles, Anthony
Hopkins, Anjelica Huston,
Bruce Willis, Robin Williams,
Frances McDormand, Clint
Eastwood, Edie Falco, Jessica
Lange e Sean Penn. Tento mostrar o que há de único em cada
ator e quais são os elementos
particulares que possuem para
fazer com que gostemos de assisti-los. Eu gosto de atores.
Admiro-os muito. Acho que são
os mais corajosos dos artistas.
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