São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006

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"Vôo 93"/Crítica

Filme preenche lacunas dos ataques terroristas

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Cannes revisitou ontem aquele 11 de setembro de 2001, o marco zero da Era do Terror. Em projeção especial fora de concurso, o Palácio do Festival assistiu à première de "Vôo 93" ("United 93"), em que o britânico Paul Greengrass reconstitui os acontecimentos dentro do quarto avião seqüestrado por terroristas naquela manhã. A estréia brasileira será dia 1º de setembro.
Como todos vimos e revimos, dois aviões de passageiros foram arremessados contra o World Trade Center em Nova York, e outro, contra o Pentágono. O United 93 foi o único a não alcançar seu alvo. Caiu num campo na Pennsylvania, a caminho de Washington. A queda teria sido causada pela reação dos passageiros. Greengrass recria aqui esta história.
O roteiro foi desenvolvido a partir de entrevistas, de relatório oficial, de registros sonoros do que aconteceu na cabine do avião e das conversas telefônicas mantidas pelos passageiros com familiares. Greengrass preencheu as lacunas com bom senso e imaginação. A grande sacada é desenvolver a trama no presente, como se espiássemos pela buraco da fechadura dos céus. Nada do que se soube após aquela manhã de caos vem explicar a tragédia que se desenvolve frente a nossos olhos.
A narrativa concentra-se sobre os centros de comando aéreo e no interior do avião. Greengrass recorre pontualmente a imagens documentais e, quando o faz, as articula harmonicamente com a dramatização. Nada da realidade extrínseca ao episódio, seja do passado dos envolvidos ou do presente dele desconectado, ainda que fosse um presidente catatônico num banco escolar.
Havia riscos envolvidos. Um deles seria o projeto resultar num thriller macabro ou num "disaster movie" de mau gosto. Nada disso. "Vôo 93" é um eficaz drama de suspense em que acompanhar a jornada é mais importante que alcançar a conclusão. O recurso a intérpretes amadores dá credibilidade à reconstituição. Ao contrário da norma no cinema popular, o anonimato aqui acelera a identificação. "Vôo 93" é um tocante réquiem cinematográfico.


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