São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parati vai receber a avó do "new journalism"

Lilian Ross, autora de "Filme", estará na festa literária, entre 9 e 13 de agosto

A jornalista veterana, que ainda escreve para a seção "Talk of the Town" da "New Yorker", trabalha num livro sobre atores de cinema

Sara Krulwich/New York Times
Lilian Ross, 79, que participará de mesa com a mexicana Alma Guillermoprieto


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Lillian Ross começou no jornalismo, nos anos 50, usava um bloquinho espiral de 7,5 cm por 12,5 cm. E só. Hoje, super-adaptada aos tempos modernos, é possível "conversar" com essa simpática senhora de 79 anos por e-mail, ferramenta que ela deve manejar habilmente, dada a rapidez com que responde mensagens. Foi por essa via que Ross falou com a Folha. A escritora virá para a 4ª Flip (Feira Literária Internacional de Parati) e participará de um projeto ligado à sua editora no Brasil (Companhia das Letras), mas que ainda não foi revelado. Ross é considerada uma das fundadoras do chamado "new journalism" (ou romance de não-ficção), gênero que mistura narrativa jornalística com literária e que teve seu "boom" ligado à revista norte-americana "The New Yorker". Ross foi repórter da publicação e, quando tinha 25 anos, produziu para ela uma série de reportagens que dariam origem a "Filme", sua obra mais importante. Nela, a jornalista acompanha os bastidores da filmagem de "A Glória de um Covarde", de John Huston, e a maneira cruel como o filme foi despedaçado pela máquina hollywoodiana. A Flip acontece de 9 a 13 de agosto, em Parati. A programação e as informações sobre os ingressos ainda não foram divulgadas, mas mais um nome de peso já está garantido, o argentino Ricardo Piglia (confira lista abaixo).  

FOLHA - Como foi "inventar" o "new journalism"?
LILIAN ROSS
- Quando comecei a fazer a reportagem para "Filme", fiquei muito envolvida com as pessoas sobre as quais estava escrevendo. Eram como personagens de ficção, e a ação parecia novelística para mim. Então escrevi uma carta para meu editor, dizendo-lhe que queria escrever a reportagem como se ela fosse um romance. Mas só quando o texto foi publicado é que os leitores perceberam o que eu tinha feito, pois a história os envolveu da mesma maneira como aconteceria caso se tratasse de um romance. Com o tempo, passaram a dizer que aquilo era uma inovação em termos de não-ficção.

FOLHA - A sra. conheceu Truman Capote?
ROSS
- Conheci Capote nos anos 50. Encontrei-o pela primeira vez na casa de Charlie Chaplin, em Vevey, na Suíça, e ele imediatamente começou a me perguntar coisas sobre "a maneira como eu escrevia", como tinha feito "Filme" e sobre fazer relatos sobre a realidade usando um formato ficcional. Eu tinha descoberto desde "Portrait of Hemingway" (1950) que era muito divertido e interessante usar diálogos, mostrar a relação entre as pessoas por meio da maneira como elas conversavam ou agiam.

FOLHA - Considera que ele tenha sido um seguidor seu?
ROSS
- Capote queria fama e dinheiro. E, com um tanto de autopromoção e publicidade, ele passou a dizer que havia inventado o romance de não-ficção. Ele conseguiu o que queria, fama e dinheiro. Eu sempre estive mais interessada no prazer de escrever. Nunca pensei no poder daquilo que estava fazendo. Isso ficou evidente pelos diversos níveis de compreensão e apreciação dos leitores. Depois vieram aqueles que se auto-proclamavam seguidores do "new journalism".

FOLHA - Como eles são?
ROSS -
Eles imitam os bons escritores, mas nunca realmente entendendo ou gostando daquele trabalho. Eles estragaram tudo, porque tomaram liberdade com os fatos, descreveram o que as pessoas "pensaram" etc. Sempre acreditei que era possível mostrar o que as pessoas pensavam por suas palavras e ações. Acho que a maior parte dos que usam jargões como "novelas de não-ficção" ou "new journalism" está tentando se autopromover.

FOLHA - O que está fazendo agora?
ROSS
- Mantenho minha colaboração para a seção "The Talk of the Town" da "New Yorker" e estou escrevendo um livro sobre atores que foram únicos para mim. Entre eles, Anthony Hopkins, Anjelica Huston, Bruce Willis, Robin Williams, Frances McDormand, Clint Eastwood, Edie Falco, Jessica Lange e Sean Penn. Tento mostrar o que há de único em cada ator e quais são os elementos particulares que possuem para fazer com que gostemos de assisti-los. Eu gosto de atores. Admiro-os muito. Acho que são os mais corajosos dos artistas.


Texto Anterior: Fábio de Souza Andrade: Pedros no caminho
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.